Com a ajuda da líder María Corina Machado, González Urrutia passou da discreta retaguarda da oposição ao palanque público. Foto – Edmundo González Urrutia conhecido como EGU, com sua esposa Mercedes, em 23JUL2024 durante uma concentração popular em Maracaibo, estado Zulia. Foto: @ConVzlaComando vía Otálvora
EDGAR C. OTÁLVORA
Diario Las Américas
Miami, Florida
27 Julho 2024
@ecotalvora
Nota DefesaNet
O Relatório Otálvora apresenta o “desconhecido” Edmundo González Urrutia (EGU).
Leitura fundamental para entender as eleições de hoje (28JUL2024) na Venezuela.
O Editor
Edmundo González Urrutia (EGU), a carta com a qual a oposição venezuelana tenta derrotar a ditadura chavista nas votações convocadas para 28JUL2024, não é um homem alheio à política. A sua carreira profissional como diplomata e o seu subsequente papel como ativista mantiveram-no permanentemente no mundo político. A sua ascensão vertiginosa às primeiras fileiras, liderada pela líder María Corina Machado, significou a sua passagem da retaguarda para a tribuna pública. Mas nas últimas duas décadas EGU fez parte de um grande conglomerado de venezuelanos que militaram contra o chavismo nas diversas tentativas de organizar a causa democrática venezuelana.
Como diplomata de carreira desde a década de 1970, EGU atuou tanto no serviço exterior quanto na Chancelaria Venezuelana. No final dos anos setenta foi enviado como primeiro secretário da missão venezuelana em Washington DC. Mais tarde, em 1981, foi incorporado como segundo em missão na Embaixada da Venezuela em El Salvador, em plena guerra salvadorenha. Lá ele acompanhou o já renomado apresentador de TV Leopoldo Castillo, que atuou como Embaixador. Durante o segundo governo de Carlos Andrés Pérez, a EGU já foi enviada com o posto de Embaixador como chefe da missão em Argel.
Com a promoção de Rafael Caldera à Presidência em 1994 e a nomeação de Miguel Ángel Burelli Rivas como Ministro das Relações Exteriores, a EGU foi nomeada Diretor Geral Setorial de Política da Chancelaria, o cargo mais relevante para a época em termos de monitoramento , planejamento e execução da política externa. Vários ex-jovens cristãos sociais que ingressaram no Ministério das Relações Exteriores da Venezuela no final da década de 1970 começaram a ocupar os cargos mais importantes na diplomacia venezuelana no final da década de 1980. Nessa condição a EGU passou a trabalhar diretamente com Burelli Rivas.
No dia 06SET1994 o presidente da Colômbia Ernesto Samper Pizano visita a Venezuela e assina uma declaração com Rafael Caldera. Na foto tirada nos jardins da então residência presidencial de La Casona, em Caracas, a partir da esquerda. À direita, o Embaixador Julio Riaño, o diretor de protocolo do Itamaraty da Colômbia, Ernesto Samper e Rafael Caldera, Edmundo González Urrutia. Atrás dos ministros Rodrigo Pardo García-Peña e Miguel Ángel Burelli Rivas.
No dia 06SET1994 o presidente da Colômbia Ernesto Samper Pizano visita a Venezuela e assina uma declaração com Rafael Caldera. Na foto tirada nos jardins da então residência presidencial de La Casona, em Caracas, a partir da esquerda. À direita, o Embaixador Julio Riaño, o diretor de protocolo da Chancelaria da Colômbia, Ernesto Samper e Rafael Caldera, Edmundo González Urrutia. Atrás dos ministros Rodrigo Pardo García-Peña e Miguel Ángel Burelli Rivas. Foto: Portal RafaelCaldera.com via Otálvora
Em agosto de 1994, Edmundo González Urrutia desembarcou na base militar do CATAM em Bogotá, acompanhando o chanceler Burelli Rivas, que estava em visita oficial à Colômbia. Na foto da esquerda para a direita: oficial de segurança da Embaixada da Venezuela na Colômbia, Embaixador Abdón Vivas Terán, Ministro Miguel Ángel Burelli Rivas, EGU e Edgar C. Otálvora.
Na qualidade de chefe da Direção de Política Externa da Chancelaria, naquela época EGU foi responsável pela organização da VII Cúpula Ibero-Americana, da qual a Venezuela foi anfitriã e que ocorreu de 08 a 09 de novembro de 1997. O documento aprovado pelos líderes na cimeira e em cuja discussão EGU participou intitulava-se “Os valores éticos da democracia”.
EGU, organizador do evento multilateral ibero-americano, aparece atrás do presidente Rafael Caldera, que recebe aplausos dos líderes reunidos na Ilha Margarita, em 9 de novembro de 1997.Foto: Portal RafalCaldera.com via Otálvora
Rafael Caldera, no final de seu mandato, decide enviar EGU como seu Embaixador junto ao governo da Argentina e a nomeação coincidiria com o início do governo de Hugo Chávez. EGU, tal como outros chefes de missão diplomática, muitos deles com longas carreiras diplomáticas continuaram nos seus cargos. EGU permaneceu à frente da missão venezuelana em Buenos Aires até 2002.
