Luiza Damé
BRASÍLIA. Às vésperas da viagem que fará a Portugal no fim do mês, a presidente Dilma Rousseff deu entrevista ontem para a rede de televisão portuguesa SIC e lamentou o ataque dos países aliados à Líbia, anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante sua visita ao Brasil. Segundo relato do escritor e jornalista Miguel Sousa Tavares, que fez a entrevista, Dilma disse não gostar de "declaração de guerra onde quer que seja".
Na entrevista que irá ao ar no próximo domingo, a presidente deixou transparecer certa frustração com o resultado da visita de Obama, especialmente no que diz respeito às barreiras impostas à entrada de produtos brasileiros nos Estados Unidos, como carne, algodão, aço, etanol e suco de laranja. Dilma repetiu na entrevista que, se as barreiras não forem retiradas, o Brasil manterá a prática da triangulação, vendendo para a China, que, depois, faz a revenda para os EUA.
Durante a conversa de 45 minutos, Dilma se surpreendeu ao ser informada sobre a demissão do primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates. A presidente embarcará para Portugal na próxima segunda-feira, para participar da solenidade em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberá o título de doutor honoris causa da Universidade de Coimbra. Antes dele, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Juscelino Kubitschek receberam o título.
Dilma, que terá um dia de agenda livre em Portugal, terça-feira, também se reunirá com o presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva e volta ao Brasil dia 31.
Dilma diz que inflação no Brasil é um trauma
Ainda na entrevista à TV portuguesa, Dilma disse que, nos primeiros cem dias de governo, precisou tomar duas medidas duras: o valor do salário mínimo e o corte no Orçamento. Ao explicar as medidas, afirmou que, no Brasil, a inflação é um "trauma", um imposto injusto, que afeta mais os trabalhadores do que os empresários. Ela disse que o governo trabalha no combate à inflação para "não ter nada próximo do que houve no passado".
Dilma defendeu a Comissão da Verdade (que será criada para apurar violações de direitos humanos durante a ditadura) e disse crer que a proposta será aprovada, com o apoio da base governista. Ela reconheceu, porém, que é difícil o processo de negociação com o Congresso, a cada votação de projeto importante.
A presidente disse não se sentir à vontade para pedir um autógrafo a Miguel Sousa Tavares – autor de "Equador" e "Rio das Flores" -, mas agradeceu por ele "escrever tão bem na nossa língua". O escritor deu um livro com dedicatória à presidente.