Agência DefesaNet
Às voltas com a crise econômica e com sua popularidade em baixa, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, preparou uma festa descrita como "épica" para o retorno do Navio-Veleiro Escola ARA Libertad, que ficou mais de 70 dias retida em Gana, na África.
O Navio-Veleiro Escola ARA Libertad, da Armada Argentina, tem a mesma função que o Cisne Branco da Marinha do Brasil: Navio de instrução e principalmente de mostrar a bandeira do país nos portos dos sete mares.
Desde cedo, no dia anterior (08JAN), à chegada do Navio-Veleiro Escola ARA Libertad, caravanas de militantes governistas, reunidos por grupos como o La Cámpora — liderado pelo filho da presidente, Máximo Kirchner –, chegavam de ônibus a Mar del Plata, cidade litorânea a cerca de 400 km da capital, Buenos Aires.
Os kirchneristas empunhavam faixas e cartazes com dizeres como "Cristina coragem" e "Néstor vive", alusão ao marido e antecessor da presidente, morto em 2010.
O navio, que chegou pouco depois das 19h de quarta-feira (horário de Brasília), era escoltado por 200 embarcações civis e trazia 143 marinheiros; 98 deles, que já tinham deixado o navio-veleiro antes da liberação, retornaram a ela para ser recebidos com festa.
Para receber o Navio-Veleiro estava, além da Presidente Cristina, todo o Gabinete de Governo. O Vice-presidente Boudou e mais doze ministros. com o Ministro da Defesa, Arturo Puricelli, e o das Relações Exteriores, Héctor Timerman, e estavam presentes o da Segurança, Nilda Garré, e o da Economía,Hernán Lorenzino, entre outros.
A festa “espontânea” foi preparada com esmero. A própria Presidente Cristina nomeou o seu principal organizador de espetáculos, o diretor-geral da Comemoração do Bicentenário, Javier Grosman, um especialista em shows audiovisuais.
Para tanto precisava-se de tempo para organizar tudo. Apareceu um problema inesperado o Navio-Veleiro mesmo navegando a menor velocidade, mas ajudado pelas correntes marinhas, estava andando muito rápido e podía chegar já no domingo, dia 6 JAN 12
Assim foi necessário que o veleiro ancorasse em uma ilha brasileira, que não foi identificada, para chegar no tempo exato e aproveitar o pôr do sol e a noite para o show de fogos de artifício.
A primeira vez que a Casa Rosada dá tal destaque a qualquer evento militar nas administrações Kirchner. O Comando da Armada e do Ministério da Defesa foram afastado da organização cabendo total responsabilidade à Casa Rosada.
O ARA Libertad aportou na Base Naval de Mar del Plata, em vez da capital Buenos Aires, para ter maior público, pois a cidade dobra de tamanho no período do verão, passa das 700 mil pessoas para quase dois milhões.
Tripulação sofre
Aos tripulantes uma série de embaraços. O principal deles é a demora na viagem de retorno e mesmo os que vieram antes suas coisas estão em containers, que estão em viagem, em algum ponto do océano, e que enfrentam um mar de obstáculos.
Para os tripulantes, que ficaram todos os 77 dias retidos, em Gana, a ansiedade de abraçar os seus familiares, a displina militar e esperar, que os políticos fizessem seu show. Só poderiam desembarcar após a saída da presidente Cristina Kirchner.
'FUNDO ABUTRE'
A fragata Liberdade, navio-escola da Marinha argentina, foi retida no porto de Tema, em Gana, em 2 de outubro. A retenção foi determinada pela Justiça do país africano a pedido do fundo de investimentos americano NML, que cobrava da Argentina uma dívida de US$ 370 milhões.
Após a crise de 2001, que resultou na queda do então presidente Fernando de la Rúa, o governo argentino fez operações de "reestruturação" com seus credores, e a maioria aceitou receber menos na hora de resgatar seus títulos da dívida argentina. Parte das dívidas foram reestruturadas , em 2005, pelo Presidente Nestor Kirchner.
No entanto, alguns investidores, entre eles o NML, recusaram-se a assinar o acordo e exigem o pagamento de 100% do valor da dívida. Esses fundos são chamados de "abutres", por comprar títulos podres para especulação.
Na época da retenção da fragata, Cristina declarou que a Argentina não aceitaria "extorsão de nenhum tipo". "Podem ficar com a fragata, mas nenhum 'fundo abutre' ficará com a liberdade, a soberania e a dignidade deste país", discursou a mandatária.
A Argentina recorreu às Nações Unidas, e em 15 de dezembro o Tribunal Internacional sobre Direito do Mar, ligado à ONU, ordenou que a fragata fosse liberada.
Questões não respondidas
Segundo informações de fontes fidedignas o governo argentino foi avisado do possível arresto do Navio-Veleiro ARA Libertad, em Gana. Quando os práticos subiram ao navio para conduzi-lo ao porto de Tema, também dois oficiais da Marinha de Gana subiram a bordo. A Missão deles era; informar ao comandante que possivelmente a sua embarcação sofreria uma ação de arresto na manhã do primeiro dia em Tema.
O Comandante entrou em urgente contato com Buenos Aires, informando dos fatos. O retorno que teve foi de que deveria seguir adiante e entrar no porto de Tema.
A “surpresa” e as primeiras opiniões da própria Presidente: “que fiquem com o navio”, teve de ser refeito. Um fato curioso e que reforçaria a defesa de muitos militares em julgamento hoje na Argentina: “A Obediência Devida”.
Como pode uma tripulação receber ordens de abandonar o navio, partindo do seu próprio governo, não estando a tripulação em perigo ou em combate?
E tudo acaba em um tango de Cristina: um fiasco épico.