Victor Emanuel Neves Ferreira – Cap Instrutor do CI Bld
Ádamo Luiz Colombo da Silveira – Cel Comandante do CI Bld
¹Rangel Panichi Flores – 2º Sgt Turma de 2001
Monitor da Seção de Ensino de Operação de Blindados do CI Bld
¹Leo Machado Botelho – S Ten Adjunto de Comando do CI Bld
A simulação virtual tática para fins militares, é um ramo da simulação virtual que tem como plataforma a utilização de sistemas computadorizados dotados de softwares que reproduzem situações de combate.
Possui como foco principal o desenvolvimento cognitivo do instruendo, proporcionando a ele a possibilidade de desenvolver as reações e atitudes mentais diante de determinados cenários de combate.
É amplamente utilizada nos dias atuais, sendo adotada por diversos países do mundo e também pelo Exército Brasileiro como ferramenta de apoio ao ensino e ao treinamento militar.
A simulação virtual tática apresenta inúmeras vantagens para a instrução militar:
a) Fornece um ambiente seguro, controlado e de baixo custo no qual o aprimoramento das capacidades de combate podem ser otimizados no ambiente ao vivo;
b) Possibilita a integração das diversas funções de combate e a utilização de uma infinidade de meios que, em uma situação real, seriam difíceis de reunir e gerariam elevado custo;
c) Pode ser acompanhada facilmente por uma equipe de especialistas que controlam e avaliam as atividades, reproduzindo os resultados positivos e negativos posteriormente aos instruendos através das ferramentas de análise pós-ação;
d) Diminui a necessidade de utilização de campos de instrução preservando áreas e colaborando com a preservação do meio ambiente;
e) minimiza a necessidade de controle e gestão de danos a estruturas existentes, como estradas e cercas;
f) Consegue simular de maneira limitada, porém satisfatória, a execução de atividades de alto risco como abertura de brechas, transposição de cursos d’água, além dos efeitos dos fogos inimigos sobre a tropa e sua consequente degradação.
Trabalhando com a simulação virtual tática desde 2009, o Centro de Instrução de Blindados possui uma metodologia própria e extremamente consolidada na condução desse tipo de simulação.
Utiliza os softwares Steel Beasts e Virtual Battle Space 3 para os cursos e estágios que se desenvolvem durante o ano de instrução.
Os softwares são empregados no ensino, tendo destaque no aprimoramento de capacidades como:
a) comando, controle e consciência situacional;
b) técnicas de progressão e formações de combate;
c) técnicas de ocupação de posição de tiro com blindados;
d) preparação, planejamento e execução do apoio de fogo nível subunidade;
e) exploração rádio;
f) técnicas de ação durante o contato;
g) técnicas de ação imediata;
h) utilização e ocupação do terreno para observação e tiro;
i) identificação de blindados;
j) técnicas de prevenção de fratricídio;
k) trabalhos de apoio ao movimento (transposição de obstáculos e aberturas de brecha);
l) ordens fragmentárias;
m) operações ofensivas;
n) operações defensivas; e
o) reconhecimento e segurança; entre tantos outros.
Os equipamentos utilizados para a simulação virtual tática são computadores e periféricos comuns, de uso civil e que se assemelham, em baixo nível de fidelidade, com punhos e comandos dos carros de combate, viaturas e armamentos reais.
Isso se deve ao fato dos simuladores virtuais táticos serem apropriados para o desenvolvimento de atividades para líderes de subunidades e pequenas frações como pelotões e seções, cujas características são: foco no domínio cognitivo e não no psicomotor do instruendo, retirando assim a obrigatoriedade de aprendizado de habilidades específicas de operação dos MEM; número significativo de participantes, gerando cerca de 40 a 120 entidades em um cenário virtual; e, em consequência dessa última característica, a necessidade de reduzido custo no hardware.
A fidelidade dos simuladores virtuais de alto nível seria inviável para a simulação tática pois geraria um gasto elevado de recursos. A simulação virtual de alto nível é portanto útil no treinamento de indivíduos e pequenas guarnições em funções específicas como atiradores e comandantes de carros de combate, onde o desenvolvimento do aspecto psicomotor é bastante exigido.
Podemos concluir portanto que a simulação virtual tática é uma excelente ferramenta de ensino, na preparação dos Comandantes de pequenas frações e no treinamento coletivo.
Contudo ela é uma peça no processo e deve ser complementada, de maneira padronizada em todo o Exército, por outros tipos de simulação virtual nível individual e guarnição, pela simulação viva, pela simulação construtiva e principalmente pelos indispensáveis exercícios no terreno.
A Simulação Virtual Tática com o VBS3¹
Antes da abordagem sobre o software de simulação Virtual Battlespace 3 (VBS3), é importante que alguns conceitos sobre o universo da simulação militar sejam bem compreendidos, como o de Simulação Militar, Simulação Virtual e Simulador Virtual Tático.
Conforme apresentado no Caderno de Instrução de Simulação Virtual, elaborado pelo Centro de Instrução de Blindados (CI Bld), ainda em fase de aprovação, a Simulação Militar é a reprodução de aspectos específicos de uma atividade militar ou da operação de algum material de emprego militar, onde se emprega um conjunto de equipamentos, softwares e infraestruturas.
A simulação militar pode ser conduzida em três modalidades: viva, virtual e construtiva. O CI Bld emprega a simulação viva e virtual. A simulação virtual, por sua vez, é a modalidade na qual o homem opera sistemas simulados ou gerados em computador.
