Maynard Marques de Santa Rosa
31 de março de 1964 foi o ponto culminante do ciclo de turbulências que teve como gatilho a depressão econômica de 1929.
A Revolução de 1930 deu fim à Velha República e ao sistema federalista, que perpetuava a hegemonia das elites econômicas da região Sudeste. O poder terminou centralizado sob o regime caudilhista de Getúlio Vargas.
A Revolução Constitucionalista de 1932 resumiu a insatisfação das elites paulistas com a perda de seus privilégios. Embora esmagada pelas forças federais em apenas 85 dias, ela deixou um rastro de instabilidade política que perdurou até 1945.
Em 27 de novembro de 1935, a Aliança Nacional Libertadora, encabeçada pelo PC do B, promoveu a intentona, com o apoio do COMINTERN. O Exército, mesmo sobressaltado pela traição que matou dezenas de companheiros do 3º RI enquanto dormiam e pelos combates na Vila Militar e no Campo dos Afonsos, no Rio, no 14º RI (Recife) e na guarnição de Natal, deu conta da rebelião, e seus chefes foram presos ou caíram na clandestinidade. Stálin, desconfiado de Luís Carlos Prestes, a quem desdenhava como “um chato”, havia destacado uma espiã de confiança do NKVD para “acompanhá-lo” no Brasil. Nesse papel, Olga Benário acabou presa e deportada para a Alemanha nazista.
A aventura comunista deu a Vargas o argumento para implantar o Estado Novo e enrijecer o regime, em 1937. O Movimento Integralista insurgiu-se em 1938, com o Levante de 11 de maio, reagindo ao decreto que extinguia as agremiações políticas no Brasil, mas fracassou. Depois, veio a 2ª Guerra Mundial, e Getúlio teve de enviar a Força Expedicionária Brasileira para a Itália. Após o retorno da tropa, ruiu o regime, sendo substituído pela Ordem Constitucional de 1946.
Em 1947, o Partido Comunista foi colocado na ilegalidade, mas passou a infiltrar-se nos partidos legais, nos sindicatos e no movimento estudantil, passando a promover a subversão sistemática, com o patrocínio do PCUS.
Getúlio voltou pelo voto, em 1951, mas não resistiu ao assédio inclemente da oposição, e suicidou-se, em 1954. O vácuo político que deixou foi ocupado, temporariamente, por Juscelino, entre 1956 e 1961. Contudo, a renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, abriu a caixa de pandora das paixões políticas reprimidas, fazendo recrudescer a chama revolucionária.
João Goulart era um político ambicioso, porém fraco. Seu governo, refém dos sindicatos controlados por comunistas e da sanha revolucionária brizolista, instilou a aventura política com reformas rejeitadas pelo Congresso Nacional. Prestes chegou a declarar que já tinha o governo e só lhe faltava o poder. Se tivesse vingado a conspiração vermelha, Goulart cairia em seguida, como o Kerensky brasileiro.
A crise de 1964 não foi contemplada passivamente pelas Forças Armadas. Sucateadas por falta de investimentos e desprestigiadas pelo poder, sustinha-lhes a força do ideal, acima da força das armas. E não lhes faltou liderança no momento decisivo. Na madrugada de 31 de março de 1964, os soldados a serviço da pátria partiram de Minas Gerais, criando o fato consumado, sob o comando do general Olympio Mourão Filho.
A Revolução prosperou pacificamente, respaldada pela opinião pública, abrindo-se o horizonte para as reformas que, em 20 anos, elevaram o Brasil do 47º para o 8º lugar no ranking mundial das economias, mesmo enfrentando as crises do petróleo de 1973 e 1978 e a subversão armada.
O episódio histórico de 1964 permanece nos arcanos do inconsciente coletivo como exemplo de resiliência nacional para as gerações futuras.