Gripen F-39E sendo desembarcado no porto de Itajaí SC – Foto FAB
Nelson F. Düring
Editor-Chefe DefesaNet
Nota DefesaNet Mensagem recebida da Embaixada da Suécia no Brasil, Brasília DF. Clarification Note received from Sweden Embassy Abaixo as matérias relacionadas a esta NOTA de ESCLARECIMENTO, tanto em Português como em Inglês. Embaixada da Suécia – Sweden Embassy Gripen – Embaixada da Suécia envia Nota de Esclarecimento Gripen Embassy of Sweden in Brazil sends NOTE of CLARIFICATION DefesaNet Gripen e Suécia – Os impactos da geopolítica no Programa Gripen e a necessidade de reavaliar Gripen and Sweden – The impacts of geopolitics on the Gripen Program and the need to reevaluate Somente em Português – Just in Portuguese CNN repercute matéria de DefesaNet “Suécia e Brasil têm compromisso de longo prazo no projeto Gripen afirmam” Suécia estuda compra do avião brasileiro KC-390 no fim de 2024 por causa de ameaça da Rússia O Editor |
A Força Aérea Brasileira (FAB) comprou 36 caças JAS 39 Gripen da empresa sueca SAAB. O anúncio do vencedor do Programa F-X2 ocorreu, em 2013, e o contrato foi assinado, em 2014, na gestão da Presidente Dilma Rousseff.
Previa o desenvolvimento e aquisição conjunta da nova versão da aeronave, chamada de Gripen F-39E, um avião maior e mais moderno, em relação ao Gripen 39 C/D, capaz também de competir no mercado internacional como opção ao caça americano F-35. Quase dez anos depois, a FAB só recebeu 6 aeronaves. Os suecos planejavam adquirir 60 aviões e vender mais de 100 unidades para o Brasil, em diversos lotes. Além do projeto de desenvolvimento conjunto, pesou na decisão o fato de a Suécia ser um país neutro, não fazer parte da OTAN e não se subordinar a todas as restrições de exportação de tecnologias sensíveis, que muito afetaram a Base Industrial de Defesa e a operacionalidade das Forças Armadas Brasileiras.
Mas ninguém podia imaginar que, em 2014, o maior adversário da Suécia, a Rússia iria anexar o território da Crimeia e criar uma guerra por procuração no leste da Ucrânia. Uma luz vermelha acendeu em toda a Europa. O receio do expansionismo russo fez com que os países neutros e aqueles membros da OTAN se preocupassem ainda mais com sua segurança nacional e coletiva, aumentando os investimentos em defesa, principalmente focando na interoperabilidade e na comunalidade logística dentro da Aliança Atlântica.
Com a drástica mudança no cenário geopolítico europeu e mundial, todas as concorrências para caças em que o Gripen 39 E participou foram vencidas pelo F-35. O mercado para o caça sueco-brasileiro se fechou completamente. Até usuários do Gripen migraram para o F-35, como foi a República Tcheca. Além da tecnologia de um caça de 5ª Geração, o F-35 ficou com valores finais muito atraentes devido a elevada cadência de produção e o número de operadores cada vez maior, com potencial de se tornar a principal aeronave de combate das próximas décadas. (Notas DefesaNet – F-35 + 935 aeronaves entregues, 17 Forças Aéreas adquiriram e está operacional em 14 – 1º Junho 2023 – Fonte Lockheed Martin 1º Junho 2023).
Em 2022, a Rússia inicia a Operação Especial e invade militarmente a Ucrânia. Um cenário impensável aconteceu. Uma guerra de anexação territorial no coração da Europa, com ondas de massacres e crimes de guerra, ataques aéreos indiscriminados contra alvos civis numa das mais antigas capitais europeias e a frequente ameaça de usar armas nucleares contra o país que entregou todo seu arsenal nuclear em troca de proteção. A insistência de Moscou em querer assassinar um presidente democraticamente eleito e destruir a Ucrânia como nação independente alarmou o mundo.
A Europa e o mundo civilizado se uniram rapidamente em suporte à Ucrânia. O futuro da ONU, da União Europeia, da segurança da Europa e da viabilidade do Tratado de Não-proliferação de Armas Nucleares estava em risco. O mundo ficou à beira da barbárie novamente. A OTAN renasceu e a Finlândia abandonou a neutralidade e a Suécia também. A Alemanha mudou radicalmente sua política de exportação de armas. A Itália, então próxima à Rússia, se tornou uma de suas mais ferrenhas adversárias.
Nada disso foi provocado pela Ucrânia, muito menos pela OTAN. Foi causada pela sede expansionista de uma Rússia imperialista, ressurgida e comandada com mão de ferro pelo criminoso de guerra Vladimir Putin, que não poderia viver assistindo à prosperidade de uma Ucrânia livre ligada ao Ocidente. Kiev, a mãe de todas as Rússias escolheu o caminho da democracia e da liberdade, com a completa integração na União Europeia e os valores que ela representa.
A postura brasileira é claramente pró-russa. Nada mudou entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Não se trata de uma política externa pragmática, mas ideológica. Bolsonaro foi oportunista e se entregou aos braços de Putin após ser abandonado pelos líderes de: Washington, Londres, Paris e Berlim. Lula, é movido pela cegueira da ideologia e fala para sua ala radical, e é pró-russo porque não pode aceitar que a Ucrânia derrubou as estátuas de Lenin, proibiu os símbolos comunistas e denunciou ao mundo o terror genocida de Stalin e o fracasso econômico e político que foi a União Soviética.