Nesta modalidade, a utilização dos simuladores imita a operação de sistemas de armas, veículos, aeronaves ou até mesmo o ser humano, cuja a operação exija um elevado grau de adestramento ou que envolva riscos ou custos elevados.
Sua principal aplicação é no desenvolvimento de habilidades e capacidades individuais, assim como no adestramento de guarnições e pequenas frações, permitindo explorar os limites do operador e do equipamento, sem riscos e com baixo custo.
Além destes equipamentos, que simulam procedimentos em veículos, aeronaves, etc, existem os Simuladores Virtuais Táticos (SVT). Como o próprio nome diz, estes simuladores são focados nas ações táticas das frações, e no CI Bld se mostram bastante eficazes nos níveis Pelotão e Subunidade.
Os SVT nada mais são do que softwares profissionais que, instalados em computadores comerciais, possibilitam o treinamento tático em diversos escalões. Dentre estes softwares está o VBS3, desenvolvido pela empresa multinacional Bohemia Interactive Simulations, que também é utilizado pela Seção de Simuladores do Centro.
Por ter a arquitetura aberta, o VBS3 é praticamente todo customizável e se destaca pela ampla flexibilidade para montagem dos cenários de simulação que podem, inclusive, ser alterados durante a execução do exercício.
Por exemplo, o administrador pode inserir soldados inimigos e ajustar o seu nível de adestramento, experiência, liderança, características físicas, psicológicas e condições de saúde, durante o combate.
Da mesma forma, quando uma viatura é adicionada ao cenário, pode-se configurar o comportamento dos integrantes de sua guarnição, o nível de combustível, munição, inserir danos nos trens de rolamento, chassi, motor e armamentos.
É possível, ainda, alterar o terreno, inserir obstáculos, edificações, campos de mina, população civil, animais, fontes de luz, de som, fogos indiretos e muitos outros recursos. Uma das principais características do VBS3 é o treinamento em primeira pessoa, no qual o instruendo incorpora em seu personagem no exercício, tendo a visão dos olhos do personagem.
Dessa forma é possível treinar o indivíduo, pois o administrador pode personalizá-lo de acordo com a realidade, ajustando sua altura, peso, armamento, munição e equipamento, se mostrando muito interessante para o adestramento de tropas de Infantaria.
Em 2016, no CI Bld, foi utilizado o VBS, na sua versão 3.4, no Estágio Tático de Infantaria Mecanizada e, apesar de algumas limitações, mostrou-se bastante eficaz. Para o Estágio, uma Companhia de Fuzileiros Mecanizada foi criada conforme prevista nos documentos que regulam seu efetivo, armamento, munição e equipamento, desde o Comandante da Subunidade até os soldados dos Grupos de Combate.
Além da tropa amiga, foi criada também a tropa inimiga, constituída de um Regimento de Infantaria Mecanizado completo. Durante a montagem dos cenários virtuais e a execução dos exercícios, foram observadas três limitações importantes.
No VBS3, não há a VBTPMR 6×6 Guarani, o que fez com que o administrador improvisasse a viatura LAV III 8×8, que possui características semelhantes às da viatura brasileira. Ademais, um recurso que ficou aquém do ideal foi a ferramenta de elaboração de calcos e medidas de coordenação e controle (Mdd C2).
Os símbolos e ícones existentes no programa são os padronizados pela OTAN e as ferramentas de desenho de linhas e edição de textos são bastante limitadas. Soma-se a estas limitações as características do recurso Minimapa, pois a VBTP-MR 6×6 Guarani possui o Gerenciador de Campo de Batalha (GCB) que, de forma geral, possibilita ao operador a visualização das Mdd C2 estabelecidas e da localização georreferenciada, em tempo real, da sua viatura e da sua fração.
Por vez, o recurso Minimapa do VBS3 nada mais é do que um pequeno mapa localizado no canto inferior esquerdo da tela do usuário, que pode simular o GCB, porém, neste recurso, além da apresentação das Mdd C2 e da localização da tropa amiga, também é mostrada a localização em tempo real da tropa inimiga, o que interfere diretamente na execução do exercício, pois o instruendo pode visualizar o inimigo com antecedência e executar as ações táticas necessárias.
Muito raramente esta visualização antecipada, em tempo real, do inimigo ocorreria em uma situação de combate real. Apesar disso, esses problemas podem ser minimizados, por exemplo, pela aquisição da modelagem 3D da VBTP Guarani e atualização para uma versão mais recente do VBS.
Portanto, a escolha do programa de Simulação Virtual Tática que foi utilizado no Estágio Tático de Infantaria Mecanizada foi fundamental, pois buscou-se sempre a coerência entre os objetivos a serem atingidos, a natureza da tropa executante, as possibilidades e limitações do software e dos computadores empregados.
Neste contexto, pode-se concluir que, embora tenha apresentado algumas limitações, o VBS3.4 atendeu as necessidades da tropa de Infantaria Mecanizada, podendo ser também utilizado com sucesso nas instruções e no adestramento de tropas de Infantaria Blindada e Cavalaria Mecanizada.
O CI Bld está comprometido em criar as melhores condições para que seus instruendos tenham conhecimento e competência para o melhor uso dos atuais Meios de Emprego Militar.
Imagens: © 2017 Bohemia Interactive Simulations