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BR-VE – Aftosa é mais um conflito entre Brasil e Venezuela

 

RR Nº 6.020

Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2018

Logo na partida, a gestão Bolsonaro terá de administrar uma questão bastante delicada com a Venezuela – uma das nações já previamente satanizadas pela sua política externa.

O caos econômico e político no país vizinho tem impedido o governo de Nicolás Maduro de retirar do lado de cá da fronteira cerca de 18 milhões de doses de vacina contra a febre aftosa disponibilizadas pelo governo brasileiro. De forma emergencial, o Ministério da Agricultura já havia doado anteriormente dois milhões de vacinas, uma ação emergencial que está longe de resolver o problema como um todo e equacionar a ameaça de contaminação do gado brasileiro.

Consultado pelo RR, o diretor de saúde animal do Ministério, Guilherme Marques, confirmou que "o Brasil aguarda as autoridades brasileiras virem ao país buscarem o restante das doses".

Sem a retirada das vacinas brasileiras o mais brevemente possível, o temor da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) é que os focos de febre aftosa se alastrem pelos países vizinhos. A Venezuela é hoje a única nação da América Latina que não erradicou a doença, segundo a OIE.

As autoridades brasileiras têm tratado a questão como de prioridade máxima. O governo considera o “problema da Venezuela” um “problema do Brasil”, devido ao risco de contaminação do rebanho nacional.

O contrabando de bovinos, algo comum na região, e o próprio fluxo de refugiados venezuelanos – muitos costumam trazer animais – aumentam a ameaça de entrada de gado contaminado no país. A principal área de risco mapeada pelo Ministério da Agricultura é a fronteira seca da Região Norte, nas proximidades da cidade de Pacaraima, em Roraima.

A Comissão Sul-Americana para a Luta Contra a Febre Aftosa (Cosalfa), vinculada ao Centro Pan-Americano de Febre Aftosa que (Panaftosa), montou um programa de vacinação do gado venezuelano. Chegou, inclusive, a propor a criação de um fundo público-privado, com pequenas doações de pecuaristas locais, para financiar futuras campanhas de imunização.

Até o momento, no entanto, segundo informações fi ltradas junto à própria Cosalfa, o governo Maduro não fez qualquer movimento para a criação do fundo. Apenas anunciou a abertura de uma conta bancária para doações.

Em tese, bastaria ao governo Maduro enviar um cargueiro da Força Aérea venezuelana para a retirada das vacinas que estão sob a guarda do Ministério da Agricultura.

Consta, no entanto, que o país não dispõe de instalações adequadas para garantir o estado de conservação das vacinas.

Trata-se de um problema que avançará sobre boa parte do governo Bolsonaro. Mesmo com a doação dos medicamentos pelo Brasil e eventualmente outros países, o plano de erradicação da doença na Venezuela proposto pela OIE levará três anos, com campanhas de vacinação anual até 2021.

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