Os cenários de Afeganistão e Mali deram lugar a duas operações muito diferentes, apesar de alguns pontos em comum que alimentam o temor de um "novo Afeganistão" no Sahel.
A intervenção militar no Mali, que mobiliza 2.150 soldados franceses, é, superando o Afeganistão, a operação exterior mais importante do exército francês. Ambas têm por justificativa a luta contra o terrorismo. A primeira pode fazer lembrar a intervenção americana em 2001 depois dos atentados de 11 de setembro, e, como ela, pode durar anos.
Esta guerra contra o terrorismo na África "levará anos", inclusive décadas", considerou o primeiro-ministro britânico, David Cameron, após a sangrenta tomada de reféns da Argélia.
As tropas da Otan estão no Afeganistão há onze anos. No Mali, a grande incógnita é a duração da operação francesa.
"A situação não é simples, mas parece muito menos difícil de solucionar que a do Afeganistão. Não acredito que erradique o terrorismo, mas pode levar a situação a um nível suportável", considera Eric Denecé, do Centro Francês de Pesquisa sobre Inteligência (CF2R).
Assim como no Afeganistão, trata-se no Sahel de atacar o terrorismo. Embora "a comparação com o Afeganistão não seja pertinente", "há uma analogia, a luta contra o terrorismo", afirmou o chanceler francês Laurent Fabius.
Em 2011, tentava-se lutar contra a Al-Qaeda no Afeganistão, e hoje o objetivo é lutar contra a Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) e os outros grupos islamitas presentes no Sahel.
Oficialmente, não é o papel do exército francês estar na linha de frente no Mali. Até pouco tempo atrás, seu principal objetivo era ajudar sua ex-colônia na reconstituição do exército malinense e dar apoio logístico a uma força africana prevista pela ONU para ajudar Bamako a reconquistar o norte do país nas mãos dos grupos islamitas.
Também no Afeganistão, os soldados franceses e os da Otan formaram unidades afegãs para transferir a elas, com maior ou menor êxito, a responsabilidade pela segurança do país.
No Mali, grande parte das operações irá ocorrer em zonas desérticas, praticamente sem população e ao longo de grandes distâncias. No Afeganistão, pelo contrário, os franceses estavam a cargo da segurança de zonas geográficas limitadas e no âmbito de uma grande coalizão.
A do Mali "é uma guerra de movimento", afirmou no domingo o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, dez dias após o início da guerra.
Muitas das unidades francesas mobilizadas no Mali serviram antes no Afeganistão, onde adquiriram uma grande experiência em situações de combate. O exército francês também tem experiência em operações em países africanos e mobilizou blindados leves adaptados ao terreno. As bases francesas da África Ocidental (Gabão, Chade, Burkina Faso…) fornecem pontos de apoio de logística e reabastecimento.
Mas, diferentemente dos talibãs, cujo armamento era rudimentar (Kalashnikov, lança-foguetes, minas…), os grupos islâmicos do Mali estão fortemente armados, dispondo de armas leves, metralhadoras pesadas e provavelmente mísseis terra-ar recuperados na Líbia, o que é uma ameaça para os aviões e helicópteros franceses.
Finalmente, diferentemente do Afeganistão, onde os talibãs podiam passar desapercebidos nas aldeias e gozavam do apoio de uma parte da população, os habitantes do Mali são majoritariamente hostis aos grupos islamitas, cujos líderes são estrangeiros em sua maioria.