Tania Campelo
O futuro aponta para um mercado em crescimento e com muitas oportunidades para empresas e profissionais do setor aeroespacial. Da fusão Embraer-Boeing, que pode inserir a indústria brasileira no mercado global, ao movimento New Space, que abre caminhos para novos empreendedores, as projeções são bastante promissoras.
Este cenário otimista foi desenhado por profissionais do setor durante o 2º Siab (Seminário da Indústria Aeroespacial Brasileira), realizado pelo e-IMI (Information Management Institute) no Parque Tecnológico de São José dos Campos, na última quinta-feira (23).
"A parceria com a Boeing é de perpetuação da indústria aeronáutica no Brasil. Nós estamos integrando a cadeia aeronáutica brasileira à maior cadeia da indústria aeronáutica espacial do mundo", disse Nelson Salgado, vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores da Embraer durante o evento.
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Nelson Salgado, vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores da Embraer |
Salgado participou do painel “Oportunidades após a fusão Boeing-Embraer”, ao lado de Antonini Puppin-Macedo, diretor geral do Centro de Pesquisa e Tecnologia da Boeing no Brasil, e do engenheiro Ozires Silva, fundador e ex-presidente da Embraer.
O CFO da Embraer tranquilizou os empresários da cadeia produtiva preocupados com possível descontinuidade da estrutura de oferta de matéria-prima cortada para as empresas. "Vai continuar e vai melhorar, porque a Boeing vai comprar material mais barato do que a Embraer consegue comprar, inclusive."
Salgado também falou sobre as perspectivas de crescimento para os produtos feitos no Brasil para o setor da aviação comercial, e lembrou que no E1 a Embraer comprava 1 milhão de dólares por avião, e no E2 esse número vai ser 2,2 milhões, com quase o dobro de itens e maior valor agregado.
"Essa estrutura de dois duopólios [Boeing/Airbus e Embraer/Bombardier] o resultado delas hoje é esse: você tem 30 mil aviões acima de 150 e 200 assentos voando; e entre 100 e 150, você tem 3 mil. Não existe razão de mercado que explique essa diferença, a não ser o fato de a Boeing e Airbus puxarem a demanda para o seu lado. Na hora em que essa barreira se move, eu tenho uma confiança muito grande que esse simples fato vai fazer que a gente tenha muito mais mercado para o E2", explicou Salgado. Ele finalizou dizendo que a Embraer continua com interesse grande na aviação comercial pois detém 20% da nova empresa de aviação comercial, que foi batizada de Boeing Brasil – Commerce.
Antonini reforçou a análise de Salgado e disse que a Boeing pretende investir na região e criar parcerias com órgãos locais, como o DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial) e o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). “A gente vive um momento muito importante, uma mudança de paradigmas da indústria. E nós todos, como membros dessa grande cadeia, temos que nos beneficiar dessas sinergias”, disse.
Ozires lembrou as ondas de transformações da Embraer, que nasceu como empresa pública em agosto de 1969 e foi privatizada na década de 90, permitindo sua expansão no mercado global. Finalizou com seu típico tom desafiador e motivacional.
“Temos que ter confiança no que está sendo desenvolvido entre a Boeing e a Embraer.
Temos uma oportunidade enorme, e vamos ter que aprender a fazer sozinhos, da melhor forma possível […] O Brasil industrialmente ainda não é muito competitivo, mas em vez de ficar reclamando, vamos fazer o que podemos fazer para melhorar essa situação”, disse o engenheiro que foi pioneiro no setor.
Rumo ao New Space
Investir no New Space, como é chamada a fase da exploração espacial pela iniciativa privada, pode ser um dos caminhos mais promissores para profissionais que buscam projetos inovadores e promissores. Durante o 2º Siab, o engenheiro espacial Lucas Fonseca, CEO da empresa Airvantis, mostrou que explorar o espaço ficou muito mais acessível e desafiou novos empreendedores a pensarem além do que já se conquistou até o momento.
“A quantidade de oportunidades que a gente tem no New Space é praticamente infinita. São várias frentes que nem existem hoje em dia e que vai fazer uso do espaço no futuro”, disse Fonseca, na apresentação do painel ‘A revolução New Space e o caminho do Brasil’.
Segundo ele, o espaço possibilita a criação de “modelos sustentáveis, recorrentes e com crescimento exponencial” em diversas frentes, como turismo espacial, desenvolvimento de novos produtos, mineração e produção de energia.
“A New Space é mais acessível do que foi historicamente toda a indústria espacial. Antes era preciso um investimento muito grande para exercer alguma atividade satelital ou de lançadores. […] Essa parte de baixa órbita a própria Nasa já largou mão, hoje em dia é a indústria privada que vai fazer total acesso dos recursos de baixa órbita. […] Hoje o New Space é realmente mais amplo e muito mais democrático, permitindo que novas pessoas façam parte disso, inclusive uma organização de empreendedorismo”, afirmou o engenheiro.
Ele citou como exemplo do potencial mercado iniciativa como a da UK Space Agency (Agência Espacial Britânica), que está oferecendo 2 milhões de euros a qualquer aeroporto do país que queira se adaptar para o turismo espacial. Ele também citou um medicamento desenvolvido em uma estação espacial que hoje lidera o mercado.
“Quando você percebe esse movimento, tem que enxergar esse além do New Space. tem que buscar oportunidades economicamente sustentáveis para levantar investimento privado. Mostrar a esses investidores, que não têm ideia que se pode investir na área espacial, que você tem um modelo robusto, que consegue de fato ter um crescimento linear ou, melhor ainda, exponencial”.
O Seminário
Com o tema “Oportunidades na indústria aeroespacial brasileira”, a segunda edição do Siab (Seminário da Indústria Aeroespacial Brasileira) reuniu profissionais autônomos e representantes de empresas, universidades e institutos para uma série de palestras, painéis, integração e troca de experiências na última quinta-feira (23), no Parque Tecnológico São José dos Campos.
O evento foi realizado pelo e-IMI (Information Management Institute), com apoio da Invoz (Associação Integrando Vozes Para o Futuro), entidade que tem como presidente de honra o engenheiro Ozires Silva.
"Conseguimos levar ao público a mensagem de que as oportunidades existem e que são muitas, tanto na área aeronáutica quanto na área espacial. Conseguimos também a confirmação de que a cadeia produtiva da Embraer não vai acabar, pelo contrário, deve ter mais investimentos para fazer com que ela consiga atender o mercado da Boeing", disse Paulo Gomes, presidente do e-IMI.
O e-IMI atua como um 'repositório' de profissionais experientes, muitos deles egressos de grandes empresas do setor aeroespacial, que oferece mão-de-obra especializada para projetos e empresas com demanda temporária de competências específicas para as mais diversas áreas da indústria.
Fotos: Lucas Lacaz Ruiz