A Teoria do Louco e o Blefe Diplomático de Trump

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a chamar a atenção no cenário internacional com sua abordagem diplomática marcada por imprevisibilidade e declarações audaciosas.

Por Redação DefesaNet

Em recente encontro no Salão Oval com o presidente ucraniano Volodimir Zelenski, Trump deixou clara sua predileção por metáforas de jogo e apostas: “Você não tem as cartas no momento. Conosco, você começa a ter cartas”, disse, em tom que misturou pressão e teatralidade. Zelenski retrucou que não estava “jogando cartas”, ao que Trump respondeu: “Está sim. Está apostando com a vida de milhões e com a Terceira Guerra Mundial”. Dias após o diálogo, a suspensão da ajuda militar e financeira americana à Ucrânia, em guerra contra a Rússia, tornou-se fato, sugerindo que o blefe pode ter sido mais que retórica.

A estratégia de Trump, que oscila entre ameaças e ações concretas, remete à chamada “teoria do louco”, conceito cunhado por Richard Nixon durante a Guerra do Vietnã. A ideia é simples: projetar uma imagem de instabilidade ou imprevisibilidade para intimidar adversários e alcançar objetivos estratégicos. “Ser visto como louco pode ser útil em negociações coercitivas, especialmente quando cumprir ameaças é custoso”, explica Roseanne McManus, cientista política da Universidade Estadual da Pensilvânia, em entrevista ao portal DW. No entanto, ela pondera: “É muito difícil distinguir loucura genuína de um blefe crível”.

Richard Nixon criou o termo “teoria do louco”, em que colocou a percepção de instabilidade mental de um governante como trunfo diplomático

O blefe, historicamente uma ferramenta diplomática poderosa, já moldou a dissuasão nuclear – o maior exemplo de ameaça que, sob o risco da destruição mútua (MAD, em inglês), evitou até hoje uma guerra termonuclear. Trump, porém, vai além: suas jogadas não se limitam a adversários como Rússia ou China.

Ele também aplica a “loucura” contra aliados, como ao ameaçar retirar os EUA da Otan ou impor tarifas comerciais a parceiros como União Europeia, México e Canadá. “Trump distribui essa imprevisibilidade a todos os lados, o que o diferencia de presidentes anteriores”, observa McManus.

Exemplos de ações concretas reforçam a percepção de que nem tudo é blefe. A saída dos EUA da Organização Mundial de Saúde (OMS), o corte de verbas para ciência e a deportação de imigrantes mostram que Trump, por vezes, transforma palavras em atos. “Verificar se suas ameaças são vazias ou intencionais é extremamente desafiador”, avalia Seden Akcinaroglu, cientista político da Universidade de Binghamton, em Nova York. Ainda assim, ele destaca que mesmo ameaças aparentemente vazias podem funcionar se intimidarem adversários ou mobilizarem apoio interno.

Um ponto intrigante no segundo mandato de Trump é a mudança de foco. Diferente da postura tradicional de confronto com a Rússia, ele parece buscar uma aproximação com Moscou, enquanto aplica a “teoria do louco” contra a Europa. As ameaças de abandonar a Otan, somadas a insinuações de que os EUA podem não defender aliados europeus contra um eventual ataque russo, criam um clima de incerteza. “Não está claro quais são suas reais intenções”, aponta McManus, destacando a dificuldade de decifrar os limites entre estratégia e impulsividade.

A reputação de “louco” é, para Trump, um trunfo que ele explora conscientemente. Mas sua eficácia depende de consistência: líderes que nunca cumprem ameaças perdem credibilidade, enquanto ações pontuais – como as tarifas recentes – a sustentam. “Se Trump mantiver esse padrão, poderá preservar essa imagem”, prevê McManus. Resta ao mundo especular até onde vai o blefe e onde começa a realidade, em um jogo diplomático de apostas altas onde o presidente americano parece confortável em manter todos na dúvida.

Fonte: Deutsche Welle

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