Pedro Paulo Rezende
Especial para DefesaNet
Arte Comunicação Social do Exército
Fotos Subtenente Ageu & Subtenente Huelison
A proposta vencedora do projeto de modernização do carro de reconhecimento sobre rodasdo ENGESA EE-9 Cascavel tem um mérito: é viável tecnicamente. Não é algo esotérico, como instalar uma torre não tripulada equipada com um canhão automático de 30 milímetros e tentar espremer um tripulante no casco da viatura, que só tem espaço para o motorista.
O diretor de Fabricação do Exército, General-de-Divisão Tales Villela — e o presidente do Grupo Akaer, César Augusto Andrade e Silva, após a assinatura do contrato.
O diretor de Fabricação do Exército, General-de-Divisão Tales Villela, o presidente do Grupo Akaer, César Augusto Andrade e Silva, e o chefe do Estado-Maior do Exército, General-de-Exército Valério Stumpf Trindade, trocam impressões. Na foto o correspondente de DefesaNet.
O projeto apresentado pelo consórcio Força Terrestre — formado pela Akaer Engenharia, Opto Space (do grupo Akaer) e Universal Importação, Exportação e Comércio ltda — propõe a troca de sistemas ultrapassados por equipamentos modernos de maneira a ampliar a capacidade de combate do veículo por meio de sistemas optrônicos avançados, a colocação de mísseis antitanques e a instalação de um motor mais potente e a troca de componentes mecânicos por outros mais reforçados.
Depois da cerimônia de assinatura do contrato entre o Comando do Exército — representado pelo diretor de Fabricação do Exército, General-de-Divisão Tales Villela — e o presidente do Grupo Akaer, César Augusto Andrade e Silva, o chefe do Estado-Maior do Exército, General-de-Exército Valério Stumpf Trindade, comemorou:
— Estamos entregando um programa concreto que irá beneficiar diretamente a Força — afirmou o Gen Ex Stumpf.
O contrato firmado entre as partes, no valor de R$ 74.643.957,23, abrange a fabricação de dois protótipos e sete unidades de pré-série e poderá ser estendido para a modernização de um total mínimo de 98 carros podendo chegar a 201 unidades.
O sistema eletrônico contará com um computador de comando e controle (C2) que irá analisar, em tempo real, todos os sensores espalhados pelo veículo para a leitura dos parâmetros ambientais que interferem na execução das missões. A Diretoria de Fabricação já empenhou um valor aproximado de R$ 24 milhões para cobrir o desenvolvimento dos dois protótipos.
Matricialidade
Um ponto positivo do projeto de modernização está na decisão de envolver os usuários de forma matricial no processo de confecção do Requerimento de Propostas (RFP na sigla em inglês). As unidades do Comando Militar do Sul (CMS), onde se concentra a maioria dos 409 EE-9 Cascavel remanescentes, puderam opinar, com base em sua experiência operacional, nos requerimentos desejáveis para o processo de modernização. Este trabalho foi coordenado pela Diretoria de Fabricação do Exército, órgão ligado ao Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército.
Os requisitos desenhados apontaram, entre outros pontos, para a necessidade de:
– Um custo máximo por unidade equivalente a 30% do valor do vencedor do programa Viatura Blindada de Combate de Cavalaria — VBC Cav (nota 1);
– Um alcance ofensivo superior a quatro quilômetros;
– Visores com capacidade de engajar alvos com capacidade de combate noturno e em quaisquer condições climáticas;
– Ampliação da capacidade situacional para todos os tripulantes do carro;
– Sistema de combate comandado por computadores;
– Ampliação da precisão de tiro com a inclusão de sensores atmosféricos;
– Instalar um servo mecanismo para a torre;
– Instalação de um motor mais potente.
