Boeing e Embraer “estão se aproximando de um acordo” após meses de negociações, disse nesta terça-feira o ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna. Caso seja concretizada, a sociedade será a segunda em seis meses entre grandes fabricantes de aeronaves. A joint venture deve dar à americana o controle sobre a aérea de jatos regionais da Embraer.
— Para ser direto, eu diria que isso vai acabar em casamento — afirmou o ministro.
Os comentários de Silva e Luna sugerem que o governo brasileiro vê cada vez mais com bons olhos as discussões, fator determinante uma vez que Brasília tem o poder de vetar o negócio. A associação aprofundaria uma mudança significativa no mercado de jatos comerciais desencadeada em outubro quando a francesa Airbus assumiu o controle do programa das aeronaves C Series da canadense Bombardier — jatos que devem competir diretamente com modelos da Embraer e que são motivos de queixas da Boeing, que acusa a rival de Montreal de ser subsidiada em nível desleal.
As ações da Embraer subiram 4,6% após as declarações do ministro. Os papéis da Boeing avançaram até 3,6%. Nenhuma das empresas respondeu ao pedido de comentário.
Do lado brasileiro, o governo busca garantias de que não haverá influência americana em questões de defesa. Já os americanos estão tentando mostrar que não será uma compra simples, e que a Boeing pode usar o Brasil para desenvolver produtos na área de defesa que seriam mais facilmente vendidos para outros mercados, sem a restrição das leis americanas que impedem a exportação de tecnologia sensível da área militar a outras nações.
Boeing entrega nova proposta de modelo de negócio para compra da Embraer
Boeing e Embraer entregaram nesta terça-feira uma nova proposta de modelo de negócio ao grupo de trabalho montado pelo governo federal para avaliar a venda da fabricante brasileira à gigante americana. Segundo fontes envolvidas na negociação, "houve uma evolução na proposta" no sentido de "acomodar as preocupações das Forças Armadas relacionadas aos projetos de defesa". Com essa acomodação, a expectativa é que o negócio seja aprovado na semana que vem.
O grupo de trabalho criado pelo governo federal é composto por membros dos Ministérios da Defesa e da Fazenda, do BNDES e da FAB.
O documento entregue, intitulado memorando de entendimentos, foi elaborado pelas duas empresas em conjunto e, na prática, é uma revisão de uma proposta entregue pela Boeing há algumas semanas e que havia sido recusada pelo grupo de trabalho.
Procuradas, as duas empresas não quiseram comentar o tema.
As tratativas que as empresas mantêm para a combinação de seus negócios têm para a americana dois objetivos principais: acesso ao quadro de 4 mil engenheiros da fabricante brasileira e ampliar a chamada verticalização dos negócios (ou seja, produzir internamente), sobretudo nas áreas de trens de pouso e aviônicos (itens eletrônicos do avião).
— Milhares de engenheiros da Boeing devem se aposentar nos próximos anos. A Embraer, por sua vez, tem cerca de 4 mil engenheiros experientes, que trouxeram para o mercado os E1, Phenom, Legacy, KC-390 e E2 nos últimos 15 anos. Todos são modelos muito bons e foram executados de maneira rápida e eficiente — detalhou Stephen Trimble, consultor da consultoria Flighglobal.
Pessoas ligadas à negociação citam inclusive que um dos principais entraves para o acerto dos pontos entre as duas empresas e o grupo técnico do governo é justamente o fato de esses engenheiros transitarem entre as áreas de defesa e comercial, conforme o volume de projetos. A Boeing quer a integralidade, ou ao menos a maior parte dos engenheiros. A FAB, por sua vez, teme expor temas relacionados à defesa nacinoal aos americanos.
Embora a criação de uma terceira empresa, que retire a área de defesa do negócio, pareça a solução, há também o risco de a Embraer Defesa "morrer em 10 anos" por conta da baixa demanda pelos produtos, segundo especialistas.
— Para uma empresa de defesa sobreviver, é preciso que haja mais que um bom avião. É necessário um posicionamento geopolítico forte, coisa que o Brasil não tem — avaliou Adalberto Febeliano, especialista em Economia de Transporte Aéreo.
Sobre a verticalização dos negócios, o presidente executivo da Boeing, Dennis Muilenburg, declarou várias vezes que a empresa pretende ampliar a produção própria de itens, de forma a depender menos de fornecedores. Analistas explicam que essa é uma forma que a empresa tem de aumentar a sua margem de ganho.
Tudo isso sem contar a óbvia complementariedade de portfolios. A Boeing não fabrica aviões de porte médio, de até 150 lugares, que são o forte da Embraer. Portanto, a compra da brasileira e seus jatos E-2, coloca a americana no páreo para disputar o mercado do CSeries, jato da Bombardier que a Airbus comprou o controle em outubro do ano passado.
Embraer sobe 6,7% com expectativa sobre Boeing¹
A Boeing e a Embraer podem estar mais próximas de um acordo após meses de negociações para uma aquisição de negócios da brasileira pela gigante americana. Em evento do setor de aviação realizado ontem, o ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna, disse que as empresas continuam conversando e “estão perto” de um acordo, informou o ministro à Bloomberg.
“Eu diria que, em suma, isso terminará em casamento”, disse Silva e Luna, que assumiu a pasta da Defesa há seis semanas. As ações da Embraer subiram 6,72% ontem na B3 – nova denominação da Bolsa Paulista –, fechando a R$ 22,40.
O governo brasileiro precisa dar o aval para que a negociação saia, uma vez que a Embraer tem um braço de aeronaves militares que são consideradas estratégica para a defesa nacional.
Os comentários de Silva e Luna marcam uma mudança de tom no Ministério da Defesa, que tem sido cauteloso em ceder o controle da Embraer.
No entanto, a decisão sobre uma eventual união transcenderia a Defesa. No dia 4 de abril, o presidente da Embraer, Paulo César de Souza e Silva, disse que as negociações entre as companhias estavam evoluindo “muito bem”. “É uma operação complexa, todas as partes precisam estar confortáveis”, disse ele, na ocasião.
No fim de março, o presidente executivo da Boeing, Dennis Muilenburg, já havia declarado que a fabricante de aeronaves norte-americana vê um “excelente encaixe estratégico” em uma possível aquisição da Embraer.
Segundo o jornal O Globo,a Boeing e a Embraer entregaram ontem uma nova proposta de modelo de negócio ao grupo de trabalho montado pelo governo federal para avaliar a venda da fabricante brasileira à gigante americana. O jornal cita fontes envolvidas na negociação que apontam evoluções relativas às preocupações das Forças Armadas.
¹com Estado de São Paulo