A Suécia e a Europa estão preocupadas com o Brasil. Os suecos não querem seguir uma aliança estratégica com um país que apoia seu inimigo histórico e ainda tenta justificar as ações russas, fazendo do agressor uma vítima. Ao mesmo tempo o Brasil é o maior parceiro comercial da Suécia. Europeus sabem o que é um assunto de Segurança Nacional e o que significa a dor da guerra. Isso nem passa pela mente dos brasileiros, principalmente dos seus governantes. A guerra para os brasileiros é algo distante, seja no passado ou no futuro, assunto para livros de história e filmes. Nos falta visão estratégica. Ninguém quer ver a realidade para não ter que tomar decisão. Os governantes e líderes se diferenciam dos seus subordinados porque cabe a eles avaliar e tomar a melhor decisão. A isso soma-se a responsabilidade pela decisão tomada.
Segundo fontes da indústria e das próprias Forças Armadas, os suecos não têm nenhum plano ou cronograma de incorporação do Gripen 39 E, muito menos qualquer compromisso na aquisição dos aviões, e entre países da OTAN já se fala que é uma questão de tempo para eles comprarem o F-35 (a Flygvapnet planeja incorporar alguns sistemas do Gripen 39 E nas versões antigas do 39 C/D). A entrada da Suécia na OTAN deve ocorrer no próximo mês. A promessa dos suecos de comprar o Super Tucano A-29, como treinador e agora a aeronave de transporte multimissão KC-390 não se confirmaram e nem deverá acontecer no caso do último. Como ficará a FAB?
Como vai sustentar um avião de caça de alta complexidade e tecnologia onde ela será a única operadora? Os custos logísticos e operacionais serão insustentáveis. Vamos manter os sexagenários F-5 voando até a década de 30 como a espinha dorsal da nossa aviação de combate? E o A-1, importante ferramenta dissuasória por ser nosso principal vetor de ataque, uma plataforma de armas estratégica que será desativado até o final do ano sem substituto.
Já não seria tempo de se procurar no mercado uma nova opção? Além de realinhar posições estratégicas?
As Forças Armadas não podem continuar tendo seus principais meios de combate mais antigos que seus oficiais generais de quatro estrelas. A FAB, sempre na vanguarda tecnológica, precisa tomar uma decisão.
A FAB não errou em escolher o Gripen, mas o cenário geopolítico mudou e a situação de segurança internacional também. Cada país e suas Forças Armadas tiveram que se adequar às novas realidades, de acordo com seus interesses nacionais. Agora a FAB precisa tomar uma decisão, reavaliar o projeto, seja de adicionar até 25% do contrato em novos pedidos, ou encomendar um segundo lote do Gripen ou de outro caça para substituir os F-5 e A-1.
Agora é o momento de repensar a situação do Gripen e buscar novas opções no mercado, sejam elas: o F-18, Rafale, F-16, Typhoon ou FA346. Precisamos de uma Força Aérea equipada com meios e capacidades, que possa voar e treinar, cumprir missões, dissuadir ameaças e vencer em qualquer teatro operacional.
O futuro da Força Aérea Brasileira, como força militar depende da sua aviação de combate, principalmente da sua espinha dorsal que é a aviação de caça, do contrário ela será conhecida somente como Aeronáutica.
Essa opinião não é uma crítica à Força Aérea Brasileira, mas um apelo. Faz-se urgente repensar as escolhas. O mundo mudou desde a assinatura do contrato do Gripen. O Brasil também precisa se adequar as novas realidades geopolíticas e de segurança. A situação atual nos afetará diretamente e não podemos correr riscos de ficar sem uma aviação de caça moderna e disponível na linha de voo.
Precisamos ter sempre uma segunda ou terceira opção e condição de sustentar sua operação. E mais do que isso, cultivar e manter muitos aliados de confiança, afinal, a história já demonstrou que quando o assunto é a segurança nacional, confiar nas suas alianças é mais importante do que possuir amigos.
O recado Americano e Europeu
No dia 31 de Maio 2023, o Conselho Estados Unidos – União Europeia de Comércio e Tecnologia (TTC), publicou um Comunicado Conjunto. (O texto na íntegra em inglês pode ser acessado aqui. A parte relacionada às exportações militares, cm tradução em português, pode ser acessada aqui).
As contínuas declarações de autoridades da República do Brasil incluindo políticos e militares só tendem a complicar a situação, em forma exponencial.
Na feira LAAD, abril passado, o editor de DefesaNet questionou Mikael Franzén, Head de Marketing e Vendas na área de negócios Aeronáuticos da SAAB, sobre a mudança do ambiente geopolítico e a certa entrada da Suécia na OTAN. A resposta de Franzén, com face ruborizada, era de que os compromissos da empresa com Brasil permaneceriam.
A reunião do Conselho Estados Unidos – União Europeia de Comércio e Tecnologia (TTC), ser realizada na cidade sueca Lulea é um recado poderoso. Ali há o maior campo de testes da Europa, onde são realizados a maioria do desenvolvimento de mísseis europeus, e também a F21 mais poderosa esquadrilha da Flygvapnet (Força Aérea da Suécia).
Observar que a última grande Exercício Operacional da aviação de caça da FAB, com forças estrangeiras, não considerando as CRUZEX, foi em 2008 na americana Red Flag. O plano inicial era, de que a cada 4, anos um grupo participasse da Red Flag. O resultado atual é que são 15 anos sem um exercício de alta complexidade como a Red Flag.
Pior se o Brasil for listado, e tudo parecesse encaminhar para isso, em ações de restrições de compartilhamento/transferência de tecnologias sensíveis e ensinamentos operacionais. Uma revisão do Programa Gripen F-39E/F é urgente.
“Ou ficaremos sentados, à beira do caminho, esperando os impactos devastadores de decisões de terceiros.”