Cel Helder de Barros Guimarães
Os ecossistemas em equilíbrio proporcionam à sociedade uma vasta gama de serviços, tais como fluxos confiáveis de água limpa a terras produtivas e sequestro de carbono. Pessoas, empresas e sociedades recorrem a esses serviços em busca de insumos, matérias-primas, processos de produção e estabilidade do clima (Forest Trends, Grupo Katoomba, e PNUMA, 2008).
Os serviços que os humanos podem obter da natureza são aqueles denominados serviços ecossistêmicos, que são interações e processos naturais que satisfazem e sustentam a vida humana (DeGrooT, 1992).
Eles podem ser gerados, basicamente, por três fontes: as florestas, os oceanos e as terras agrícolas. Normalmente, estão divididos em: serviços de apoio/suporte, serviços de provisão, serviços de regulação e serviços culturais (MEA, 2005; TEEB Foundations 2011).
A Avaliação Ecossistêmica do Milênio foi um importante documento publicado em 2005, pois propiciou reconhecimento e importância social do capital natural e desses serviços (MEA, 2005). Em 2010, liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), foi realizado um estudo internacional sobre os benefícios econômicos da biodiversidade, ao tempo que também alertou para os custos com a perda da biodiversidade e da degradação dos ecossistemas.
Os serviços ecossistêmicos são subsídios relevantes para a tomada de decisão ou para a elaboração de políticas públicas, considerando os custos e benefícios das escolhas. Neste sentido, graças ao exemplo da manutenção das áreas verdes dentro dos limites das organizações militares (OM), localizadas em áreas urbanas, e às iniciativas de projetos em tetos verdes, as ações têm sido importantes na provisão de benefícios, avaliados tanto por residentes quanto por tomadores de decisão.
Ações de adequação da gestão de usos e ocupação do solo, no contexto desses serviços em áreas militares, têm promovido em suas áreas verdes a regulação natural dos subsequentes processos, tais como a manutenção da qualidade da água, do solo e do ar; o controle da poluição; a regulação da vazão da água e do clima; a proteção de espécies da flora e da fauna; e o controle de enchentes.
Ações dessa manutenção implicam atenuação de inundações, recarga de aquíferos, controle da erosão e redução da incidência de pragas e doenças por controle biológico, chegando até o favorecimento de polinização natural e agrícola (Parron & Garcia, 2016). Trabalhos de pesquisa desenvolvidos nessas áreas têm sido de salutar importância, tendo em vista os resultados encontrados, por exemplo, na relação floresta/infiltração nas matas.
Essa relação pôde ser comprovada nas evidências encontradas na mata do Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcante (CIMNC), a partir da resposta hídrica do seu manancial.
A floresta regulariza os picos de vazão nos mananciais, o que propicia uma redução dos riscos de inundação e de escassez de água. Os processos de interceptação e evapotranspiração desempenhados pela cobertura florestal representam um importante serviço ambiental na manutenção de uma vazão regularizada do rio Catucá (GUIMARÃES, 2103).
Na figura 1, podem ser verificados os efeitos positivos gerados pela cobertura vegetal em uma bacia hidrográfica localizada no interior do CIMNC (Bacia de Botafogo). A figura retrata o comportamento de duas bacias, Botafogo e Duas Unas, que apresentam comportamentos distintos ao sofrerem altas precipitações.
Nesse caso, a bacia de Botafogo (área militar), devido a fatores fisiográficos, teria maior propensão a enchentes do que a de Duas Unas. Todavia, ocorre o inverso devido à qualidade da cobertura vegetal da bacia de Botafogo.
Assim, as atividades desenvolvidas pelos militares, aliadas às restrições impostas pela administração militar, contribuem para a regeneração dos ecossistemas locais, gerando diversos serviços ambientais de interesse da sociedade (GUIMARÃES, 2013).
Portanto, os campos de instrução têm se consolidado como um forte aliado dos processos de conservação da fauna e flora locais.
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Referências:
Bens e Serviços que a Floresta Fornece. Disponível em: https://snif.florestal.gov.br/en/forests-and-forest-resources/169-bens-e-servicos-que-a-floresta-fornece. Acesso em: 22/03/2021.
DE GROOT, R. S..Functions of nature.Evaluation of Nature in environmental panning management and decision making. 315p. 1992
GUIMARÃES, H.B. Serviços ambientais desempenhados por áreas do exércitobrasileiro no bioma mata atlântica / Helder de Barros Guimarães. – Recife: O Autor, 2013.
Pagamentos por Serviços Ambientais: Um Manual Sobre Como Iniciar, 2008. Disponível em: https://www.forest-trends.org/wp-content/uploads/imported/getting-started_portuguese-pdf.pdf. Acesso em: 22/03/2021.
TEEB Manual for Cities: Ecosystem Services in Urban Management (2011). Disponível em: http://teebweb.org/publications/other/teeb-cities/..Acesso em: 22/03/2021.
Parron, L.M.; Garcia, J.R..In: Serviços ambientais: conceitos, classificação, indicadores e aspectos correlatos.. In: Lucilia Maria Parron … [et al.], editores técnicos.2015. Serviços ambientais em sistemas agrícolas e florestais do Bioma MataAtlântica.Brasília, DF : Embrapa. pg. 29-35.
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Sobre o autor:
Cel Helder de Barros Guimarães – Possui graduação em Administração pela Universidade de Pernambuco (2002), graduação em Material Bélico pela Academia Militar das Agulhas Negras (1994), mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Pernambuco (2008), Doutorado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco (2013) Pós-doutorado em Engenharia do Ambiente pela Universidade Nova de Lisboa (2014). Atualmente é Chefe da Seção de Meio Ambiente da Diretoria de Patrimônio Imobiliário e Meio Ambiente do Exército Brasileiro, membro – International Sustainable Development Research Society [ISDRS].