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I Guerra Mundial 100 Anos


Agências e
Redação DefesaNet

Quase 10 milhões de soldados mortos e 20 milhões feridos, além de dezenas de milhões de civis sem vida devido a massacres, fome e doenças, sem contar as consequências da gripe espanhola em 1918 e 1919. O saldo da I Guerra foi um colapso político, econômico e moral de um continente que dominou o mundo durante séculos. No final do conflito, os povos europeus estavam exaustos.

Em 11 de novembro de 1918, o armistício assinado em Rethondes pelos alemães sela a vitória dos Aliados. Na França e no Reino Unido, a multidão demonstra sua alegria nas ruas. Mas em países como a Polônia, a Turquia e a Rússia, ameaçados pela guerra civil, será preciso aguardar anos de conflitos regionais sangrentos para que realmente termine a Grande Guerra.

Após quatro anos, o conflito foi decidido no front ocidental, na França e na Bélgica, onde foram travadas as batalhas mais sangrentas. A guerra também deixou milhões de mortos nos demais frontes europeus: Rússia, Bálcãs, Itália. E, devido aos impérios, alcançou rapidamente todos os continentes: os domínios britânicos se mobilizaram, a África colonial foi cenário de combates, assim como a Ásia, onde o Japão conquistou as possessões alemãs a partir de agosto de 1914.

A intervenção dos Estados Unidos, tardia, mas decisiva, provocou em 1917 a incorporação de vários países da América Latina no conflito. No Oriente Médio, onde houve múltiplos confrontos durante quatro anos, as fronteiras foram totalmente transformadas a partir do conflito.

Uma impossível vitória rápida

O início dos combates foi estrondoso. Em agosto de 1914, os franceses tentaram em vão abrir caminho entre as forças alemãs na região de Lorena (Nordeste), enquanto o Exército germânico atravessava com sucesso a Bélgica, antes de castigar as tropas francesas e se dirigir a Paris, então abandonada por seus moradores e pelo governo, que se instalou em Bordeaux no começo de setembro.

A terra ficou encharcada de sangue: 27 mil soldados franceses morreram no sábado, 22 de agosto de 1914, o dia mais letal de toda a história do exército francês. No entanto, em setembro, durante a batalha do Marne, um enorme enfrentamento frontal, que deixou meio milhão de mortos. Joseph Joffre bloqueou as tropas de Helmut von Moltke antes de expulsá-las para o Norte.

Sem esta batalha, famosa porque o exército francês confiscou táxis parisienses para levar reforços ao front, a guerra poderia ter terminado em algumas semanas com uma vitória alemã. A partir de então, a violência dos bombardeios obrigou os combatentes a se esconder nas trincheiras e o conflito virou uma guerra de desgaste, durando até 1918.

Alívio do armisticío

Na décima primeira hora do décimo primeiro dia do décimo primeiro mês de 1918, milhares de clarins anunciaram o cessar-fogo da Guerra Mundial. Dias antes, as tropas do imperador Guilherme II da Alemanha retrocediam em todos os frontes ocidentais. Em 4 de outubro, o príncipe Maximiliano de Baden, chanceler alemão, já havia telegrafado ao presidente americano, Thomas Woodrow Wilson, avisando que seu país estava pronto para iniciar as negociações. Os aliados exigiram uma rendição e a partida do kaiser Guilherme II. Contra a opinião do presidente francês Raymond Poincaré e do general Philippe Pétain, o marechal Foch, comandante em chefe das forças aliadas, e o chefe de governo, Georges Clemenceau, decidiram cessar os combates e não levar a guerra para a Alemanha.

Em 5 de novembro, dois dias após a capitulação do Império Austro-Húngaro, tudo se acelerou. Em 7 de novembro, perto da cidade francesa de La Capelle (norte), o primeiro cessar-fogo foi anunciado em setembro de 1914 para permitir a passagem do comboio da delegação alemã, que se encontraria com Foch. No dia 8 de novembro, às 9h, o marechal recebe os alemães. "Vocês querem o armistício?", perguntou.

O general Maxime Weygand leu o texto com as condições decididas pelos aliados em 4 de novembro em Versalhes. Os alemães pediram para enviar um mensagem para Spa, na Bélgica, a sede do marechal Paul von Hindenburg, comandante em chefe do exército alemão.

Ela chegou lá em 9 de novembro. O Kaiser acabara de abdicar e a República Alemã foi proclamada. A autorização para assinar o armistício chegou à delegação alemã em 10 de novembro, à noite. Na madrugada do dia 11, os enviados alemães estudaram cada um dos 34 artigos da convenção de armistício lida e traduzida.

Às 5h20min, na segunda-feira, 11 de novembro, ambas as partes assinaram o documento e o armistício entrou em vigor às 11h. Do Mar do Norte a Verdun, os clarins aliados e alemães transmitiram o tão esperado sinal. Pouco a pouco, os soldados, ainda atordoados, deixaram as trincheiras.

Cenas de alvoroço

Em Paris, centenas de pessoas aplaudiram Georges Clemenceau no bulevar Saint-Germain enquanto caminhava até a Assembleia Nacional para receber uma homenagem dos deputados. Às 16, o chefe do governo leu as condições do armistício na Câmara mergulhada em absoluto silêncio. O acordo estipulava que os alemães tinham que entregar a maior parte do seu armamento e evacuar a margem esquerda do Reno dentro de 30 dias.

