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Gen Ex Pinto Silva – Particularidades Operacionais da Guerra Moderna – Uma Opinião

Particularidades Operacionais da Guerra Moderna – Uma Opinião

Pinto Silva Carlos Alberto[1]

1. GENERALIDADES

Atualmente, as armas de destruição em massa e um mundo multipolar emergente impõem limites ao confronto direto entre Grandes Potências[2], além disso, os efeitos dos custos colaterais políticos, econômicos, físicos e militares limitam o emprego da Guerra Convencional em larga escala.

As rígidas regras de guerra mudaram. Assim, o foco dos métodos dos confrontos moveu “para um conflito de espectro ampliado em direção a um importante emprego de medidas de caráter Político, Econômico, Informacional, Humanitário e outras tipicamente não militares, aplicadas em coordenação com o potencial dos protestos da população alvo”. Isso significa emprego “agressivo” de meios não militares, apoiados por alternativas militares de efeito não cinético (não letais), sobretudo operações de informação e guerra cibernética e, ainda, atribuir maior ênfase às ações políticas, diplomáticas, geoeconômicas e informacionais.

Esse cenário ambíguo e difuso tem colocado em grande evidência os conceitos de “Guerra Híbrida”[3],“Conflito na Zona Cinza”[4], Conflito de Espectro Ampliado[5].

2. PARTICULARIDADES OPERACIONAIS

A nova Geração da Guerra apresenta particularidades operacionais que devem ser observadas pelos planejadores e decisores estratégicos e táticos. Entre essas particularidades se destacam:

  • deve-se partir do conceito de que guerra e paz, na atual conjuntura, são parte do mesmo fluxo das relações internacionais;
  • o mundo, atualmente, está em um estado de luta incessante, a paz é relativa, não há inimigos e sim estados com ações hostis em defesa dos seus interesses;
  • o conflito moderno normalmente apresenta um panorama de atividades de Guerra Híbrida;
  • – na Guerra Hibrida, pela multiplicidade de ações desenvolvidas, as Forças Armadas usarão capacidades de 3ª,4ª e de 5ª “Gerações da Guerra”, portanto devem ser da era da informação e com alta tecnologia;
  • o aproveitamento da “Assimetria Reversa” (quando, em algum instante do conflito, venha existir a efetiva limitação ou a autolimitação do emprego da incontestável superioridade militar e tecnológica) e da “Assimetria Estratégica” (aplicação de estratégias antagônicas pelos contendores);
  • – as forças militares convencionais cumprirão ação predominante para a esfera estratégica, em que a integração do planejamento estratégico e a coordenação das ferramentas de Estado torna-se o denominador crítico;
  • a verdadeira novidade é como combinar o emprego de força militares com as ferramentas tipicamente de Estado, usando com maestria redes de computadores para sincronizar, integrar e controlar as ações;
  • destaca-se a importância de vencer a disputa, também, antes e depois do conflito;
  • os Estados devem considerar que os conflitos tenham pequena duração, para evitar o alto custo da guerra tecnológica, e que a NARRATIVA deixe de ser aceita no Tabuleiro da Política Internacional, podendo significar um desastre no nível estratégico, ainda que seja capaz de vencer no nível operacional e tático;
  • para Forças Irregulares e na guerra não convencional o tempo passa a ser regulado pelo custo político;
  • o poder decisório, assim como o poder de fogo é levado aos escalões inferiores num alto nível de detalhamento e precisão, com o uso da tecnologia (Guerra Centrada em Redes) e da munição inteligente;
  • a Guerra Centrada em Redes permite aumentar a coordenação das diversas ferramentas à disposição do Poder Nacional, mantendo as ações políticas, estratégicas, operacionais e táticas alinhadas a objetivos que se complementam;
  • as Operações, que já não são formadas apenas por combatentes, tendo passado a abarcar um espectro de combatentes a não combatentes, com vários pontos intermediários, e cuja definição de êxito e segurança pode diferir das definições militares tradicionais;
  • o espaço de combate se estende além de concepções tradicionais, sendo necessário a separação em “diferentes níveis”, enquanto as operações devem considerar múltiplos estratos espaciais, políticos, econômicos, sociais, militares e culturais, entre muitos outros. Isso muda, fundamentalmente, o modo como vemos áreas de operações e áreas de responsabilidade;
  • o campo de batalha moderno não apenas se estende além do domínio militar para o domínio humano, como também muda a escala de global para local e a maioria de níveis intermediários;
  • é preciso ter, ainda, capacidade, resistência e recursos para acessar e empregar meios em todos os domínios para impor dilemas múltiplos e compostos ao adversário”. Em outras palavras, as operações mudam constantemente, às vezes de forma imprevisível;
  • um conceito que permanece constante é a necessidade de obter a iniciativa; nesse caso, rapidez no planejamento, na execução e atuar no(s) domínio(s) e/ou nível(eis) que melhor estabeleça(m) as condições para à conquista, mas cooperem para o êxito do todo;
  • o estado com menor poder de combate (Assimetria) busca atuar em um nível abaixo do conflito armado, operações não cinéticas, o que se denomina “vencer sem combater”;
  • -atualmente, a maioria da população mundial vive em cidades. Os principais elementos das sociedades, incluindo estruturas econômicas, sociais, políticas e culturais, estão, em sua maioria, mais concentrados em zonas urbanas que em qualquer outro período da história;
  • no planejamento de operações, é essencial entender as principais cidades da região. O tamanho, a densidade e os elementos sociais de uma cidade criam um ambiente complexo e mutável que favorece ao de menor poder, na Guerra Assimétrica. O combate urbano releva as vantagens oferecida pela tecnologia;
  • – as áreas urbanas densas incluem vários níveis físicos, do subterrâneo à superfície e acima do solo, tanto em edifícios quanto em tecnologia aérea (drones, aviões etc.).[6] Além dos níveis físicos, há também um número significativo de níveis de geografia humana;
  • a natureza mutável das operações militares modernas aumentou as dificuldades para definir objetivos e, consequentemente, para definir o êxito ou vitória;
  • a luta no nível abaixo do limiar do conflito armado, é vista como um método para controlar a população ou dominar terreno sem uma campanha prolongada de desgaste;
  • uma das principais mudanças nas atuais operações militares consiste na expansão do campo de batalha e da área de operações (AOP). Já não é possível delinear a AOp com uma linha distinta num mapa. A tecnologia moderna permite que as conexões se estendam para além de uma única região;
  • o oponente tentará atingir uma área de apoio empregando uma variedade de meios, incluindo;
    entre outros, ataques cibernéticos, campanhas de informação, ações terroristas, ações cinéticas tradicionais e emprego de “fogo de impasse” de várias plataformas (que envolvem o emprego de força militar)[7];
  • o aumento da dimensão da AOp tem impactos significativos no planejamento de missões. O efeito das interligações, facilitadas pela globalização e avanços na tecnologia da comunicação, incluindo a rede de controle (Guerra Centrada em Redes), o acesso às mídias sociais e aos meios de comunicação tradicionais, o que representa uma mudança de escala geográfica que desafia o conceito convencional de um ambiente operacional bem definido, que possa ser isolado para a análise em uma escala local. As regiões modernas existem em vários níveis, de ações locais a decisões globais que afetam os cidadãos locais.

