Cientista político questiona a credibilidade da ação movida pelo país africano contra Israel na corte internacional considerando o histórico e a manutenção de laços diplomáticos com o grupo terrorista
A África do Sul, país que acusou Israel de praticar genocídio contra os palestinos, mantém relações diplomáticas com o grupo terrorista Hamas. Visitas oficiais e relacionamento próximo entre as lideranças demonstram que a ação movida perante a Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas contra Israel é enviesada e sem fundamento, de acordo com o cientista político André Lajst, presidente-executivo da StandWithUs Brasil.
Uma foto do ex-presidente da África do Sul, Jacob Zuma, e Khaled Meshaal, ex-chefe do grupo terrorista Hamas, que hoje chefia o escritório da diáspora do grupo no Catar, ganhou notabilidade nas redes sociais recentemente, após a acusação do país africano contra Israel perante a Justiça Internacional. Outras imagens que mostram lideranças sul-africanas juntas ao Hamas também voltaram a circular.
A imagem destacada data de 2015, e mostra a visita oficial de uma delegação do Hamas à África do Sul. Na ocasião, o Ministério das Relações Exteriores de Israel emitiu um comunicado expressando preocupação com o encontro, e afirmando que a visita “fornece apoio ao terrorismo e ignora a posição da comunidade internacional que considera o Hamas uma organização terrorista”.
Oito anos depois, o Hamas foi responsável pelo maior atentado da história israelense recente, deixando mais de 1200 israelenses mortos. Hoje, os terroristas continuam mantendo quase 130 reféns, e Israel passou a travar uma guerra contra o grupo a fim de resgatar seus cidadãos que permanecem sendo mantidos em cativeiro e acabar com o grupo terrorista, segundo suas fontes oficiais.
O governo da África do Sul demorou a condenar as atrocidades do Hamas, embora eventualmente o tenha feito, mas foi rápido a pronunciar-se contra a retaliação de Israel em Gaza. Poucos dias depois do atentado de 7 de outubro, a Ministra das Relações Internacionais da África do Sul, Naledi Pandor, teve uma conversa telefônica com o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, aparentemente para discutir a obtenção de ajuda para Gaza. O Hamas afirmou que a Sra. Pandor expressou solidariedade com o grupo, embora ela tenha negado isso mais tarde. A ligação foi seguida por uma visita da ministra à Teerã, onde ela discutiu o assunto com Ebrahim Raisi, o presidente do Irã.
Na semana passada, a África do Sul moveu a ação contra Israel perante à Corte Internacional de Justiça. No entanto, exatamente uma semana antes do país fazer a acusação contra Israel, o atual presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, recebeu Muhammad Hamdan Dagalo, general sudanês cuja milícia Janjaweed e seu sucessor são acusados de genocídio e crimes de guerra em Darfur. Não obstante, Dagalo, também conhecido como Hemedti, visitou mais tarde o museu do genocídio em Kigali, no Ruanda.
Além disso, uma delegação do Hamas liderada por Bassem Naim, um alto funcionário do grupo terrorista, visitou a capital Pretória em 5 de dezembro do ano passado e participou de uma marcha em homenagem a Nelson Mandela junto ao próprio neto do líder da luta contra o apartheid, chamado Mandla. Os membros do Hamas depositaram uma coroa de flores ao lado da estátua de Mandela que fica fora do gabinete do presidente, junto a Lindiwe Zulu, ministra do desenvolvimento social.
“Com o histórico de contatos entre o governo sul-africano e o Hamas, a ação movida pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional se mostra claramente enviesada”, aponta André Lajst. “Manter as relações diplomáticas com um grupo que atacou deliberadamente israelenses apenas por serem israelenses, e também com outros líderes acusados de crimes de guerra, mostram uma clara divergência no entendimento do que é de fato genocídio”.
Lasjt considera que essa é mais uma acusação falsa de que Israel estaria cometendo um genocídio contra a população palestina. “De acordo com a definição de genocídio adotada pela ONU – formulada por um judeu para descrever os horrores do Holocausto – o que constitui tal crime é o intento de destruir no todo ou em parte um grupo nacional, étnico ou religioso”, explica o especialista em Oriente Médio. “O que Israel tem feito, contudo, é bastante diferente disso. Uma evidência são as muitas medidas para evitar as baixas civis na Faixa de Gaza durante a guerra contra o Hamas, como a distribuição de ajuda humanitária e a emissão de alertas e orientações para que civis saiam das zonas de conflito antes da atuação militar israelense”.
“O Brasil e os outros países que apoiaram essa ação movida pela África do Sul, cujos conceitos estão distorcidos, deveriam analisar as circunstâncias de forma menos enviesada e entender que Israel está lutando para se defender de um grupo terrorista que mantém seus civis reféns, assim como qualquer outro país que tivesse sofrido uma tragédia dessa magnitude faria, e não está eliminando deliberadamente a população civil palestina”, conclui Lajst.
A acusação da África do Sul
O Brasil apoiou oficialmente a ação da África do Sul, assim como Arábia Saudita, Bangladesh, Marrocos, Malásia, Turquia, Irã, Paquistão, Maldivas, Namíbia, Jordânia, Nicarágua, Venezuela e Bolívia. A Alemanha rejeitou a denúncia sul-africana, e ressaltou que Israel estava apenas se defendendo. Israel também recebeu apoio dos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá.
Sobre a acusação, Lior Haiat, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, disse por meio de um comunicado de imprensa que a ação da África do Sul era “uma das maiores demonstrações de hipocrisia da história, agravada por uma série de alegações falsas e infundadas”. Além disso, acusou o país africano de ser um “braço legal da organização terrorista Hamas” e ter distorcido a realidade, ignorando o fato de que “os terroristas do Hamas se infiltraram em Israel, assassinaram, executaram, massacraram, violaram e raptaram cidadãos israelenses simplesmente porque eram israelenses” – o que pode ser classificado como um genocídio.