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Alemanha sofre com a desativação nuclear

As pessoas que estão na linha de frente da desativação gradual da energia nuclear na Alemanha mencionam uma luta diária para manter as luzes acesas no país.

Um ano após metade das usinas nucleares alemãs terem sido desligadas, o governo diz que a conversão para a eletricidade gerada por fontes renováveis de energia na próxima década está a caminho. Mas muitos especialistas afirmam que a transição está se mostrando difícil.

"Atravessamos o inverno", afirmou Volker Weinreich, diretor do centro de controle para a região norte da Tennet, o grupo holandês que administra uma das quatro redes regionais de alta voltagem da Alemanha. "Mas tivemos sorte e estamos chegando aos limites do factível."

Em um prédio baixo e sem atrativos nos arredores de Hanover, Weinreich e seus colegas tiveram que agir 1.024 vezes em 2011 para driblar os gargalos e manter a voltagem nos cabos da Tennet, que vão do Mar do Norte até os Alpes. Isso é quase quatro vezes o número de intervenções na rede realizadas em 2010.

No longo prazo, a missão ainda é encontrar um substituto sustentável para 20 gigawatts de capacidade de geração nuclear, mas o problema mais imediato tem se mostrado a fragilidade da rede de distribuição de energia elétrica da Alemanha.

"Passamos pelo inverno com um olho roxo", disse Jürgen Hambrecht, que aconselhou a premiê Angela Merkel como membro da comissão de ética sobre a energia da primeira-ministra. "Ainda temos objetivos muito ambiciosos… Mas em toda parte estamos atrasados na implementação, na ação concreta."

Como oito das 17 usinas nucleares da Alemanha foram fechadas imediatamente depois do desastre nuclear no Japão, em março do ano passado, as linhas de distribuição do país estão lutando para atender à nova demanda. No começo de fevereiro, por pouco não houve um blecaute.

A maioria das usinas nucleares que foram fechadas ficava na região sul, o que significa que os centros industriais em torno de Stuttgart e Munique começaram a drenar quantidades sem precedentes de energia das usinas movidas a carvão e gás e de turbinas eólicas localizadas no norte do país, um aumento do fornecimento do norte para o sul para o qual a rede de alta voltagem não tinha sido projetada.

No terceiro trimestre de 2011, enquanto o governo alemão finalizava seus planos para acabar com a energia nuclear até 2022 – e não 2036, conforme se pretendia anteriormente – a Tennet e suas operadoras de rede associadas Amprion, 50 Hertz e EnBW identificaram Hamburgo e Stuttgart como pontos fracos, especialmente nas noites frias de inverno, quando o consumo de energia aumenta.

No começo de fevereiro, o medo das empresas de um blecaute nacional atingiu o âmbito europeu, quando os altos preços na França levaram os negociadores de energia a exportar grandes volumes de eletricidade alemã, justo quando o clima frio afetou as entregas de gás da Rússia.

Em anos anteriores, os operadores de redes teriam solicitado às usinas nucleares que aumentassem sua produção. Mas com cerca de 8 GW de um  total de 20 GW desativados, essa opção não existia. Em vez disso, por cerca de dez dias eles recorreram às velhas usinas movidas a gás do sudoeste da Alemanha e da Áustria.

"Não temos mais as reservas que nos davam espaço de manobra em uma crise", disse Weinreich. "E se perdermos uma grande usina?" Isso, diz ele, forçaria uma "redução de carga", ou o desligamento das luzes em certas áreas da Europa.

As soluções – que incluem a construção de mais usinas movidas a gás no sul e a construção de novas linhas de distribuição que tragam energia do norte – não estão sendo contestadas, mas sua implementação está em dúvida.

Os investidores resistem à construção de usinas geradoras de eletricidade a gás, por temerem que elas possam operar apenas ocasionalmente, para suplementar o fornecimento das usinas eólicas, uma vez que as energias renováveis são privilegiadas por lei. As linhas extras de distribuição – cujo custo poderia aumentar os preços da energia elétrica no país em 8%, segundo uma agência governamental – estão no estágio de planejamento.

O governo diz que está estudando possíveis incentivos à construção de termelétricas a gás. E promete anunciar, no terceiro trimestre, um plano de uma rede ampla, garantindo que os preços da energia não subirão no longo prazo.

Mas Hambrecht está preocupado com a velocidade da implementação e os custos para os usuários. A maior economia da Europa precisa de "um fornecimento de energia confiável, limpo e de preços acessíveis", diz ele.

Os problemas de rede precisam ser resolvidos até 2015, quando as últimas nove usinas nucleares começarão a ser fechadas. Ainda são precisos seis ou sete anos para planejar e construir uma linha de distribuição ou uma usina, continua ele. Para reduzir isso para dois ou três anos, a Alemanha precisará de um "centro de controle e coordenação" para monitorar o progresso, identificar os próximos passos e forçar sua implementação.

"A transformação da energia ainda é viável, mas não sei se é politicamente factível", diz Hambrecht, referindo-se à oposição local à construção de mais linhas de distribuição. Sem uma implementação mais ousada, alerta ele, a Alemanha poderá não ter escolha a não ser manter algumas de suas usinas nucleares operando além de 2022.

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