Em termos das operações militares modernas, da “Guerra de Nova Geração” as ações na menor escala, até mesmo na do soldado individual, têm potenciais impactos estratégicos na escala do teatro de operações ou, possivelmente, no nível global. Essas interações entre níveis e escalas devem fazer parte de toda análise nas Guerras da era da Informação.

3. UMA OPINIÃO

Não são apenas os militares que carregam o peso de enfrentar um adversário e sim o Poder Nacional na sua totalidade. O apoio e contribuições de populações inteiras são essenciais para vencer uma guerra.

O tempo e os recursos são os maiores obstáculos!!!


[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.

[2] A paridade nuclear EUA e Rússia impõem restrições o uso da Guerra Nuclear, no caso de uma Guerra Convencional contra países emergentes, considerados de poder de combate regionalmente equiparado ao dos EUA.

[3] É composta de uma guerra política, informacional e de atividades híbridas, e deve ser secreta pelo maior tempo possível. Um conflito no qual os atores, estado ou não-estado, exploram vários modos de guerra simultaneamente (guerra financeira, guerra cultural, guerra midiática, guerra tecnológica, guerra psicológica, guerra cibernética, o amplo espectro do conflito, empregando armas convencionais avançadas, táticas irregulares, tecnologias agressivas, terrorismo e criminalidade visando desestabilizar a ordem vigente.

[4] De acordo com Hal Brands, o “conflito na zona cinza é uma atividade coercitiva e agressiva por natureza, mas deliberadamente concebida para permanecer abaixo dos limites de um conflito militar convencional”. Ou seja, “a Zona Cinza se caracteriza por uma intensa competição política, econômica, informacional e militar, mais acirrada que a diplomacia tradicional, porém inferior à guerra convencional”.

[5] Inclui todas as ferramentas à disposição do Poder Nacional.

[6] Ambientes Urbanos Densos – Military Review – 2ºTrmestre 2021.

[7] Ambientes Urbanos Densos – Military Review – 2ºTrmestre 2021.

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