Ricardo Fan
As trajetórias políticas de Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, e Vladimir Putin, presidente da Rússia, são marcadas por um forte nacionalismo e a rejeição de algumas normas da ordem internacional. Contudo, enquanto ambos compartilham elementos expansionistas em suas estratégias, seus objetivos e métodos diferem substancialmente. Este artigo explora essas diferenças e semelhanças sob uma perspectiva analítica.
Semelhanças na abordagem nacionalista
Tanto Trump quanto Putin conduziram suas lideranças com um forte discurso de soberania nacional. Trump, com o lema “America First”, buscou priorizar os interesses dos Estados Unidos em detrimento de acordos multilaterais. Putin, por sua vez, tem consolidado a soberania da Rússia como base para justificar intervenções e rejeitar influências externas.
Ambos também se mostraram céticos em relação a instituições multilaterais. Durante sua presidência, Trump criticou a OTAN e retirou os EUA de acordos como o Acordo de Paris e o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), argumentando que esses tratados não favoreciam os interesses norte-americanos. Putin, por sua vez, frequentemente contesta as normas internacionais, buscando alianças bilaterais ou medidas unilaterais que ampliem o alcance estratégico da Rússia.
Diferenças nos objetivos expansionistas
Apesar das semelhanças, as agendas expansionistas de Trump e Putin se distanciam em termos de escopo e métodos.
Trump: Expansionismo Econômico e Geopolítico
A administração Trump foi marcada por um expansionismo voltado principalmente para o fortalecimento econômico e geopolítico dos Estados Unidos. Isso incluiu a renegociação de tratados comerciais, como o NAFTA (transformado no USMCA), e a imposição de tarifas contra potências rivais, especialmente a China. Trump também priorizou o isolamento de adversários, como o Irã, através de sanções e pressões diplomáticas, mas evitou intervenções militares em larga escala, diferentemente de seus antecessores.
Inicialmente seu expansionismo não foi territorial, mas focado em garantir o que ele considerava vantagens competitivas para os Estados Unidos na arena internacional. Durante seu primeiro mandato, essa estratégia incluía uma política migratória restritiva e uma postura protecionista para reverter a deslocalização industrial.
Após um intervalo de quatro anos fora do governo, Trump está prestes a assumir seu segundo mandato com uma agenda mais assertiva. Agora, ameaças geopolíticas ganham destaque, incluindo declarações polêmicas sobre a aquisição da Groenlândia, o fortalecimento da presença norte-americana no Canal do Panamá e pressões comerciais renovadas sobre o Canadá. Essas movimentações indicam um possível deslocamento de sua abordagem inicial, com maior ênfase em estratégias geopolíticas que podem impactar diretamente a soberania de outros países.
Nos últimos anos, Trump também ameaçou países vizinhos, como o México e o Canadá, com medidas tarifárias e a construção de barreiras fronteiriças. Essas ameaças, embora não resultassem em ações militares, tinham o objetivo de influenciar a política interna desses países e fortalecer o controle norte-americano na região.
Putin: Revisionismo Territorial e Militar
Em contraste, o expansionismo de Vladimir Putin é explicitamente territorial e militar. Desde sua ascensão ao poder, ele buscou restaurar o que considera ser a “esfera de influência histórica” da Rússia. Exemplos incluem a anexação da Crimeia em 2014, o apoio a regiões separatistas na Geórgia (Abecásia e Ossétia do Sul), a ocupação de partes da Transnístria (na Moldávia) e a recente invasão em larga escala da Ucrânia.
Putin combina o uso da força militar com táticas de guerra híbrida, como desinformação e ciberataques, para atingir seus objetivos. Sua visão revisionista também é fundamentada em narrativas históricas e culturais, que justificam as ações como necessárias para proteger a identidade russa e sua soberania contra influências ocidentais.
A invasão da Ucrânia, um dos eventos mais significativos do revisionismo de Putin, tem raízes profundas em sua agenda expansionista. Assim como na Crimeia e nas regiões separatistas da Geórgia e Transnístria, Putin tenta redesenhar as fronteiras europeias em favor da Rússia. Essa política tem impactado diretamente a estabilidade global, ampliando o conflito entre blocos ocidentais e orientais.
Impactos na guerra da Ucrânia
As táticas de Putin na Ucrânia têm provocado uma resposta firme da comunidade internacional, com sanções econômicas e um aumento do apoio militar ao governo ucraniano por parte da OTAN e da União Europeia. Por outro lado, a postura de Trump em relação à Ucrânia, prestes a reassumir a presidência dos Estados Unidos, permanece ambígua. Trump foi amplamente criticado por condicionar o apoio militar à Ucrânia a interesses políticos pessoais, como evidenciado no processo de impeachment relacionado à investigação de Hunter Biden.
Enquanto Putin intensifica sua abordagem militar e territorial, Trump demonstra uma hesitação em adotar posições firmes que poderiam comprometer os interesses geopolíticos imediatos dos EUA, preferindo muitas vezes um pragmatismo político alinhado aos seus próprios objetivos. Essa ambiguidade poderá influenciar significativamente o curso do conflito na Ucrânia, especialmente no contexto da nova liderança mundial norte-americana.
O expansionismo de Putin na Ucrânia, em contraste com as ameaças políticas e econômicas de Trump, destaca como diferentes abordagens podem impactar a ordem global. Enquanto Trump preferia usar pressão econômica para moldar relações internacionais, Putin recorre à força militar e ao controle territorial. A persistência da guerra na Ucrânia pode influenciar não apenas a região, mas também moldar a dinâmica entre grandes potências no futuro.
Conclusão
Embora existam pontos de convergência entre as agendas de Trump e Putin, como o foco em soberania e a rejeição de regras multilaterais, as diferenças são profundas. Trump priorizou um expansionismo econômico e comercial, enquanto Putin busca uma expansão territorial e militar baseada em um projeto revisionista.
Essas distinções destacam como dois líderes nacionalistas podem adotar estratégias fundamentalmente diferentes para remodelar a ordem global, cada um a seu modo e de acordo com os objetivos de seus respectivos países. A guerra da Ucrânia, nesse contexto, é um campo de batalha simbólico e real para os desdobramentos dessas agendas no cenário global.