Representantes do governo brasileiro participaram de uma comemoração alusiva aos 120 anos das relações com o Irã
Felipe Frazão, Vinícius Valfré e Roberto Godoy
Portal Estadão
02 Março 2023
BRASÍLIA – Além de receber, sob críticas públicas dos Estados Unidos, navios da frota de guerra do Irã no Rio de Janeiro, o governo brasileiro também enviou representantes para participar, na terça-feira, 28, de uma cerimônia em alusão aos 120 anos de relações diplomáticas entre os dois países. O Estadão apurou que a solenidade foi realizada a bordo da fragata Iris Dena, um dos dois navios militares iranianos ancorados no porto do Rio. A celebração, da qual participaram oficiais da Marinha e integrantes do Itamaraty, não foi divulgada pelos canais oficiais do Ministério das Relações Exteriores.
A entrada das embarcações na costa brasileira gerou um mal estar na relação diplomática do Brasil com os EUA, que impõem sanções ao Irã alegando atos de terrorismo e violações aos Direitos Humanos. “No passado, esses navios facilitaram o comércio ilegal e atividades terroristas, e também foram sancionados pelos EUA. O Brasil é uma nação soberana, mas acreditamos firmemente que esses navios não devem atracar em lugar nenhum”, disse a embaixadora, no dia 15, em sua primeira entrevista coletiva no Brasi
Na quarta-feira, o governo norte-americano voltou a criticar a manobra. “Queremos garantir que a Guarda Revolucionária do Irã e o Irã, de forma mais ampla, não sejam capazes de adquirir uma posição de destaque e de conseguir vantagem por meio de outros neste hemisfério. Certamente o governo brasileiro ou o povo brasileiro não gostariam de fazer algo que ajudasse um governo, um regime que é responsável por uma repressão brutal e violenta contra seu próprio povo”, afirmou Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.
O governo de Israel também protestou. Lior Haiat, porta-voz do ministério das Relações Exteriores de Israel, publicou uma nota em seu Twitter chamando de “perigosa e lamentável” a ação brasileira.
O Estadão apurou que a confraternização dentro da fragata foi uma cerimônia reservada, restrita a diplomatas dos dois países e com a orientação que não divulgassem fotos. Em geral, nesse tipo de solenidade há um discurso de cada diplomata em alusão a relação entre os países e dos oficiais da Marinha. No caso do Irã, eles não servem bebidas alcoólicas e quando promovem eventos como esse na embaixada servem pratos típicos.
Os navios chegaram ao Brasil no domingo, 26, e tem autorização do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para permanecer até o próximo sábado, 4. O Iris Makran é considerado um “monstro do mar”, com 230 metros e cerca de 120 mil toneladas. Mais que um petroleiro convertido em porta-helicópteros, o navio pode lançar drones de grande porte, armados com mísseis ou de espionagem.
Segundo os serviços de inteligência do Departamento de Defesa americano (DoD na sigla em inglês), o Makran abriga a bordo um avançado centro eletrônico de coleta de dados, escuta de comunicações e vigilância de área. Na flotilha da Marinha do Irã em visita ao Brasil, a fragata Iris Dena escolta o grande Makran. Com 1.300 toneladas, a embarcação dispara mísseis de cruzeiro com alcance de 1,2 mil km e torpedos de 533mm.
US Senator Ted Cruz Issues Statement on Iranian Warships in Brazil WASHINGTON, D.C. – U.S. Sen. Ted Cruz (R-Texas), Ranking Member of the Senate Committee on Commerce, Science, and Transportation and member of the Senate Foreign Relations Committee, issued the following statement today after two Iranian warships were allowed by Brazil to dock at a port in Rio de Janeiro: “The docking of Iranian warships in Brazil is a dangerous development and a direct threat to the safety and security of Americans. The United States has sanctions and antiterrorism laws designed exactly to deter and respond to these threats. These Iranian warships are already sanctioned, and so the port in Rio de Janeiro where they docked is now at risk of crippling sanctions, as are any Brazilian companies that provided them services or accepted payments – and so are all foreign companies that entangle themselves with the port or those Brazilian companies in the future. President Biden calls Brazilian President da Silva his friend and said he was honored to host him at the White House, and da Silva himself is a Chavista aligned against the United States and our interests, so either these risks were not conveyed or the Brazilians did not care. Nevertheless, our anti-terrorism laws are designed to protect Americans and are not optional. The Biden administration is obligated to impose relevant sanctions, reevaluate Brazil’s cooperation with U.S. antiterrorism efforts, and reexamine whether Brazil is maintaining effective antiterrorism measures at its ports. If the administration does not, Congress should force them to do so.” |
O Itamaraty informou que não há pedidos para prorrogar a autorização para permanência no litoral brasileiro. Questionado sobre a lista de enviados à cerimônia, o ministério não comentou. A expectativa é a de que, no fim de semana, as embarcações partam do Brasil e sigam de volta ao Irã.