Na Alemanha, cujo território não foi invadido durante todo o conflito, o alívio foi acompanhado por muitos por um sentimento de humilhação. O exército alemão lutou firmemente até os últimos dias nos territórios belga e francês, mas na retaguarda, o motim dos marinheiros de Kiel, iniciado em 3 de novembro, se espalhou para grandes cidades, onde a revolta foi reprimida a sangue e fogo. Os generais Erich Ludendorff e Paul von Hindenburg atribuíram a derrota militar a uma traição de políticos e "burgueses cosmopolitas”. Os partidos ultranacionalistas, incluindo o partido nazista, retomaram essa expressão anos depois.

A mudança decisiva de 1917 

O ano de 1917 foi o da mudança, com a entrada na guerra dos Estados Unidos contra a Alemanha. Também foi o das últimas grandes batalhas, tão mortais quanto inúteis. No final de 1917, a guerra se acelerou para o Sul, o general britânico Edmund Allenby entrou em Jerusalém, depois de o Reino Unido se declarar favorável ao estabelecimento de um lar nacional para o povo judeu na Palestina, contradizendo as promessas feitas aos árabes.

No fronte ocidental, a Alemanha, que tinha se livrado da Rússia no Leste, jogou tudo para conquistar a vitória antes da chegada dos reforços americanos. Seu Exército conseguiu por fim se desembaraçar das linhas inimigas na primavera de 1918 e voltou a se aproximar de Paris, que foi bombardeada. 

A I Guerra Mundial provocou a queda dos impérios russo, austro-húngaro e otomano, a criação de vários países e uma grande mudança no Oriente Médio. Na Rússia, um império já enfraquecido por numerosas derrotas, enormes despesas militares, a fome e a fúria popular capitulou perante a Revolução Bolchevique. Em março de 1917, uma primeira revolução causou a abdicação do czar Nicolau II e a formação de um governo que controlava quase nada.

Em novembro, os bolcheviques tomaram o poder, e sua primeira decisão foi propor o fim das hostilidades contra países que estavam em guerra com a Rússia. Em 3 de março de 1918, Lenin assinou a paz com a Alemanha e seus aliados em Brest-Litovsk. 

O Império Austro-Húngaro, da dinastia dos Habsburgos, que dominou a Europa Central durante cinco séculos, estendia-se em 1914 da Suíça à Ucrânia e abrigava uma dúzia de nacionalidades diferentes. Mas sentimentos nacionalistas reduziram a unidade do império, que desmoronou depois de 1918. Em 28 de outubro, nasceu a Tchecoslováquia. No dia seguinte, os eslavos do Sul criaram a Iugoslávia e, em 1° de novembro, uma insurreição eclodiu na capital húngara, Budapeste. Dois dias depois, o Império foi formalmente dissolvido, durante a assinatura do armistício entre a Áustria-Hungria e os poderes vitoriosos: Estados Unidos, França e Reino Unido. 

Uma nova Europa

A consequência do colapso dos dois impérios foi a divisão da Europa Central em vários Estados. Além da Tchecoslováquia e da Iugoslávia, a Conferência de Paris em 1919 selou o nascimento da Polônia, anteriormente dividida entre a Áustria e a Rússia, e quatro novos Estados formados a partir de territórios russos: Finlândia, Estônia, Lituânia e Letônia. A Hungria perdeu dois terços de seus territórios. A Itália recebeu parte do Tirol e "o resto", nas palavras do chefe do Governo francês Georges Clemenceau, tornou-se a Áustria.

Dissolução do Império Otomano

Quando o sultão Mehmet V proclamou a “guerra santa” contra a França, o Reino Unido e a Rússia, em 24 de novembro de 1914, o Império Otomano já havia perdido a maioria de suas possessões europeias. Os contratempos sofridos desde 1915 na frente russa foram um pretexto para atacar a minoria armênia. Segundo estimativas, entre 1,2 e 1,5 milhão de armênios morreram.

A Turquia nega a existência de um genocídio contra eles, embora cerca de 30 países e a maioria dos historiadores o reconheçam, mas admite que massacres e a fome ceifaram as vidas de 300 mil a 500 mil armênios e tantos turcos. A derrota das tropas otomanas em 1918 pôs fim ao império.

Os nacionalistas turcos, reunidos em torno do general Mustafa Kemal Atatürk, rejeitaram um primeiro tratado assinado em 1920, continuaram a luta contra armênios, gregos e franceses e derrubaram o sultão. A Turquia, convertida em República, impôs um novo tratado aos Aliados, que foi assinado em Lausanne, em 1923. O país manteve Anatólia e os estreitos, mas perdeu todos os seus territórios árabes. 

Frustração árabe

Na Mesopotâmia e na Palestina, os ingleses conseguiram derrotar o Império Otomano graças à ascensão das tribos árabes, à qual prometeram independência. O trabalho de Lawrence da Arábia, um arqueólogo britânico que se tornou um elo com os árabes, foi decisivo. Mas os britânicos e os franceses já dividiram o Oriente Médio em segredo em maio de 1916, com a assinatura dos acordos Sykes-Picot: Líbano e Síria para a França, Jordânia e Iraque para o Reino Unido. Essa divisão gerou muita frustração entre os árabes. Ao apoiar "o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu", o ministro das Relações Exteriores britânico Arthur Balfour lançou as bases para a criação, 30 anos depois, do Estado de Israel, plantando as sementes de um conflito que a região ainda sofre nos dias de hoje.
 

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