Ao subir ao pódio no último domingo (12), em Londres, para receber a medalha de bronze no pentatlo moderno, a pernambucana Yane Marques, 28 anos, encerrou com chave de ouro a melhor participação da delegação de atletas-militares do Brasil nos Jogos Olímpicos. Cinco medalhas – uma de ouro e quatro de bronze – foram conquistadas pelos 51 atletas da Marinha e do Exército que participaram das competições na capital inglesa. Se fosse uma nação, a equipe militar ocuparia a 47ª posição no ranking do quadro de medalhas, a frente de países como Venezuela, Índia, Bélgica e Filândia.
A primeira medalha brasileira conquistada por atleta-militar veio com Felipe Kitadai, no primeiro dia de competição do judô. Nascido em São Paulo, Kitadai conquistou medalha de bronze. Naquele mesmo sábado, 28 de julho, a piauiense Sarah Menezes ganhou a medalha de ouro também no judô. O desempenho brasileiro na modalidade repetiu-se com os gaúchos Mayara Aguiar e Rafael Silva, o Baby.
Pentatlo moderno
Na última prova dos Jogos Olímpicos, a sargento do Exército Yane Marques confirmou a expectativa de medalha. Terceira colocada no ranking mundial, a militar conquistou o bronze, com 5.340 pontos. Coube a Yane – que obteve a primeira medalha brasileira no pentatlo moderno, modalidade que completou 100 anos em Olimpíadas – botar no peito a 17ª medalha conquistada em Londres pelo Brasil. Assim, o país fechou a participação em Olimpíadas com a sua melhor marca.
A carreira da primeira medalhista brasileira na história do pentatlo moderno começou a mudar há cerca de três anos. Em 2009, Yane foi uma das primeiras atletas a integrarem o Exército, que na ocasião tinha o objetivo de formar uma equipe forte para os Jogos Mundiais Militares do Rio 2011.
Como sargento da instituição, a atleta passou a contar com estrutura e apoio financeiro, elementos fundamentais em um esporte caro como o pentatlo, que envolve cinco modalidades, recorda o treinador dela, Alexandre França.
Yane Marques avisou antes de competir: "Subir ao pódio não será surpresa". Ontem, depois de dar 15 tiros e correr 3.000 m, cruzou a linha de chegada, caiu no chão e desabafou: "Consegui".
Afogados da Ingazeira
Nascida em Afogados da Ingazeira, no sertão pernambucano, Yane agora é medalhista olímpica. Ela alcançou medalha de bronze com o melhor desempenho em esgrima de sua vida; fez a melhor marca no nado; superou-se no hipismo com um cavalo de idade avançada; e soube controlar seu ponto fraco: a chamada prova "combinada", que reúne corrida e tiro.
A brasileira chegou no "combinado" (tiro e corrida) dividindo a liderança com a lituana Laura Asadauskaite, que acabou ficando com o ouro. A partir daí, o desafio tornou-se maior porque, pouco antes da prova final, o treinador Alexandre França constatou que a busca seria mesmo pelo terceiro lugar. Isso levou França a buscar uma estratégia para permitir que Yane subisse ao pódio.
Naquele instante, a brasileira precisaria melhorar o desempenho na corrida, o seu ponto fraco no pentatlo. O plano foi segurar as duas primeiras voltas de 1 mil metros e deixar todo o gás para a corrida final. "Ela sabia que a última volta seria correr para a vida", disse França.
Major do Exército, foi França quem convenceu Yane a largar a natação em 2003 e dedicar-se ao pentatlo moderno. E Yane fez a "corrida da vida" em Londres. Perdeu a segunda colocação para a britânica Samantha Murray, mas assegurou o bronze.
Encerrada a prova, a atleta correu até a arquibancada da arena do Greenwich Park na tentativa de localizar a mãe Maria Gorreti. Em seguiu, veio com discurso no qual mostrou-se confiante de seu desempenho. "Eu estava pronta. É o resultado de um trabalho muito bem feito", disse a militar.
Yane Marques despediu-se de Londres com um recado: "Espero que essa vitória seja um divisor de águas no esporte e que desperte atenção das pessoas".