Sergio Leo
Uma das principais figuras do Partido Republicano dos Estados Unidos, o presidente da Câmara dos Deputados, John Boehner, desautorizou as críticas de pré-candidatos presidenciais de seu próprio partido às intenções de compra de petróleo brasileiro por parte do governo de Barack Obama.
"Os Estados Unidos estão muito interessados em comprar petróleo no nosso continente, em vez de depender do Oriente Médio", comentou Boehner, que é também o presidente da Convenção Republicana, que coordena as primárias para escolha do candidato que disputará a presidência com Obama.
Otimista a ponto de prever chances de redução dos subsídios agrícolas nos Estados Unidos (uma antiga reivindicação brasileira), Boehner veio ao Brasil com uma missão de deputados americanos, visitou uma favela no Rio de Janeiro e teve um encontro ontem com o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota. Por intervenção do Itamaraty, na última hora a presidente Dilma Rousseff aceitou receber a comitiva de parlamentares americanos, que adiaram assim a saída do Brasil para falar com a presidente.
"No futuro previsível, nossa dependência de petróleo e gás natural seguirá sendo significativa", comentou Boehner, um dia após seu amigo Newt Gingrich discursar como pré-candidato, nos EUA, criticando Obama por anunciar interesse no petróleo brasileiro, enquanto cria restrições à exploração de petróleo em áreas dos EUA. "Queremos explorar nossos próprios recursos, mas isso não será suficiente. Trabalhar com nossos amigos é sempre melhor que lidar com inimigos", disse Boehner, que também elogiou os aviões da Embraer, outro alvo de Gingrich.
O parlamentar americano foi evasivo ao falar da Embraer – atacada por Gingrich e outros republicanos por ter vencido uma firma americana em uma concorrência para venda de aviões de treinamento ao Pentágono. "Viajo em aviões da Embraer o tempo todo, as companhias aéreas nos EUA os amam", comentou. "São bons aviões", completou, como se repetisse uma declaração previamente preparada.
Boehner disse que o fim dos subsídios ao etanol de milho e dos créditos subsidiados a produtores de álcool nos EUA abrem caminho para uma "conversa muito séria" sobre o futuro da Lei Agrícola americana, que estabelece o apoio ao agricultor local.
"Estou bastante otimista de que veremos mudanças bastante significativas", declarou Boehner. Os bons preços para as commodities criam um "ambiente melhor" para decisões "ponderadas" baseadas nos mecanismos de mercado, argumentou o deputado republicano.
Mas as expectativas de mudanças importantes na chamada Farm Bill em meio à campanha eleitoral devem ser consideradas "com um grão de sal (com cautela)", advertiu ele, indicando que as decisões terão de esperar o fim das eleições nos Estados Unidos.
Dizendo-se imparcial nas prévias americanas, por presidir a convenção republicana, Boehner mencionou, porém, a vitória de Mitt Romney na primária de Iowa e, possivelmente, de New Hampshire (realizada ontem), como uma vantagem para o pré-candidato, acusado de excessivamente moderado pelos rivais. A vitória nas prévias de janeiro garantirá ao pré-candidato mais financiamento para a campanha nos Estados maiores, a partir de março, avalia o republicano.
Boehner foi simpático, mas menos eloquente, no encontro com o ministro Patriota, que teve a participação de todos os parlamentares da comitiva, inclusive do poderoso presidente da Comissão de Orçamento americana, Dave Camp, também republicano. Descontraído, chegou a comentar que, apesar do grande número de partidos no Brasil, viu pouca diferença ideológica entre eles. Patriota argumentou que o PSDB, que lidera a oposição, foi aliado dos partidos governistas no combate ao regime militar.
O ministro aproveitou para lembrar o superávit de cerca de US$ 8 bilhões dos Estados Unidos no comércio com o Brasil e, repetindo a palavra "maduro" ao falar do relacionamento entre os dois países, comentou que criou-se um "clima muito favorável" a iniciativas conjuntas, com a aprovação de medidas como o fim da barreira ao etanol brasileiro e a renovação dos benefícios a exportadores brasileiros pelo Sistema Geral de Preferências.
Patriota aproveitou para defender a América do Sul como região pacífica, que renunciou a armas de destruição em massa e vem se coordenando para o combate ao crime organizado no continente. Menções a temas delicados como as relações com a Venezuela e o Irã ficaram de fora da conversa.