Os navios tiveram um primeiro aval para aportar entre no fim de janeiro. No entanto, a manobra ocorreria pouco antes da visita de Estado do presidente Lula ao presidente americano Joe Biden. A entrada dos navios acabou adiada para o fim de fevereiro, dada a sensibilidade diplomática do tema.
Na Câmara, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) criticou a autorização aos navios iranianos. “(O Brasil é) O único país da América Latina que se submete aos sabores do Irã. (A chegada das embarcações) Representa ameaça terrorista não só aos EUA, mas a toda a região”, disse.
Chefe do Itamaraty no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Carlos França esteve no Irã em setembro. Na ocasião, em encontro com o seu equivalente, ministro Amir Abdollahian, e buscou estreitar relações para “aumentar as trocas comerciais e implementar acordos bilaterais”, como registram agências iranianas. No mesmo mês, a Aditância de Defesa, Naval, do Exército e Aeronáutico do Brasil no Irã participou da cerimônia do 14° aniversário da Defesa Aérea do Exército Iraniano. A aditância está presente no Irã desde 1976.
Navios iranianos aportam no Rio após polêmica com EUA; veja fotos e conheça embarcações
Rayanderson Guerra
Portal Estadão
01 Março 2023
Iris Makran é um petroleiro adaptado para fins bélicos capaz de cumprir missões de coleta de informações e Iris Dena pode interceptar até 40 alvos; embaixada americana afirma que embarcações facilitaram ações terroristas
RIO – Alvo de preocupação do governo americano, as embarcações Iris Makran e Iris Dena, pertencentes à frota de guerra iraniana, atracaram no porto do Rio de Janeiro no domingo, 26, e devem ficar na Baía de Guanabara até sábado, dia 4 de março. Os navios não serão abertos à visitação pública.
A Marinha do Brasil autorizou que dois navios de guerra atracassem no porto do Rio de Janeiro. A autorização, concedida pelo Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada, Carlos Eduardo Horta Arentz, contraria solicitação dos Estados Unidos para que não fosse permitida a entrada das embarcações militares em território brasileiro.
A embaixada americana no Brasil declarou preocupação por parte dos Estados Unidos sobre a presença das embarcações no Brasil e afirmou que, no passado, os navios iranianos facilitaram ações terroristas e comércio ilícito na região. Em entrevistas em Brasília, a embaixadora Elizabeth Bagley ainda destacou que, apesar da soberania do Brasil em decidir, “nenhum país” deveria autorizar a ancoragem das embarcações.
O senador americano do Partido Republicano Ted Cruz também criticou o Brasil. O parlamentar, que representa o Estado do Texas, disse que os navios de guerra já estão sob sanções, o que significa que o porto brasileiro onde atracaram agora corre o risco de também sofrer penalidades dos EUA, assim como empresas brasileiras e estrangeiras que prestarem serviços aos navios.
Iris Makran
O navio Iris Makran é considerado a maior embarcação militar iraniana. Com 121 mil toneladas, o petroleiro foi transformado em um navio de guerra para transportar cinco helicópteros e fornecer apoio logístico aos navios de guerra de combate, como transporte de suprimentos e combustível. A embarcação tem 228 metros de comprimento e largura de 42 metros.
O navio pode acomodar até 80 mil toneladas de combustível e 20 mil toneladas de água. Com os suprimentos, a embarcação poderia dar a volta ao mundo em 93 dias, por até 10 vezes sem precisar parar. Ou seja, pode navegar por 2 anos e meio sem reabastecimento.
O Iris Makran também conta com plataformas de lançamento de mísseis, seis posições de artilharia defensiva e sistemas de guerra eletrônica instalado. O navio pode realizar uma missão de coleta de dados, processamento e análise de informações e fornecê-las aos centros de comando e controle na costa a milhas e milhas de distância, segundo o site da Iran Press, agência do governo iraniano.
Iris Makran é um petroleiro adaptado para fins bélicos capaz de cumprir missões de coleta de informações e Iris Dena pode interceptar até 40 alvos; embaixada americana afirma que embarcações facilitaram ações terroristas
Iris Dena
O Iris Dena é um navio de guerra da classe “Mowj” que ingressou na Marinha Iraniana em junho de 2021. A embarcação, com 94 metros de comprimento e 11 de largura, está equipada com mísseis de cruzeiro antinavio, torpedos e canhões navais. Pesa de 1,3 mil a 1,5 mil toneladas.
A embarcação militar está equipada com sistema de controle de tiro com capacidade de interceptar até 40 alvos, quatro tipos de canhões e dois lançadores de torpedos “tubarões” de 533 mm, além de um radar de proteção contra ataques.
A cabine de comando pode controlar o pouso e decolagem de um helicóptero. O navio funciona com dois motores e quatro geradores a diesel e pode atingir uma velocidade máxima de 55,6 km/h. Tem capacidade para acomodar uma tripulação de até 140 pessoas.