Israel Blajberg (*)
Faleceu no Rio de Janeiro o Velho Artilheiro da FEB, em 11 de maio de 2012, com a Missa de 7º. Dia em 18 de maio as 19h na Paroquia Nossa Senhora de Copacabana, da Rua Hilário de Gouvêa.
De tradicional família de militares, seu pai foi professor da AMAN, outros familiares cursaram a então Escola Técnica do Exército, sendo que mais dois membros da família integraram a FEB, Cap Hélio Portocarrero de Castro, QG/1ª. DIE e Asp Of Mauricio Carlos Tito Portocarrero, DP/FEB. Ele mesmo se dedicou ao ensino, mantendo conceituada instituição de ensino na Lagoa – Rio. Era irmão da atriz Tônia Carrero.
Durante a guerra, atuou como Observador avançado no II Grupo, Grupo Da Camino.
Designado em 1944 para integrar o II Grupo de Obuses da FEB – II/1º. ROAuR, aquartelado em Campinho, já com material norte-americano, que havia chegado a tempo para fins de treinamento, jipes, as viaturas 3/4, viaturas comando, caminhões de duas e meia toneladas (GMC) e os obuses 105mm.
As Unidades de Artilharia – o seu II Grupo, o I Grupo de São Cristóvão, comandado pelo Coronel Levi Cardoso e o III Grupo, do Coronel Souza Carvalho, que veio de São Paulo, faziam manobras na região de Campo Grande e Barra da Tijuca.
O enorme transporte de guerra zarpou no dia 07 fev 1944, pela manhã, passando pelo Pão-de-Açúcar, Fortaleza da Laje, com todos no tombadilho, estibordo do navio, apreciando a paisagem e dando adeus ao Rio de Janeiro e ao Cristo Redentor; era um dia muito bonito, o navio sendo escoltado por três contratorpedeiros da nossa Marinha de Guerra, levando a bordo quase 5 mil homens, entre eles o jovem 1º. Ten Heraldo C. L. de Farias Portocarrero
Chegando a Itália o Grupo se deslocou para região de Vecchiano, recebendo ordem, assim como o 6o RI, de engajar-se na frente, em área já determinada pelo Comandante do IV Corpo. O II Grupo, comandado pelo Coronel da Camino, ocupou posição vizinha ao Monte Bastione – depois da guerra, a Unidade foi denominada Grupo Monte Bastione. Lá disparou o primeiro tiro, com a Primeira
Bateria do Capitão Mário Lobato Vale, no Vale do Sercchio, fato glorioso para a Artilharia brasileira, a fim de apoiar as ações do 6o RI na captura de várias localidades importantes como Barga, Massarosa, Galicano e tantas outras.
Na ofensiva de abril, a Unidade prosseguiu rumo ao Vale do Pó, sabendo que vinha do sul a 148a Divisão do exército alemão, com remanescentes da 90o Divisão Panzer e das Divisões italiana Bersaglieri e Monterosa no propósito de atravessar os rios Pó e Panaro e prosseguir para o Norte. Houve, no início, uma refrega, porquanto os brasileiros perceberam, através da ação do 1º. Esquadrão de Reconhecimento, que o inimigo pretendia furar o cerco. Aconteceram então ações ofensivas da Artilharia e da Infantaria. Como estavam com muitos feridos, resolveram prosseguir com os entendimentos junto ao Comando da FEB para que se procedesse a rendição.
O então Ten Portocarrero esteve presente ao evento. Perto de 20 mil homens foram feitos prisioneiros. O comandante dessa Divisão Alemã era o General Otto Fretter Pico e seu Chefe de Estado-Maior o Major W. Kuhn, considerado um oficial de elite, naquela época.
Coincidentemente, na FEB estava o Coronel Franco Ferreira, um oficial de Estado-Maior, de Cavalaria, que tinha sido adido militar na Alemanha antes da guerra, falava muito bem alemão.
Terminada a guerra, retorno ao Brasil em 18 jul 1945, depois de 15 dias de viagem, numa bela manhã, já na costa do Rio de Janeiro. A primeira ilha divisada foi a Rasa. O navio passou por ela e entrou na baía, agora escoltado por dezenas de embarcações, apitando, fazendo ruidosa e alegre manifestação pelo regresso do 1o Escalão da FEB. Mais tarde, o navio atracou no cais da Avenida Venezuela, no armazém número 8, recebendo a visita do Presidente da República, Getúlio Vargas.
Foram reunidos todos os oficiais num salão do navio, Getúlio falou algumas palavras, agradecendo o apoio e outras coisas mais, pelo êxito da FEB na Itália e depois se retirou.
Havia comboios esperando no cais e já passava do meio-dia quando entraram nas viaturas designadas para cada Unidade. Iniciou-se o deslocamento no meio da multidão reunida ali perto, na Praça Mauá, na Avenida Rio Branco e em toda a cidade. Foi a maior multidão já reunida. A manifestação foi impressionante. Junto com o Escalão, veio um Pelotão de elite do Exército dos Estados Unidos. Eram os Rangers, que também desfilaram.
A surpresa veio depois. Ordens superiores determinavam a desmobilização da FEB. Dias mais tarde já estaria todo desmobilizado o 1o Escalão da FEB. Essa desmobilização trouxe um impacto muito grande, porque muitos já não sabiam nem mais o que fazer.
Pensavam que iam receber ordens, orientações, mas não aconteceu isso. Foi uma desmobilização muito rápida. Para os oficiais foram dados dois meses de férias. Para os outros um prazo para decidir.
Quem não estivesse lá iria ficar engajado e quem desejasse poderia voltar para casa. Gente de São Paulo, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul, do Paraná, muito ansiosos para regressar a seus lares e rever suas famílias.
Assim foi desmobilizada a FEB. Este é um breve relato de mais um Herói que partiu, com base nas recordações do seu último companheiro conhecido que aqui ainda permanece, o último dos tenentes e oficiais daquela época, Ten Cel Mario Raphael Vannuttelli, que reside em Brasília, perto de completar 94 anos. Possivelmente ainda temos entre nós remanescentes dos soldados e sargentos da FEB, entretanto não temos seus nomes. O Gen Portocarrero foi reformado em 26 set 1973.
A melhor homenagem que podemos prestar aos bravos da FEB que se vão será manter desfraldada a sua bandeira, recordando sempre a memória gloriosa das Forças Brasileiras de Terra, Mar e Ar na 2ª. Guerra Mundial.
Que a alma do estimado companheiro Veterano Gen PROTOCARRERO se incorpore à corrente da Vida Eterna.
Peça Atirou !
Mallet !
Brasil !
(*) – CPOR/RJ, Artilharia 1965
Assessor Cultural – iblaj@telecom.uff.br