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Após a sua aposentadoria do Ministério dos Negócios Estrangeiros, EGU rapidamente começou a tornar-se um ativista da oposição, um analista de política externa e um operador da oposição. À medida que o chavismo adquire estatuto hegemónico e os partidos praticamente desaparecem, os espaços para o debate político vão-se fechando na Venezuela. Duas fundações alemãs, correndo o risco de serem banidas pelo regime, promoveram estudos, fóruns, viagens ao estrangeiro, publicação de livros e espaços de discussão. Embora a Fundação Friedrich Ebert refletisse as contradições vividas na social-democracia alemã face ao regime chavista, os responsáveis pela fundação em Caracas decidiram aproximar-se da oposição maltratada. Nesse ambiente, EGU passou a ser participante regular de fóruns de análise política e autora de textos para a fundação social-democrata alemã Friedrich Ebert em Caracas.
Em maio de 2005, EGU participou na criação do Grupo Ávila, juntamente com um grande grupo de diplomatas e especialistas em questões internacionais, incluindo Fernando Gerbasi, Milos Alcalay, Adolfo Salgueiro, Adolfo Taylhardat, Rodrigo Arcaya, Erik Becker Becker, María Teresa Belandria , Sadio Garavini Di Turno, Beatriz Gerbasi, Emilio Nouel, Rosario Orellana e María Teresa Romero entre outros. O objetivo do grupo é atuar como um fórum de discussão de questões de política externa e nacional. Sob os auspícios da Fundação Konrad Adenauer, o Grupo Ávila, coordenado pela EGU, realiza reuniões semanais onde debateram temas da atualidade e aprovaram declarações e declarações sobre a crise venezuelana numa perspectiva de acontecimentos de política externa.
Reunião do Grupo Ávila presidida por Edmundo González Urrutia para discutir as negociações do governo colombiano com as FARC e seu impacto na Venezuela em 10OUT2016. Foto: Emilio Nouel via Otálvora
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Além da atividade de análise política, EGU iniciou atividade política direta acompanhando outro Socialista Cristão, Ramón Guillermo Aveledo, trabalhando em conjunto a partir da Secretaria Executiva da aliança política denominada Mesa de Unidade Democrática e do Instituto de Estudos Parlamentares Fermín Toro. Oficialmente, a EGU atuou como Coordenadora de Ligação Internacional do MUD desde 2008 e por um período de seis anos. A EGU tornou-se um ativista político internacional e uma presença permanente nos debates que a oposição vivia.
Em junho de 2013, logo após a posse de Nicolás Maduro, após uma eleição cercada de indícios de fraude, Aveledo viajou a Washington para uma série de reuniões com dirigentes do executivo e com congressistas de ambos os partidos. EGU fez parte da delegação enviada a Washington juntamente com o parlamentar social-democrata Williams Dávila Barrios. Entre os interlocutores da delegação venezuelana estavam a então subsecretária para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, Roberta Jacobson, Jack Sullivan que era conselheiro de segurança nacional do vice-presidente Joe Biden, o senador democrata Bob Menéndez e a deputada republicana Ileana Ros-Lehtinen.
No dia 19JUN2013 no Departamento de Estado dos EUA, Edmundo González Urrutia, Ramón Guillermo Aveledo, Roberta Jacobson e Williams Dávila Barrios. Foto MUD via Otálvora
Em 2013, o secretário da MUD, Ramón Guillermo Aveledo, decidiu constituir uma equipa de assessores para desenhar a diplomacia da oposição em relação a vários países importantes como os EUA, a Colômbia e o Brasil, entre outros. A coordenação deste grupo de conselheiros sombra ficou a cargo de EGU. Também nessa altura, uma das atividades que EGU realizava eram viajar para países do Continente onde já se concentravam grupos crescentes de venezuelanos. A tarefa da EGU era transmitir notícias políticas aos venezuelanos e promover a organização de grupos de oposição em cada capital. Não é verdade que a EGU fosse uma personagem muito afastada do ativismo político.
Edmundo González Urrutia com um grupo de venezuelanos em San José, Costa Rica, por volta de 2014. Foto: Coleção ECO.
Aveledo renuncia à secretaria do MUD em meados de 2014, EGU passa a viajar para diversos fóruns internacionais agora como coordenador de relações internacionais do Instituto Fermín Toro de Estudos Parlamentares.
No dia 28SET2017, Edmundo González Urrutia apresentou a situação política venezuelana na Cidade do México em evento convocado pela Fundação Konrad Adenauer. Foto/via Otálvora
A aliança de oposição MUD, que em 2012 se tornou um partido político, foi a plataforma com a qual a oposição venezuelana alcançou a maioria absoluta de 56% dos votos nas eleições parlamentares de 06DEZ2015. O regime procedeu à sua ilegalização em 2018 e à devolução do seu estatuto em 2021. Sem estrutura nem militância, a sigla MUD manteve-se juridicamente ativa e o estatuto permaneceu nas mãos da EGU. Esta circunstância abriu um buraco no fraudulento sistema eleitoral chavista que permitiu o registo da candidatura da EGU, dada a recusa do regime em permitir a participação de María Corina Machado nas votações de 28JUL24.
Edmundo González Urrutia, com o apoio do MCM e o aval das forças da oposição venezuelana, passou da retaguarda da oposição ao palanque público em busca da Presidência da Venezuela, na tentativa de derrotar uma ditadura com votos e mobilização popular.