Tatiana Sabadini
Durante uma contaminação por radiação, o grande desafio é prever seus efeitos. Por isso, com um nível de iodo 5 milhões de vezes acima do normal e um índice de césio 1,1 milhão mais alto que o aceitável na água do mar, o Japão tenta a qualquer custo lutar contra o problema, mesmo que seja no escuro.
As autoridades japonesas tentam acalmar a população afirmando que o risco não é imediato, mas admitem que as consequências podem chegar à fauna e à flora marítima a longo prazo, sem esclarecer quanto tempo isso realmente significa. Para tentar proteger a população, o governo também anunciou, em medida inédita, nova fiscalização para peixes e frutos do mar, grande fonte de alimentação do povo japonês. O medo é que a radioatividade atrapalhe a atividade pesqueira, piorando a já delicada situação econômica do país.
A boa notícia ficou por conta da interrupção do vazamento de água contaminada no reator 2 da usina de Fukushima Daiichi. Porém, foi em áreas próximas ao reator que os níveis de césio-137 e de iodo-131 apresentaram índices milhões de vezes acima do normal. “É uma contaminação significativa e a população precisa ficar atenta.
O governo deve monitorar a água para não ter um efeito a longo prazo e aumentar o risco de doenças. É preciso identificar tudo o que está contaminado até onde for possível, para saber o que pode e o que não pode ser comercializado ou ingerido”, explica Kellen Adriana Cursi Daros, física do departamento de diagnóstico por imagem e pesquisadora de proteção de radiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Os técnicos japoneses acreditam que a radiação pode se dispersar no oceano, mas não descartam a possibilidade de uma contaminação residual. “Na água do mar, todo esse material está sendo diluído. O iodo pode se desintegrar pela metade em oito dias. Mas é preciso tomar certas precauções, por causa da fauna e da flora marítima. E quanto maior a quantidade de radiação, mais grave se torna a situação. Deve levar algum tempo para saber quais serão os efeitos disso”, afirma a especialista.
A grande preocupação, por enquanto, é com o césio, que pode permanecer na água por até 30 anos. De acordo com Kellen, nenhum tipo de radiação é seguro, o que determina sua gravidade é a quantidade e o tempo que a pessoa fica exposta ao material radioativo (leia Para saber mais). “Não será possível medir os efeitos dessa contaminação no Japão agora, só a longo prazo. A melhor orientação é mesmo evitar a exposição e a ingestão de alimentos.”
O governo japonês ficou em alerta depois que peixes capturados nas província de Ibakari, na região atingida pela ameaça nuclear, estavam com 526 bequerels de césio por quilo, excedendo o limite legal de 500 bequerels. Por isso, primeira vez, foi estabelecido um padrão legal de radiação para frutos do mar e peixes no país. Apesar de Fukushima não ser uma grande área pesqueira, outras regiões permanecem em alerta, especialmente depois que foi anunciado que mais 11 mil toneladas de água radioativa começaram a ser despejadas no Oceano Pacífico, para ajudar nos trabalhos de reparação da usina. A União Europeia e países como os Estados Unidos e o Brasil criaram barreiras para a importações de alimentos japoneses.