A crise e a austeridade orçamentária vão fazer com que as despesas militares de países europeus sejam superadas pelos gastos da Ásia, ressalta o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) em seu relatório anual.
Na apresentação nesta quarta-feira em Londres deste documento sobre o equilíbrio das Forças Armadas no mundo, o diretor geral do IISS, John Chipman, afirmou que "desde a crise financeira de 2008, ocorre uma convergência entre os níveis de despesas militares na Europa e na Ásia".
"Os níveis de despesas por pessoa na Ásia continuam consideravelmente menos elevados do que na Europa, mas, no ritmo atual, as despesas militares na Ásia vão, provavelmente, ultrapassar os da Europa em 2012 com base em estimativas", acrescentou durante uma coletiva de imprensa.
Na Europa, as despesas militares foram cortadas devido à crise econômica. O Reino Unido, que tem o maior orçamento militar do continente, reduziu o orçamento do Ministério da Defesa em 8%, dentro do quadro de medidas de austeridade adotadas no final de 2010.
"Na Europa, os investimentos em defesa ainda estão pressionados e os cortes continuam (…). Entre 2008 e 2010, ocorreram reduções no orçamento de defesa em 16 países europeus membros da Otan. Em boa parte destes países, os cortes passaram de 10%", afirmou Chipman.
Segundo ele, os efeitos desses cortes foram sentidos durante a intervenção militar na Líbia no ano passado, quando foram percebidos "buracos", principalmente na inteligência e no reconhecimento.
A China, engajada em um programa de modernização de suas forças e de seus equipamentos militares financiado por seu forte crescimento, está à frente dos países asiáticos quanto às despesas militares, de acordo com o relatório do IISS.
Entre 2001 e 2011, as despesas militares da China mais que dobraram, informou John Chipman.
Mas apesar "do desenvolvimento da China de tecnologias anti-satélites, de mísseis anti-navios e das capacidades dos hackers que preocupam os responsáveis pela defesa de outros países", Chipman minimizou o peso militar desse país.
"O avanço tecnológico da China é menor do que o indicado pelas teorias alarmistas sobre o seu desenvolvimento militar", disse, explicando, por exemplo, que esse país não tem ainda "a capacidade de fazer decolar aviões a partir de um porta-aviões".
Além disso, o gasto militar chinês está muito abaixo dos Estados Unidos, observa Giri Rajendran, analista especializado em questões econômicas no IISS.
"As despesas militares dos Estados Unidos representam 45% das despesas mundiais, as da China representam apenas 5,5%", explicou, acrescentando que seria necessário "pelo menos 15 anos" para que a China alcance o nível das despesas militares americanas.
Os Estados Unidos ainda são de longe os campeões em matéria de gastos militares, mesmo com seus cortes, ressaltou o IISS. Em 2011, foram gastos 739,3 bilhões de dólares (561,3 bilhões de euros), comparado aos 89,8 bilhões de dólares da China, que está em segundo lugar.
O orçamento americano para a defesa ultrapassa o acumulado dos dez outros países que mais gastam com as Forças Armadas.