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Lamarca apelidou Dilma de Mônica durante a ditadura

Daniel Favero

A personalidade forte de Dilma é uma característica que sempre chamou atenção, desde os tempos em que ela participou da luta armada contra a ditadura nos anos 60. Naquela época, a aceitação de mulheres em papéis de liderança era difícil, o que rendeu à guerrilheira o apelido de Mônica. A alcunha provocativa foi dada pelo capitão Carlos Lamarca,um dos principais líderes da resistência à ditadura, que foi morto há 40 anos numa ação do Exército. Lamarca estaria incomodado com o destaque da militante dentro da organização, segundo afirma Tom Cardoso, autor do livro O Cofre do Dr. Rui, lançado neste mês pela editora Civilização Brasileira.

"Por ser casada com um dos chefes da VAR-Palmares ela começa a ganhar destaque na organização muito pelas qualidades que ela tem hoje: gerentona, organizada, firme… então, com isso ela e o Lamarca chegaram a ter alguns problemas, já que o Lamarca era machista, capitão do Exército, e achava estranho uma mulher ser tão mandona. Logo ele deu o apelido de Mônica para a Dilma por causa da personagem do Maurício de Souza que estava começando a fazer sucesso na época, por Dilma ser dentuça", conta o autor, que para escrever a obra entrevistou Carlos Araújo, ex-marido de Dilma e um dos chefes da organização.

O livro conta a história do roubo de um cofre recheado com US$ 2,5 milhões desviados de obras realizadas pelo ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, dinheiro que hoje equivaleria a aproximadamente R$ 25 milhões. Após a morte do político, o dinheiro foi guardado pela sua amante, a socialite Ana Capriglione, a quem Adhemar chamava de Dr. Rui para não levantar suspeitas.

Dr. Rui era uma mulher que circulava com facilidade pelo poder e chegou a nomear para uma pasta do governo paulista o padre que abençoou seu relacionamento com o amante. "A Ana tinha uma gerencia muito grande no governo do Adhemar. Ele fazia certas vontades da Ana e deixava ela nomear alguns secretário", conta o autor. "Adhemar era um populista e a Ana uma socialite muito chique que não combinavam em nada, mas se amavam", completa.

Personagem esquecido

Apesar da participação de Dilma, para o autor, o principal personagem desse episódio histórico é o estudante Gustavo Schiller. Ele vivia na mansão onde estava guardado o dinheiro e ao saber da existência do cofre passa a informação para os guerrilheiros mesmo sabendo que isso colocaria a vida de todos em risco.

Após o roubo, ele foi preso, torturado e perseguido, tanto pela ditadura, quanto pela esquerda. Desiludido com o que foi feito com o dinheiro e com os rumos que os militantes de esquerda tomaram após a redemocratização do País, cometeu suicídio ao voltar do exílio.

"Era um cara muito idealista que queria que o dinheiro que ele ajudou a conseguir fosse bem aproveitado com a organização da guerrilha, mas ele vê que as pessoas começam a se dispensar, então ele acaba sofrendo a vida inteira por causa desse cofre e se mata quando ele volta do exílio, logo quando o Sarney toma o poder, por se desiludir com os que eram de esquerda que acabam entrando no governo", conta o autor.

Mutantes

O autor diz que durante a investigação para o livro descobriu várias outras histórias interessantes, entre elas a da ligação dos irmãos da banda Os Mutantes, quando crianças, com Adhemar. O homem de confiança do ex-governador era César Batista, pai dos músicos.

"Eu soube que os meninos dos Mutantes chegavam a carregar malas de dinheiro para o tio Adhemar para alimentar esses cofres. Ele falava: 'olha molecada, vamos carregar essas malas para não levantar muita suspeita', isso quem me contou foi o Cláudio, que é irmão mais velho. Eles adoravam o Adhemar, que era dono da Lacta, e dava ovos de chocolate e Diamantes Negros para os meninos. O Serginho Dias, guitarrista dos Mutantes, dizia que a primeira vez que ele andou de conversível foi no carro da Ana (Dr. Rui)", conta.

O livro:
Nome:
O Cofre do Dr. Rui
Editora: Civilização Brasileira
Autor: Tom Cardoso
Páginas: 176
Valor: R$ 29,90

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