Guila Flint
O líder do Hamas na Faixa de Gaza, Mahmoud al Zahar, afirmou em entrevista publicada nesta terça-feira que o acordo para a troca de 1.027 prisioneiros palestinos pelo soldado israelense Gilad Shalit inclui o fim do cerco imposto por Israel à Faixa de Gaza.
O cerco, que impõe fortes restrições à vida dos 1,5 milhão de palestinos residentes no território, foi decretado há mais de dez anos, mas se tornou mais rígido após a captura do soldado israelense Gilad Shalit, em junho de 2006.
Na entrevista, concedida ao jornal israelense Haaretz, Al Zahar diz que, além de incluir o fim ao cerco, o acordo firmado entre Israel e o Hamas também prevê o cancelamento das medidas tomadas pelas autoridades israelenses há alguns meses para endurecer as condições dos prisioneiros palestinos em cadeias israelenses.
O governo israelense ainda não se pronunciou sobre as declarações do líder do Hamas sobre o suposto fim do cerco à Faixa de Gaza.
Na entrevista, Al Zahar afirmou que "depois da libertação de Shalit, Israel não tem mais pretextos para continuar com o cerco à Faixa de Gaza".
Mudança nas relações
Dias antes da libertação dos prisioneiros, Al Zahar já havia feito um pronunciamento sem precedentes, indicando uma mudança nas relações entre Israel e o Hamas, convidando o governo israelense a "realizar negociações pacificas sobre a libertação dos demais prisioneiros".
Al Zahar, que já perdeu um filho e vários outros familiares quando o Exército de Israel tentou matá-lo bombardeando sua casa na Faixa de Gaza, é considerado um dos líderes mais radicais do Hamas.
O analista da rádio estatal de Israel Eran Zinger afirmou nesta terça-feira que "nos bastidores provavelmente se configura uma decisão estratégica de Israel de mudar sua atitude em relação ao Hamas".
O Hamas não reconhece a existência de Israel, cuja posição tradicional em relação à organização militante islâmica é de que se trata de "um grupo terrorista que quer destruir Israel".
Segundo a reportagem do jornal Haaretz, fontes oficiais israelenses disseram que o acordo de troca de prisioneiros representa uma "mudança" nas relações entre Israel e o grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza.
As fontes oficiais também disseram ao jornal que, após a libertação de Shalit, Israel deverá analisar formas de afrouxar o cerco à Faixa de Gaza, incluindo a permissão à passagem de palestinos para a Cisjordânia (através do território israelense) e à exportação de produtos da Faixa de Gaza para Israel e para o exterior.
Durante o último ano, as autoridades israelenses anunciaram um certo relaxamento do cerco à Faixa de Gaza, permitindo a entrada de uma quantidade maior de mercadorias no território palestino, principalmente alimentos e medicamentos.
Vitória do Hamas
De acordo com Ahmed Tibi, deputado árabe-israelense, o acordo de troca de prisioneiros "representa, sem dúvida, uma vitória do Hamas às custas do Fatah (grupo político rival, que controla a Cisjordânia)".
Para Tibi, o acordo "envia uma mensagem para os palestinos de que só é possível libertar prisioneiros à força".
Em entrevista ao canal 1 da TV israelense, Tibi afirmou que durante anos de negociações o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, não conseguiu o que o Hamas obteve com a captura de Shalit.
"Os palestinos recebem a mensagem de que o caminho das negociações não produz resultados", afirmou o deputado.
Sofrimento
O deputado do Fatah no Parlamento palestino Fayez Saqqa disse à BBC Brasil que "não devemos esquecer que a captura de Shalit causou muito sofrimento à população de Gaza".
"Independentemente de como foi feito o acordo, fico muito contente com a libertação de mais de mil combatentes pela liberdade palestina", disse Saqqa. "Mas nós, do Fatah, criticamos a conduta do Hamas".
"Milhares de palestinos morreram e 1,5 milhão sofreram com o bloqueio depois da captura de Shalit, além de toda a destruição causada pelos ataques israelenses à Faixa de Gaza", afirmou.
"Capturando Shalit o Hamas deu a Israel um pretexto para agravar a agressão contra nosso povo", observou.
Para o deputado palestino, o fato de o Hamas e Israel terem escolhido este momento para efetuar a troca de prisioneiros tem relação com o pedido de reconhecimento do Estado Palestino, que o presidente Mahmoud Abbas dirigiu à ONU em setembro.
"O governo israelense ficou isolado diplomaticamente e o Hamas ficou enfraquecido junto à opinião publica palestina e queria se colocar como protagonista na arena internacional", concluiu Saqqa