Tânia Monteiro e Julia Lindner
O governo federal deverá dar seu aval à venda da Embraer para a Boeing. Apesar de a decisão política já estar tomada, não há possibilidade de o negócio ser chancelado pelo Palácio do Planalto antes do segundo turno das eleições presidenciais. Ainda há trâmites burocráticos a serem cumpridos, e o governo não quer que o tema seja explorado durante a campanha, gerando mais críticas à gestão atual. Com o aval do Planalto no fim do ano, o negócio deverá levar mais quatro meses para ser concluído, segundo fontes ouvidas pelo “Estadão/Broadcast”.
A cúpula do governo avalia que qualquer movimentação da União sobre Boeing e Embraer antes das eleições poderia influenciar a discussão entre os candidatos à Presidência e também abrir brechas para ações judiciais que poderiam até inviabilizar o negócio, que foi anunciado no início deste mês e prevê a venda de 80% do negócio de aviação comercial da Embraer à americana Boeing, por US$ 3,8 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões).
Conforme as negociações, a área de jatos comerciais será incorporada por uma nova empresa, ainda sem nome, na qual a brasileira deterá uma participação de 20%. Enquanto isso, os segmentos de aeronaves militares e executivos continuarão nas mãos da Embraer.
O acordo entre a brasileira e a americana é uma resposta a uma parceria na mesma área, formada por suas principais rivais, a europeia Airbus e a canadense Bombardier – esta última é a principal concorrente da Embraer na produção jatos médios, para voos regionais.
Além da formação da nova companhia de jatos comerciais, Embraer e Boeing também anunciaram uma joint venture para a distribuição comercial do cargueiro KC-390, desenvolvido pelo braço militar, que seguirá sob gestão nacional. Os detalhes dessa segunda parceria ainda estão em estudo, informaram as duas companhias.
Uma parte do governo entende que a decisão a ser tomada ainda em 2018 não poderá ser revertida mesmo que o novo ocupante do Palácio do Planalto discorde do negócio. Para esse grupo, não seria possível reverter a operação porque, com a anuência da União, a transação avançaria imediatamente, já que ambas empresas são privadas e têm ações negociadas em Bolsa. Há, porém, um grupo que alerta que a Justiça poderia ter entendimento diferente.
Hoje, as empresas trabalham na auditoria e na avaliação jurídica do acordo – processo que normalmente leva alguns meses. Após esse processo, o presidente Temer será formalmente provocado a se posicionar sobre o negócio porque o governo possui uma golden share, ação de classe especial que dá poder de veto em a grandes mudanças na empresa. O estatuto da Embraer prevê que a União tem 30 dias para exercer o direito de veto ou dar seu aval à transação.
Pressa. Como há previsão de que haja segundo turno nas eleições em 28 de outubro, a expectativa é de que a notificação sobre o negócio seja encaminhada pelas companhias ao Planalto em novembro. Assim, o prazo de 30 dias para a posição de Temer terminaria em dezembro – últimos dias de seu governo. O atual presidente, porém, não pretende gastar os 30 dias para dar o aval à transação, para garantir que o negócio seja chancelado o quanto antes.
Embraer anuncia acordo para venda de 300 aeronaves, no valor de US$ 15 bi¹
A Embraer anunciou nesta terça-feira, 17, vendas, opções e cartas de intenção de oito clientes para suas aeronaves. O potencial dos negócios é para 300 aviões – avaliados em US$ 15 bilhões – para serem entregues nos próximos anos, de acordo com a companhia. Os anúncios foram feitos durante a Farnborough Air Show, uma das principais feiras de aviações do mundo, que ocorre na cidade de mesmo nome, a sudoeste de Londres.
A Farnborough Air Show é a primeira feira da qual a Embraer participa após ter anunciado, na primeira semana de julho, a venda de 80% de sua divisão de aviação comercial para a americana Boeing. O acordo, que deverá ser totalmente concluído no fim de 2019, está sujeito a aprovação do governo brasileiro e dos agentes reguladores.
A fabricante brasileira detalhou que a companhia aérea Republic assinou contrato para 100 aeronaves com opção para adquirir mais 100. A Mauritânia Airlines adquiriu dois E-175, avaliados em US$ 93,8 milhões. O modelo é o menor da área de aviação comercial da Embraer, com capacidade para até 90 passageiros. Já a Azul, como havia informado mais cedo a companhia, assinou uma carta de intenção para 21 aeronaves E195-E2, o maior avião da família mais moderna de jatos da Embraer, com cabine para até 146 viajantes.
A Aérea Watanya Airways, do Kuwait, será o cliente-lançador dessa nova família de aeronaves (E2) no Oriente Médio, com a assinatura para 10 aviões E195-E2 com mais 10 direito de compra do mesmo modelo.
Já Hervetic Airways, da Suíça, assinou uma carta de intenção para 12 aeronaves E190-E2 , com capacidade para até 114 pessoas, com direito de compras para mais 12, que podem ser convertidos para E195-E2, um modelo maior. Um cliente não revelado da Espanha adquiriu três unidades de E195-E2, com opção para mais dois. A empresa de leasing NAC comprou três unidades da E190-E2.
Além dessas vendas que foram formalizadas durante a Farnborough Air Show, a United anunciou ontem a compra de 25 aeronaves E175, que foi celebrada oficialmente hoje, totalizando os 300 pedidos potenciais.
Gigante brasileira em nova fase
Boeing e Embraer formarão nova empresa avaliada em US$ 4,75 bilhões