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Embraer faz previsão conservadora para 2018

João José Oliveira e Marcelle Gutierrez

A Embraer deve ter em 2018 o segundo ano seguido de receita e lucros achatados, afetada pela transição de famílias de jatos comerciais – produto que responde por mais de metade de vendas da companhia brasileira do setor aeroespacial. Depois de apresentar o balanço de 2017, com números abaixo dos de 2016 e inferiores às expectativas dos analistas de mercado, o presidente da companhia, Paulo Cesar de Souza e Silva, afirmou que o ritmo de entregas dos jatos só deve ganhar tração em 2019.

Para 2018, a Embraer estima que a receita, em dólares, fique entre US$ 5,4 bilhões e US$ 5,9 bilhões. A meta é inferior ao objetivo anunciado no ano passado para 2018, que era de US$ 6 bilhões. Apenas se conseguir atingir o teto dessa banda, a companhia bate o desempenho de 2017, quando as vendas somaram US$ 5,84 bilhões, dentro da faixa pretendida pela companhia, de US$ 5,7 bilhões a US$ 6,1 bilhões. O resultado, no entanto, foi inferior ao que esperavam analistas, que projetavam algo acima de US$ 6 bilhões. Em 2016, a empresa teve receita de US$ US$ 6,2 bilhões.

Para a lucratividade, a Embraer também trabalha com cenário conservador. A empresa busca margem de lucro antes de juros e impostos (margem Ebit) de 5% a 6%, abaixo dos 5,6%, de 2017, ano em que esse indicador ficou aquém da meta empresa, que era de 8% a 9%.

"É algo esperado [queda de vendas e de margens] quando há uma transição. Tem uma curva [de crescimento] das vendas. Já tinhamos dito que esperávamos isso para 2017 e 2018. A partir de 2019 isso deve voltar ao normal", afirmou Souza e Silva.

Para 2018, a Embraer prevê entregar de 85 a 95 jatos comerciais – menos que os 101 aviões desse segmento que a empresa entregou em 2017, e menos ainda que os 108 de 2016.

A Embraer ainda está produzindo e entregando jatos da família EJets, enquanto desenvolve a nova linha de aviões E2. A primeira unidade da nova família será à norueguesa Widerøe em abril. "A boa notícia é que o programa está dentro do prazo e os testes mostraram que o E2 é ainda mais eficiente do que prevíamos", afirmou o presidente.

Souza e Silva rebateu a tese de que as negociações entre a Embraer e a Boeing, que confirmaram em dezembro negociações para um acordo de sociedade, esteja afetando as vendas.

O executivo afirmou que equipes de trabalho das duas empresas e do governo brasileiro seguem discutindo um modelo que "atenda aos interesses de todos". Souza e Silva não estabeleceu prazo para fechar um acordo com a americana. Semana passada, ele disse a jornalistas que espera chegar a um consenso ainda neste semestre.

Além do menor volume de entregas de jatos comerciais, a Embraer também sofreu com gastos extras na área de Defesa e Segurança. O vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Embraer, José Filippo, disse que testes com o cargueiro militar KC-390 provocaram gastos extras de US$ 50 milhões após um incidente. "Se não fosse por esses US$ 50 milhões, a margem teria ficado na parte de baixo da meta", disse.

No dia 12 de outubro, o protótipo 001 da aeronave de transporte e reabastecimento KC-390 teve "um evento além do limite planejado no teste de uma das várias configurações experimentadas durante um voo de certificação para avaliar as qualidades em baixa velocidade com simulação de formação de gelo", segundo a empresa.

Por causa disso, o protótipo 001 ficou fora de testes para manutenção. Segundo Filippo, isso levou a ajustes, com mais horas de utilização do protótipo 002 e mudanças no cronograma de procedimentos. "É importante destacar que o evento não provocou mudanças no programa", disse o executivo, afirmando que o primeiro KC-390 será entregue à Força Aérea Brasileira em 2018. "Os dois protótipos estão em testes agora", afirmou Filippo.

No segmento de aviação executiva, o presidente da Embraer disse que o mercado está dando sinais de recuperação. Segundo ele, os preços das aeronaves pararam de recuar e os estoques de modelos usados estão em queda. "A reforma tributária nos Estados Unidos e o crescimento econômico no mundo alimenta a reação da demanda por jatos executivos", afirmou Souza e Silva.

A Embraer tem a meta de entregar de 105 a 125 jatos executivos em 2018, meta acima do desempenho de 2017, quando a empresa entregou 109 jatos.

Em reais, a Embraer teve lucro líquido de R$ 795,8 milhões em 2017, alta de 35,94% ante 2016, enquanto a receita caiu 12,7%, para R$ 18,7 bilhões.

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