LA PAZ. Uma denúncia de genocídio feita por parlamentares da oposição contra o presidente Evo Morales foi entregue ao promotor-geral do Estado da Bolívia, Mario Uribe, na última sexta-feira e revelada ontem pela imprensa do país. Os parlamentares acusam Morales de agir violentamente contra os índios que marchavam em protesto à construção de uma estrada financiada pelo BNDES e que atravessa suas terras. Segundo o deputado Tomás Monasterio, do partido de direita Plano Progresso Bolívia – Convergência Nacional, a denúncia de genocídio é cabível, já que o código penal boliviano permite que o termo seja aplicado não só quando há mortes, mas também quando acontecem "lesões inumanas" e "deslocamentos violentos" de pessoas.
– Mulheres foram amordaçadas, meninos e homens foram golpeados… Por se tratar de uma intervenção policial, o presidente não atuou de acordo com a lei – disse o deputado à agência de notícias EFE. – Era sua obrigação proteger os direitos dos índios, o que não aconteceu.
A promotoria de Sucre, capital constitucional do país, terá 30 dias para investigar a denúncia. A partir de hoje já serão recolhidas provas e, conforme for, Morales poderá ser submetido a um processo de responsabilidade. Se a investigação não for avante, a ideia da oposição é recorrer a organismos internacionais, como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a ONU.
– Temos fé que os culpados vão prestar contas à Justiça – disse ao jornal "El Mundo" a senadora Carmen Eva Gonzáles, uma das autoras da denúncia.
Ação policial provocou a saída de dois ministros
Cerca de 500 agentes atacaram no dia 25 passado um acampamento indígena que fica perto de Yucumo, a mais de 300 quilômetros de La Paz, na tentativa de dispersar a marcha. O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos divulgou que mais de cem pessoas ficaram feridas e aproximadamente 200 foram presas e libertadas 17 horas depois.
A ação policial desatou protestos em todo o país e, consequentemente, a saída de dois ministros, entre outros funcionários do governo. Morales chegou a pedir desculpa, mas negou responsabilidade no evento. O presidente, no entanto, teve que ceder e suspender a construção da estrada, que dividiria ao meio o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), enquanto consulta as regiões de Cochabamba e Beni, que também seriam afetadas pela obra.