Em resposta a estes requisitos, o Consórcio Força Terrestre propôs:
– Instalação de um míssil antitanque sem a retirada do canhão Cockerill / Engesa de 90 milímetros;
– Instalação de seis sensores optrônicos multiespectrais com capacidade termal e de ampliação de luz para substituir o periscópio e outros sistemas óticos do comandante do carro;
– Instalação de quatro sensores optrônicos multiespectrais para o motorista de maneira a dar um campo de visão de 360°;
– Instalação de quatro sensores optrônicos multiespectrais para o atirador;
– Sistema de controle de tiro digital com sensor atmosférico com alimentação opcional por tablet;
– Troca do motor por outro mais potente;
– Recuperação do canhão de 90 milímetros;
– Instalação de um servo mecanismo para o giro da torre e elevação do canhão de 90 milímetros;
– Instalação de um ar-condicionado para ajudar na refrigeração dos sistemas eletrônicos e melhorar a habitabilidade e ergonomia da viatura.
De acordo com o responsável pelo projeto, o general Tales Villela, a ideia é utilizar o máximo de componentes comuns com o vencedor da licitação para a aquisição de uma viatura de combate de cavalaria em plataforma 8 x 8, o Programa VBC Cav, que ainda se encontra em fase pré-licitatória. O requerimento para recebimento de propostas (RFP, na sigla em inglês) só será liberado em 20 de julho próximo.
Levará, no mínimo, três meses para o exame das ofertas e a decisão pelo vencedor. Além disto, os possíveis candidatos estão equipados com sistemas optrônicos e de direção de tiro sofisticados e caros, o que pode impedir seu uso na modernização do Cascavel. Segundo o diretor de Fabricação do Exército, cerca de R$ 24 milhões já foram alocados ao projeto de modernização.
O presidente do grupo Akaer, César Augusto Andrade e Silva, disse sua empresa recebeu propostas de parcerias de consórcios interessados em participar do VBC Cav. Segundo ele, os trabalhos já começaram em um EE-9 Cascavel que já foi entregue pelo Exército no Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), onde serão montados os protótipos, o lote piloto e as viaturas de série. No momento, apenas as questões relativas à reengenharia do carro de reconhecimento, que está em serviço há 50 anos, seguem em estudo. Serão examinadas as alternativas de reforço da suspensão e da transmissão. A participação da Universal, empresa que trabalha na recuperação de peças Engesa, será fundamental nesta fase.
Segundo o general Tales Villela, a data de entrega do primeiro protótipo é julho de 2023 (o segundo está previsto para setembro).
Configuração atual do ENGESA EE-9 Cascavel
Obra aberta
Por enquanto, há mais indefinições que certezas no programa. O Consórcio Força Terrestre selecionou a Cummins Brasil para fabricar o novo grupo motor do Cascavel, mas, segundo Tales Villela, a unidade motriz proposta inicialmente poderá ser trocada:
— Tivemos uma reunião com a Cummins e ela nos propôs trocar o motor previsto por outro mais moderno, de mesmo tamanho e custo, mas com maior potência — afirmou.
A potência, dentro da nova proposta, sairia de 325 hp para 350 hp.
Esta indefinição atinge o modelo de míssil que poderá ser empregado no Cascavel modernizado, segundo o diretor de Fabricação:
— Examinamos várias alternativas que atendem o requisito de alcance maior que quatro quilômetros.
A posição do míssil no carro de reconhecimento também está em estudo, segundo o presidente da Akaer:
— Há uma probabilidade da posição do míssil ser colocada acima da torre do Cascavel e não na lateral. A torre também pode ficar mais alta em função do sistema servo assistido.
Em suma, apesar da assinatura do contrato e do início dos trabalhos, há mais indefinições do que pontos concretos na modernização do EE-9 Cascavel. As partes acentuam a importância do projeto para a Base Industrial de Defesa, mas ainda é necessário escolher o míssil antitanque que equipará o carro e definir o vencedor do VBC Cav, o mais importante projeto atual do Exército, para consolidar os processo de transferência de tecnologia dos optrônicos e os offsets que beneficiarão o Consórcio Força Terrestre.
Nota: O Programa VBC Cav visa a aquisição de 221 viaturas de combate de cavalaria em plataforma 8 x 8 armada com um canhão de 105 milímetros ou 120 milímetros.
Presenças civis e militares ao evento no QG do Exército
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