Exército entra em fase final de compra bilionária para substituir artilharia da Segunda Guerra. No foto o concorrente francês CAESAR da empresa NEXTER
Pelo cronograma dos militares, objetivo é ter uma lista de fornecedores pré-selecionados em dezembro e anunciar o vitorioso em maio de 2024
Daniel Rittner
Jussara Soaresda
CNN Brasília
Em um negócio estimado em quase R$ 1 bilhão, o Comando do Exército entrará na fase final de seleção para a compra de 36 veículos blindados de combate obuseiros (Projeto de Viatura Blindada de Combate Obuseiro Autopropulsado 155 mm Sobre Rodas).
Eles vão substituir equipamentos incorporados pela força terrestre entre a Segunda Guerra Mundial e a década de 1970.
Na terça-feira (14NOV2023), o Exército esperava receber as propostas de empresas interessados na encomenda. Porém, a entrega foi adiada para o dia 6 de fevereiro, informou a Força. Com isso, o anúncio da proposta vencedora ocorrerá em maio do próximo ano.
Cada veículo deve custar em torno de US$ 5 milhões. Tendo esse valor como base, a encomenda total de 36 unidades poderá chegar a US$ 180 milhões — cerca de R$ 900 milhões pela taxa de câmbio atual.
Além disso, o Exército calcula uma necessidade de gastar de 15% a 20% adicionais no treinamento e capacitação de suas tropas para uso do equipamento, que tem como objetivo atualizar e reforçar seus sistemas de artilharia.
Considerados armamentos pesados, pelo alto poder destrutivo, obuses são uma espécie de canhão dos tempos modernos, nos quais projéteis explosivos são disparados dentro de um tubo que dá direcionamento até o alvo.
Eles podem ser usados individualmente (rebocados), mas tornou-se mais comum instalá-los em veículos blindados (autopropulsados).
A nova linha de obuseiros será sobre chassis de veículos, diferentemente dos sistemas rebocados, e justamente por isso permite maior articulação com forças mecanizadas. Com essa renovação, o Exército vai ganhar mais mobilidade e alcance.
Os sistemas que estão sendo comprados pelo Brasil vão chegar no chamado “padrão OTAN”, com projéteis de 155 mm e maior poder de fogo.
Segundo relatos feitos à CNN por fontes militares, os obuseiros atuais do Exército demoram até 15 minutos para dar o primeiro tiro e levam oito minutos para disparar dez tiros. Nos novos sistemas, são cinco minutos para o primeiro tiro e até seis disparos por minuto.
Processo de seleção
Em agosto, o Exército lançou um “Request for Proposal” (RFP) — pedido oficial de proposta — para fornecedores interessados na encomenda. O prazo para a entrega de ofertas é esta terça-feira.
Pelo cronograma dos militares, segundo relatos feitos à CNN, o objetivo é ter uma “short list” (lista dos concorrentes pré-selecionados) em dezembro.
A partir daí, inicia-se uma fase que os fardados chamam de “diálogo competitivo” (negociações finais) com as empresas. A intenção é anunciar o vitorioso no processo em maio de 2024. As entregas deverão começar em 2025 e se estender por dez anos (até 2035).
O menor preço não é o único critério da aquisição — e nem necessariamente o principal. Como costuma ocorrer em projetos na área de defesa, o Exército pretende exigir “offset” tecnológico, que envolve obrigações como transferência de tecnologia ou uso de conteúdo local para o futuro grupo fornecedor do equipamento.
No caso dos obuseiros, o offset deverá se concentrar na nacionalização da capacidade fabril de munições, preferencialmente em associação com uma empresa brasileira (a Imbel é favorita para isso), segundo fontes ouvidas pela CNN. Hoje, as munições para esse tipo de equipamento não são produzidas no Brasil.
Novo PAC Defesa
A questão orçamentária é vista com relativa tranquilidade pelo Exército, já que as Forças Armadas terão recursos garantidos no Novo PAC, o programa de infraestrutura lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em agosto. Um dos eixos do programa é a indústria de defesa.
O Exército assegurou R$ 6,7 bilhões para seus projetos estratégicos no período 2024-2027. Esses projetos contemplam forças blindadas, o sistema Astros (de lançadores múltiplos de foguetes), o Sisfron (sistema de monitoramento de fronteiras) e a parte de aviação (principalmente helicópteros e drones) da força terrestre