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Atuação no Oriente Médio põe John Kerry sob críticas

Na sexta-feira passada (08/04), durante visita ao Marrocos, o secretário de Estado americano, John Kerry, disse que estava na hora de um "choque de realidade" no Oriente Médio. Segundo ele, há um limite de ação para os Estados Unidos, na condição de mediador, quando as duas partes envolvidas – israelenses e palestinos – não parecem dispostas a seguir adiante com as negociações.

As conversas de paz no Oriente Médio atingiram um novo obstáculo nos últimos dias, o que levou Washington a repensar se vale a pena continuar mediando em meio ao que a Casa Branca qualificou como "ações de pouca ajuda" das partes envolvidas.

"Isso prejudicou a reputação de Kerry", diz Jim Phillips, especialista em Oriente Médio da conservadora Fundação Heritage, de Washington. O fracasso temporário do processo de paz, empreendido com forte atuação pessoal do secretário de Estado, mostra, segundo ele, que Kerry "superestimou a perspectiva de sucesso das negociações".

Além disso, prossegue o analista político, Kerry teria investido "tempo demais" num processo que ainda não estaria maduro, negligenciando assim problemas mais prementes.

Depois de oito meses de incansáveis viagens diplomáticas – ele foi mais de dez vezes à região – o secretário de Estado americano retrocedeu. E, diante de tanto esforço empreendido, o jornal New York Times escreveu que quem precisaria de um "choque de realidade" é, na verdade, o próprio Kerry.

Pouco progresso

A situação pode ficar desconfortável para Kerry. O secretário de Estado americano está na mira das críticas não somente dos republicanos, mas também, a portas fechadas, de membros do governo Barack Obama. O presidente, porém, se viu obrigado a apoiar publicamente o seu chefe da diplomacia.

"Eu admiro a forma com John lida com tudo isso", afirmou. Esse apoio pode ajudar Kerry internamente, mas isso não lhe garante reputação e assertividade no exterior. Obama deixou grande parte do processo de paz no Oriente Médio nas mãos de Kerry e tentou aumentar a pressão americana com vista a um acordo somente no mês passado, em conversa com os líderes israelense e palestino.

O analista Matthew Duss, do Centro do Progresso Americano, diz ser uma desvantagem o fato de os EUA não poderem falar sobre os seus êxitos devido à confidencialidade combinada. Diferente de outros especialistas, ele avalia o papel de Kerry como basicamente positivo.

"Principalmente o balanço da situação de segurança pelo general Allen foi uma jogada inteligente. Assim um das maiores preocupações israelenses foi levada em conta, ou seja, a segurança após o fim da ocupação", afirma.

Para Duss, a principal falha de Kerry foi ele ter "subestimado a absoluta falta de confiança" atualmente existente entre palestinos e israelenses. O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, já teria entrado enfraquecido no processo de paz, isolado em seu governo e dentro das facções palestinas.

E mesmo que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tenha declarado no domingo que Israel estaria "disposto a dar prosseguimento" às conversações, até recentemente seu desejo por negociações sérias era posto em dúvida por observadores.

Segundo Duss, esse ceticismo se mostrou justificado, depois que governo israelense se negou na última semana a libertar, como combinado, mais um grupo de prisioneiros palestinos. Não menos importante foi o fato de essa recusa ter levado Abbas a usar o seu último trunfo e assinar documentos de adesão a uma série de acordos e convenções internacionais em prol de um Estado palestino.

Troca na mediação

De acordo com Phillips, Kerry teria ignorado, por exemplo, que Abbas não tem autoridade sobre a Faixa de Gaza, dominada pelo grupo radical islâmico Hamas. "O Hamas pode torpedear qualquer acordo com uma nova rodada de foguetes. E isso diminui a disposição de Israel a fazer concessões", sublinha o especialista.

Duss, por sua vez, diz ver como "sábia" a decisão de Obama de retirar seu secretário de Estado enfraquecido da linha de fogo e de transferir a mediação do impasse entre palestinos e israelenses a diplomatas experientes.

Isso, argumenta, dá tempo à reflexão sobre o próprio papel e coloca os atores na região sobre pressão. No caso de Netanyahu, a manobra já está fazendo efeito. O chefe de governo israelense está, aparentemente, preocupado frente às consequências de um fracasso, afirma Duss.

De fato, israelenses e palestinos aumentaram a frequência de suas reuniões com vista a prorrogar as negociações de paz, três semanas antes do prazo limite estabelecido. Jan Phillips adverte sobre a aplicação de instrumentos errôneos para fixação de prazos.

"Foi um erro estabelecer prazos artificiais, mesmo num contrato inicial", diz Phillips, em relação à declaração de Kerry de que as negociações seriam concluídas com sucesso até o fim de abril.

"De tempos em tempos, os EUA forçaram prematuramente um acordo final", lembra Phillips, dizendo ver Kerry numa extensa linha de presidentes e secretários de Estado americanos que utilizaram o seu prestígio político e, no final, saíram de mãos vazias.

 

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