Essa é a avaliação dos oficiais da Defesa dos Estados Unidos e de analistas militares próximos ao Pentágono, que dizem que um ataque israelense com intuito de impedir o progresso do programa nuclear iraniano seria uma operação enorme e altamente complexa. Eles descrevem o ataque como muito diferente da empreitada mais "cirúrgica" que Israel realizou contra um reator nuclear na Síria, em 2007, ou mesmo aquele contra o reator iraquiano Osirak, em 1981.
"Todos os especialistas dizem que 'precisamos bombardear o Irã', mas isso não é algo tão simples assim", disse o tenente-general David Deptula, que se aposentou no ano passado como um oficial da Inteligência Superior da Força Aérea e que planejou as campanhas aéreas dos Estados Unidos no Afeganistão, em 2001, e na Guerra do Golfo, em 1991.
A especulação de que Israel poderá atacar o Irã tem se intensificado nos últimos meses à medida que as tensões entre os países aumentam. Em um sinal da crescente preocupação dos Estados Unidos, Tom Donilon, o assessor de segurança nacional, reuniu-se com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de Israel em Jerusalém no domingo passado, e o presidente do Estado Maior Conjunto, o general Martin Dempsey, alertou na CNN que um ataque israelense ao Irã neste momento seria "desestabilizador". Da mesma maneira, o chanceler britânico, William Hague, disse à BBC que atacar o Irã não seria "uma coisa sábia" para Israel fazer "nesse exato momento".
O porta-voz israelense em Washington Lior Weintraub afirma que o país continuará a pressionar por sanções mais duras contra o Irã, mas reiterou que Israel, assim como os Estados Unidos, "irá manter todas as opções em aberto".
As possíveis alternativas para um ataque israelense se tornaram uma fonte de debate em Washington, onde alguns analistas chegam a questionar se Israel ainda tem a capacidade militar para realizar tal operação. Há temores de que os Estados Unidos seriam chamados para concluir o trabalho – uma tarefa que, mesmo com o arsenal de aviões e munição americanos, poderia demorar semanas, segundo analistas. Outro temor é o da retaliação iraniana.
"Eu não acho que ninguém pode delinear um plano simples de entrada e saída do país", disse Andrew Hoehn, um ex-oficial do Pentágono que agora é diretor do Projeto Força Aérea da Corporação Rand, que faz extensa pesquisa para a Força Aérea dos Estados Unidos.
Michael Hayden, que serviu como diretor da CIA entre 2006 e 2009, disse no mês passado que ataques aéreos capazes de causar qualquer impacto no programa nuclear iraniano estão "além da capacidade" de Israel, em parte por causa da distância que as aeronaves teriam que viajar para efetuar os ataques e pela dimensão da tarefa em questão.
Ainda assim, uma autoridade de alto escalão do Departamento de Defesa alertou em uma entrevista na semana passada que "não temos total conhecimento" do arsenal de Israel, muito menos de seus cálculos militares. Suas opiniões foram repetidas por Anthony Cordesman, um influente analista militar do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos em Washington. "Existe uma série de riscos desconhecidos, mas Israel pode ser o único país que sabe se esses riscos são graves ou não", disse.
Levando em consideração que Israel atacaria quatro grandes instalações nucleares do Irã – as instalações de enriquecimento de urânio em Natanz e Fordo, o reator de água pesada em Arak e a usina em Isfahan – analistas militares dizem que o primeiro problema é como chegar lá. Existem três rotas possíveis: a do norte, sobre a Turquia, a do sul através da Arábia Saudita ou a rota central pela Jordânia e Iraque.
O percurso sobrevoando o Iraque seria provavelmente o mais direto, segundo os analistas, porque o Iraque efetivamente não tem defesas aéreas e os Estados Unidos, após a sua retirada de dezembro, não têm mais a obrigação de defender os céus do país. "Essa era uma preocupação dos israelenses um ano atrás, de que iríamos interceptar sua aeronave caso optassem por sobrevoar o Iraque", disse um ex-oficial de defesa que pediu anonimato para discutir o assunto.
Supondo que a Jordânia tolere o sobrevoo israelense, o próximo problema seria a distância. Israel tem jatos americanos F-15I e F-16I que conseguem transportar bombas até os alvos, mas seu alcance – dependendo da altitude, velocidade e carga útil – está muito aquém da viagem de 3,28 mil km de ida e volta. E isso também não inclui o tempo que a aeronave irá sobrevoar um possível alvo caso tenha que engajar em combate contra mísseis e aviões iranianos.
Em uma situação na qual Israel tenha que usar aviões tanques para reabastecimento, acredita-se que o país simplesmente não tenha quantidade suficiente dessas aeronaves para a operação. Scott Johnson, um analista na consultora de defesa IHS Jane e o líder de uma equipe que está preparando um seminário online sobre as possibilidades de um ataque israelense contra o Irã, disse que Israel tem oito aviões tanques KC-707, embora não esteja claro se eles estão todos em estado operacional. Segundo ele, é possível que Israel tenha reconfigurado alguns aviões existentes para servirem de tanques caso necessário.
Outro grande obstáculo é o inventário de bombas que Israel tem que são capazes de penetrar a usina de Natanz, que pode estar localizada sob 9 metros de concreto, e Fordo, que foi construída em uma montanha. Assumindo que não irá usar um dispositivo nuclear, Israel tem também bombas americanas “anti-paiol” que poderiam danificar tais instalações fortificadas, embora não esteja muito claro o quão profundo elas poderão atingir caso ocorra um ataque.
No início deste mês, um relatório do Centro Bipartidário de Política feito por Charles Robb, ex-senador democrata da Virgínia, e Charles Wald, um aposentado da Força Aérea, recomendou que o governo de Obama vendesse 200 bombas "anti-paiol” aprimoradas para Israel bem como três avançados aviões de reabastecimento.
Os dois disseram que não estavam defendendo um ataque israelense, mas que as munições e aeronaves eram necessárias para melhorar a credibilidade de Israel para ameaçar um ataque aéreo.
Por Elisabeth Bumiller