Peggy Hollinger | Financial Times
A Airbus prometeu empregar "toda a sua força" para fazer da aeronave C Series da Bombardier um sucesso, depois que as duas companhias firmaram um acordo para transferir o controle majoritário do problemático programa de US$ 6 bilhões para a fabricante europeia de aviões.
A Airbus e a Bombardier anunciaram na sexta-feira que todos os obstáculos reguladores foram contornados semanas antes do esperado. "O empenho de toda a organização Airbus estará por trás do C Series", disse Harald Wilhelm, diretor financeiro da Airbus.
A Airbus vai adquirir 50,01% do programa C Series em 1º de julho pelo preço simbólico de 1 centavo canadense, numa iniciativa que já vem sacudindo a indústria aeronáutica. Meses após a Airbus e a Bombardier anunciarem seu acordo, a Boeing revelou que estava em discussões com a Embraer.
Os dois lados estão perto de um acordo em que a americana assumirá uma participação de cerca de 80% nas operações de jatos comerciais da companhia brasileira.
As operações de defesa e jatos executivos da Embraer formarão um grupo separado. O formato do acordo está perto de ser definido, mas uma fonte a par do assunto disse que ele só deverá ser fechado no ano que vem. Com Airbus e Boeing ampliando seus alcances para o segmento de jatos regionais de menor porte, o número de fabricantes ocidentais de aviões comerciais cairá de quatro para dois.
Enquanto isso, a Airbus prometeu que de 1º de julho em diante vai se concentrar em aumentar a produção do C Series, uma família de jatos regionais de 100 a 150 assentos, e melhorar os custos. A Airbus deverá pressionar fornecedores para que reduzam significativamente preços em troca de sua permanência no programa.
Mas ela poderá oferecer acesso a outros programas da Airbus para ajudar a dar escala aos fornecedores. A Airbus também poderá começar a comercializar a aeronave, que representa um avanço em termos de materiais e eficiência no consumo de combustíveis.
A procura dos clientes pelo jato tem sido lenta, afetada pela fragilidade financeira da Bombardier, que foi forçada a pedir um resgate financeiro público das autoridades federais e provinciais canadenses, depois que os custos do programa fugiram de controle.
Os clientes americanos foram dissuadidos pela taxa de importação de 300% recomendada pelo Departamento do Comércio, depois que a Boeing reclamou que o C Series havia sido beneficiado por subsídios ilegais.
No entanto, a International Trade Commission dos EUA decidiu contra o imposto em janeiro. A finalização do acordo vai depender da possibilidade do C Series ter acesso à rede mundial de reparos e manutenção da Airbus, e aproveitar sua organização de vendas e marketing.
Como parte do negócio, a Airbus ampliará sua linha de produção em Mobile, Alabama, para produzir até quatro jatos C Series por mês a partir de 2020. Todavia, a principal linha de produção e a sede do C Series continuarão em Méribel, Quebec, que emprega cerca de 2.200 pessoas e subempreiteiros. A Bombardier também vai bancar até US$ 925 milhões de qualquer deficiência de financiamento incorrida pelo programa.
No ano passado, a Bombardier entregou 17 aeronaves C Series e o plano é mais que dobrar as entregas este ano. O programa tem encomendas de 403 aeronaves, enquanto cerca de 30 já entraram em serviço na Air Baltic, Lufthansa e Swiss Global Air Lines. Juntamente com a participação majoritária da Airbus, a Bombardier controlará 31% da parceria do C Series e a Investissement Québec, um órgão estatal, ficará com 19%.