Nelson Düring
Editor-chefe DefesaNet
clique nas imagens para expandir
Uma discussão histórica desde as etapas finais da Segunda Guera Mundial quando o temido 88 mm alemão e sua contra parte o Firefly inglês estabeleceram a corrida pelo calibre do canhão de carro de combate.
Com o surgimento do L7 A3, 105 mm raiado inglês nos anos 50, que tornou-se padrão dos carros. Por um tempo, a arma padrão para MBT e Mobile Gun System foi o canhão 105 mm raiado. Equipou os Carros de Combate de várias Forças Armadas como: o americano M60, alemão Leopard (todos os modelos), suiço Pz68, japonês Type 74, israelense Merkava 1 e 2, além de muitos outros modelos
Em geral, as armas raiadas eram originalmente o esteio da maioria dos canhões de tanques no passado. A maior vantagem que eles forneceram foi que eles eram consistentemente mais precisos do que as armas de cano liso. Isso ocorre porque a espingarda dentro do cano gira o projétil à medida que é disparado, estabilizando-o e tornando-o mais preciso. As principais munições utilizadas foram HE (High Explosive), HEAT (High Explosive Anti-Tank), APDS (Armor Piercing Discarding Sabot) e HESH (High Explosive Squash Head).
A tecnologia disruptiva foi a combinação entre o cano de alma lisa e as munições APFSDS (Armor Piercing Fin Stabilized Discarding Sabot), que não precisa do raiameno para a estabilização durante o voo. As armas de alma liso têm a vantagem de serem mais adequadas para disparar munições APFDS.
Há também o benefício adicional dos canos poderem durar mais tempo com desgaste reduzido do cano em comparação com as armas raiadas embora a maior pressão interna gerada.
Resumidamente:
• Precisão
A munição de 120mm tem cerca de 20% de menor dispersão com a mesma distância usando a munição APFSDS, projetada especificamente para canhão de alma liso.
• Letalidade
O 120mm é otimizado para HEAT (maior peso da ogiva com HE) e APFSDS (maior energia cinética com KE), com mais de 30% de aumento de penetração.
• Munição
– Desenvolvimento de novas munições APFSDS 120mm e munições multiuso;
– Nenhuma munição multiuso de 105mm projetada disponível;
– Desempenho independente de temperatura para munição de 120 mm (não disponível para 105 mm)
• Força de Recuo
– 105mm e 120mm têm a mesma força de recuo (a força de recuo é proporcional ao peso da massa de recuo)
• Peso
Vantagens únicas para o canhão de 105 mm, mais leve que 120 mm.
• Segurança
A arma 105 usa cartuchos metálico completos, enquanto a 120 usa cartucho parcialmente combustíveis (resta só a base do cartucho). Um grande problema das armas de tanque é a disposição dos cartuchos vazios após o disparo. Os cartuchos vazios são ejetados no chão da cesta da torre e ficam quentes demais para serem tocadas por um tempo e contêm resíduos de pó tóxico. O carregador aguarda a primeira pausa disponível no disparo e abre suas escotilhas superiores para arremessar o cartucho vazio, para que não se acumulem e interfiram no carregamento adicional. Com o advento da 120 mm, o problema do que fazer com os cartuchos vazios foi resolvido empregando-se um cartucho combustível feito de nitrocelulose.
– Os cartuchos full case são mais perigosos devido às suas dimensões para os compartimentos da tripulação e devem ser evacuados com frequência.
A Competição da Performance entre Blindagem e Penetração
A tabela acima, baseada em dados das Força Armadas Americanas, mostra a evolução entre a blindagem e a capacidade de penetração das munições.
Mostra em especial a performance do canhão soviético 125 mm / alma lisa frente aos 105 mm/ raiado e o 120 mm / alma lisa americanos. A introdução do Abrams M1A1 (linha tracejada azul), em meados dos anos 80 leva a uma capacidade maior de penetração, superando o avanço das blindagens soviéticas tanto em metalurgia, mateiais compostos e reativas. Surge no Ocidente a predominância do canhão alemão Rheinmetall RH120 mm alma lisa equipand os carros M1A1 e A2 americanos, todos o Leopard 2 com variantes em calibre, Merkava 3/4 israelense etc
O canhão 105mm raiado tem praticamente a sua capacidade de penetração defasada com a entrada em operação das últimas gerações de carros de combate soviéticos T-72, T-80 e T-90.
A experiência de um tanquista alemão
Um oficial de cavalaria do exército alemão que operava com Leopard 2, afirmou à DefesaNet sua experiência com o canhão Rheinmetall RH120mm / alma lisa.
Ele foi categórico em dizer que 120 é o calibre mínimo hoje e que tendência é aumentar para 130 e 140mm (ver matéria abaixo).
A maior probabilidade de acerto do 120mm no primeiro tiro e possibilita outros tipos de munição mais modernas. Na era dos mísseis ATGM quanto maior a distância do engajamento mais seguro é. Na sua experiência comentou que um veículo de combate de cavalaria precisa enxergar primeiro, desferir o primeiro tiro com precisão e sair de posição, se errar o tiro revela sua posição e pode rapidamente virar alvo.
Também comentou que no início do combate, ver seus veiculos de combate serem destruídos pode ser arrasador para o moral da tropa. Ele ressaltou a importância da velocidade de detecção e aquisição do alvo, distância de engajamento e precisão e poder de fogo como elementos fundamentais para o sucesso da cavalaria na guerra moderna.
O US Army apresentou na EUROSATORY as munições 120mm em uso no carro de Combate Abrams M1A1 e A2. Observar que há 3 munições APFDS e 1 APDS. Foto Autor
O futuro 130 x 140 mm para Carros de Combate
Com o fim da Guerra Fria os projetos que estavam em andamento de novos canhões de carro de combate, na faixa de 130 a 150 mm, foram desativados na OTAN.
Retomados mais recentemente surgem dois projetos, que merecem ser analisados.
Na última EUROSATORY 2022, realizada em junho último em Paris, mostrou dois projetos de novos canhões de carro de combate. O projeto do 130mm alma lisa da alemã Rheinmetall FGS (Future Gun System) e o 140 mm Ascalon da francesa NEXTER.
Ambos competem no futuro carro de combate europeu. Os fabricantes não divulgaram dados de performance, mas a NEXTER publicou um pequeno release que mostra o objetivo com o sistema ASCALON. Um canhão para 50 anos.
Canhão ASCALON de 140mm e munição da empresa francesa NEXTER Foto Autor
120 mm alma lisa o substituto do 105 mm raiado
Podemos avaliar que a evolução do dos Teatros de Operações a partir das ações na Ucrânia e o dessenvolvimento tecnol[ógico em aguns pontos chaves que recomeçaram em blindagens, tanto ativas como passivas e poder de fogo em especial captura de alvos..
A velocidade da munição 120mm 1.600-1800 m/s permite que a linha de visada passse de 1.500 para 2.500 ou até 3.000 metros. A empresa NEXTER trabalha com a perpectiva de alvos a 5.000 metros para o sistema ASCALON de 140 mm.
A linha de munições de 120 mm tanto cinéticas como explosivas permite um balanço de operções em áreas urbanas.
O ciclo de 70 anos do excelente canhão L7A3 105 mm raiado deverá ser sucedido em Viaturas Blindadas de Cavalaria por um canhão de 120 mm alma lisa de nova geração.