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Após 45 anos de ocupação israelense, solução de dois Estados ‘está morta’, dizem analistas

O deslocamento de cerca de 600 mil cidadãos israelenses para a colonização dos territórios ocupados na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental inviabilizou qualquer tentativa prática de criar um Estado palestino ao lado de Israel, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.

Exatamente 45 anos após a guerra conhecida como Guerra dos Seis Dias, iniciada em 5 de junho de 1967, pensadores palestinos e israelenses questionam a viabilidade da solução de dois Estados.

A solução, que propõe a criação de um Estado Palestino independente ao lado de Israel, na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e em Jerusalém Oriental – territórios ocupados por Israel na guerra de 1967 -, conta com amplo apoio da comunidade internacional e foi a base para o acordo de Oslo, assinado em 1993 pelo então primeiro ministro de Israel, Itzhak Rabin, e pelo então líder palestino, Yasser Arafat.

No entanto, o pesquisador palestino Jad Ishaq acredita que "a solução de dois Estados está morta".

Ishaq, diretor do Instituto Jerusalém de Pesquisas Aplicadas, que estuda a situação geopolítica na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, afirma que "se observamos o mapa atual da Cisjordânia, poderemos constatar que a criação de um Estado Palestino viável e com continuidade territorial já não é possível".

Para o pesquisador, a presença de mais de 200 assentamentos israelenses no território ocupado e a existência da barreira construída por Israel na Cisjordânia tornam impossível a implementação do plano.

Território fragmentado

"Nas circunstâncias atuais, um Estado Palestino não teria viabilidade geográfica nem econômica, pois Israel controla os recursos naturais da Cisjordânia e mais de 60% da área", afirmou Ishaq.

"As áreas palestinas foram fragmentadas e hoje constituem pequenos enclaves desconectados entre si e cercados por assentamentos israelenses e por estradas para uso exclusivo dos colonos", acrescentou.

Ishaq também não acredita que Israel tenha alguma intenção de retirar os assentamentos.
 

"Veja a dificuldade que (o primeiro-ministro Binyamin) Netanyahu está tendo para retirar cinco casas em Beit El", disse, em referência à decisão da Suprema Corte de Israel que ordenou a demolição de cinco casas construídas no assentamento de Givat Haulpana, na região de Ramallah.

De acordo com a Corte, as casas devem ser demolidas porque foram erguidas em terras privadas e tomadas ilegalmente de palestinos.

No entanto, o governo está enfrentando forte oposição ao cumprimento da ordem da principal instância judicial de Israel.

Membros do Likud – partido de Netanyahu – se opõem à demolição das casas e o premiê chegou a propor que as casas sejam "serradas" e transferidas integralmente para uma base militar israelense próxima ao assentamento – um projeto que poderia custar cerca de 25 milhões de shekels (cerca de R$ 12 milhões).

Preço a pagar

Para o escritor e jornalista israelense Akiva Eldar, a solução de dois Estados é inviável "pois o público israelense não está disposto a pagar o preço".

Para Eldar, o público israelense "não acredita que a paz com os palestinos seja possível e portanto perdeu a motivação para tentar alcançá-la".

De acordo com Eldar, "o Parlamento de Israel demonstra que não existe apoio da opinião pública à solução de dois Estados, apenas 22 entre 120 deputados a apoiam".

Eldar afirma que durante os 19 anos que se passaram desde a assinatura do acordo de Oslo, "Israel se moveu na direção contrária, triplicando o número de colonos nos territórios ocupados".

Solução mista

Diante da crescente inviabilidade da solução de dois Estados, analistas passam a considerar outras soluções para o conflito entre israelenses e palestinos.

Um deles é o sociólogo politico Lev Grinberg, da Universidade Ben Gurion, que propõe "um misto entre a solução de dois Estados e a solução de um Estado", que seria uma confederação entre dois Estados nacionais – o israelense e o palestino.

"Proponho a criação de uma União Israelense-Palestina, que incluiria um governo conjunto e baseado em representação paritária e em dois Estados democráticos separados"
 

"Os governos dos dois Estados iriam administrar tudo que pode ser separado, como educação, terra, saúde, policia, prefeituras, turismo, cultura, religião, esportes etc.", disse Grinberg.

"O governo da confederação iria cuidar de todos os assuntos que são inseparáveis, como infraestrutura, comunicações, energia, transportes, ecologia, os lugares sagrados e Jerusalém", acrescentou.

Pessimismo

Para Ishaq, "o ideal seria a solução de um Estado democrático, com total igualdade de direitos entre israelenses e palestinos".

"Hoje, nós, os palestinos, já somos quase 50% da população (incluindo a população palestina de Israel e dos territórios ocupados), e em um Estado democrático poderíamos eleger nossos representantes no Parlamento", afirmou.

Em toda a área de Israel e nos territórios palestinos hoje em dia vivem cerca de 5,8 milhões de judeus e 5,5 milhões de palestinos.

No entanto, segundo Eldar, "os israelenses jamais abrirão mão do caráter judaico do Estado de Israel, portanto a solução de um Estado é impossível".

Eldar afirmou que está muito pessimista em relação ao futuro dos dois povos.

"Diante da inviabilidade da solução de dois Estados, parece que nossa perspectiva é de algo semelhante ao que aconteceu nos Bálcãs", em referência aos violentos conflitos étnicos ocorridos na Bósnia.

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