O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Ashton Carter, reconheceu nesta quarta-feira (08/04) que a Al Qaeda está ganhando terreno em meio ao caos no Iêmen. Ao mesmo tempo, ele prometeu que Washington irá continuar combatendo os extremistas xiitas houthis, apesar do confronto que assola o país.
"A situação ainda está muito agitada, e há diferentes partes em conflito", afirmou Carter durante visita ao Japão. "Os houthis são uma delas e a Aqap [ramificação da Al Qaeda no Iêmen] é outra, a qual se aproveitou da desordem e do colapso do governo central."
Segundo Carter, a Aqap vem ganhando espaço enquanto tenta ampliar seu território. "A ameaça terrorista da Aqapao Ocidente, incluindo os EUA, é duradoura e bastante séria", destacou.
Carter ressaltou ainda que é sempre mais fácil conduzir operações antiterrorismo quando há um governo estável, "disposto a cooperar". "É claro que tais circunstâncias não existem no Iêmen no momento, mas isso não quer dizer que não continuaremos a tomar as medidas necessárias para nos proteger. Temos que fazê-lo de modo diferente, e é o que fazemos."
Carter afirmou ter esperanças de que a paz seja restaurada no Iêmen, "não apenas por essas razões, mas também pelo sofrimento que há no país".
Os houthis, juntamente com unidades do Exército leais ao ex-presidente Ali Abdullah Saleh, vem lutando contra os apoiadores do presidente Abd Rabbuh Mansur al-Hadi, que fugiu do país para a capital da Arábia Saudita, Riad.
Na semana passada, a Aqap – apontada pelos EUA como a mais perigosa ramificação da Al Qaeda – capturou instalações do Exército e o porto de Al Mukalla, no sudeste do país.
No fim do mês passado, uma coalizão liderada pelos sauditas realizou ataques aéreos a alvos xiitas no país, em meio a temores de que o Iêmen caia sob domínio dos houthis e entre na zona de influência do Irã, rival da Arábia Saudita na região.
Assim como Carter, observadores internacionais afirmam que a Al Qaeda e outros grupos se aproveitam da instabilidade no Iêmen, onde, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 540 pessoas morreram desde o acirramento dos combates, em meados de março.
Grupos armados palestinos rejeitam "Estado Islâmico" em Gaza
Em um campo de treinamento escondido em uma área industrial da cidade de Gaza, um dos líderes militares da Brigada al-Nasser Salah al-Din, que faz parte da coalizão de milícias palestinas que operam na Faixa de Gaza, rejeita as alegações de que a organização extremista "Estado Islâmico" (EI) estaria ativa no enclave.
Abu Sayyaf usa uma máscara preta no rosto enquanto alguns de seus combatentes praticam exercícios militares atrás dele. Sob a vigilância de drones israelenses e balões de monitoramento que sobrevoavam a área, ele jura que grupos armados palestinos nunca permitirão o crescimento de uma célula local do EI em Gaza.
"Nós não estamos com medo de Da'esh [acrônimo árabe para EI], porque Gaza nunca aceitaria a sua presença", diz. "Internamente, as facções armadas jamais permitiriam. Nós iríamos intervir."
Ainda que o Hamas controle Gaza desde 2007, vários grupos armados de todo o espectro político – islamistas, nacionalistas seculares, esquerdistas – atuam na região, especialmente em tempos de guerra com Israel, como no brutal conflito de 51 dias entre Israel e Gaza em meados do ano passado.
Desde o fim daquela guerra, surgiram vários relatos na mídia sobre o EI. No início de fevereiro, um grupo que reivindica ser afiliado ao EI aparentemente sequestrou e agrediu o jornalista palestino Mohammed Omer e outras duas pessoas na cidade de Gaza. Eles foram soltos, posteriormente.
Em dezembro, panfletos supostamente distribuidos por afiliados locais do EI começaram a aparecer em Gaza. Um dos panfletos ameaçava as mulheres que não se vestem da maneira que o grupo jihadista considera aceitável.
Outro folheto ameaçava 18 escritores e poetas por suposto "ateísmo". "Advertimos os escritores e poetas de seus ditos, descasos e atos ateus", dizia o texto. "Nós damos aos apóstatas três dias para retirar suas apostasias e libertinagens e entrar para a religião do Islã."
Um vídeo postado no YouTube no início deste ano mostra um grupo de milicianos mascarados declarando sua lealdade ao EI em Gaza. E em fevereiro, o Conselho Shura Mujahedin nos Arredores de Jerusalém – grupo salafista baseado em Gaza -, divulgou um comunicado declarando estar "comprometido em ajudar [o EI] e reforçar suas fileiras".
"Não é uma guerra santa"
"Nós não estamos lutando uma guerra santa aqui em Gaza", afirma Sayyaf, prevendo que os grupos afiliados ao EI não vão ganhar popularidade entre os habitantes de Gaza. "É uma guerra para libertar o território ocupado."
Outros preferem não abordar diretamente a possibilidade de crescimento do EI em Gaza. Abu Khaled, um comandante das Brigadas de Resistência Nacional, a organização paramilitar da Frente Democrática para a Libertação da Palestina, alega que o "Estado Islâmico" é apoiado pelos EUA.
"A resistência palestina não interfere em outros assuntos árabes", garantiu Khaled. "Mas a Palestina não é um terreno fértil para grupos como o EI. A resistência está unida em sua base. Nosso inimigo é a ocupação israelense; não lutamos um contra o outro", acrescentou.
Desde que o Hamas tomou Gaza em 2007, a organização se impôs rigorosamente contra outros grupos armados, limitando a sua capacidade de agir de forma independente, afirma Benedetta Berti, analista do Instituto de Estudos de Segurança Nacional, em Tel Aviv.
O "Estado Islâmico" e outros grupos com ideologias similares rejeitam o nacionalismo do Hamas, enquanto o Hamas está comprometido com a luta armada contra Israel.
"Galhos de uma mesma árvore venenosa"
As tensões entre o Hamas e grupos salafistas radicais começaram em 2009, quando as forças de segurança de Gaza lutaram contra a organização salafista Jund Ansar Allah (Soldados dos apoiadores de Alá, em tradução livre) na faixa sul. Após a declaração do grupo de um emirado islâmico em Gaza, as forças do Hamas mataram o líder espiritual Abdel Latif Moussa e dezenas de seus homens num tiroteio durante a noite.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tem tentado promover a ideia de que há poucas diferenças relevantes entre o Hamas e o EI. "ISIS [acrônimo usado pelo premiê] e Hamas são ramos da mesma árvore venenosa", declarou em discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro de 2014. "Quando se trata de seus objetivos, o Hamas é o ISIS e o ISIS é o Hamas."
Joshua Landis, diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio na Universidade de Oklahoma, nos EUA, explicou que Netanyahu "quer pintar seu inimigo palestino como inimigo dos Estados Unidos, equivalendo os dois" num momento em que as relações entre EUA e Israel estão perturbadas.
"Gostaríamos de tranquilizar a todos de que o EI não existe na Faixa de Gaza, e as agências de segurança estão em pleno controle da situação", disse o porta-voz do ministério do Interior de Gaza, Eyad al-Bozum, ao canal árabe de notícias Al-Mayadeen, em dezembro.
Embora grupos afiliados ao EI estejam presentes, Berti diz que é impossível calcular o número exato de combatentes ou apoiadores. "Militarmente, nenhum desses pequenos grupos ou células pode desafiar o Hamas", concluiu. "Em geral, o equilíbrio de poder em termos de armamento e de mão de obra ainda está a favor do Hamas."