João Pedro Pitombo
De Salvador
O governador da Bahia e futuro ministro da Defesa, Jaques Wagner (PT), defendeu, durante discurso, que a revisão histórica da ditadura militar no país deve ser feita em "movimentos suaves" e que "qualquer precipitação não contribui" para o processo.
A declaração foi dada nesta segunda-feira (29), em Salvador, na entrega do relatório parcial da Comissão Estadual da Verdade da Bahia.
No documento, os sete integrantes da comissão defendem a revisão da Lei da Anistia –aprovada em 1979, reafirmada pelo Congresso após a redemocratização e confirmada pelo STF em 2010– e a punição de pessoas envolvidas em crimes contra os direitos humanos.
Há 20 dias, a Comissão Nacional da Verdade concluiu seus trabalhos ao entregar seu relatório final à presidente Dilma Rousseff (PT). A comissão concluiu que crimes como mortes e desaparecimentos ocorridos no período não são cobertos pela Lei da Anistia e que os responsáveis podem ser processados.
No discurso desta segunda, Wagner se evitou se posicionar sobre a revisão da lei, afirmando que esta é uma questão que não está no âmbito do Ministério da Defesa.
O novo ministro, que assume o cargo na próxima quinta-feira (1), disse que o "momento mais tenso" em relação à Comissão da Verdade já passou e que até os comandantes das Forças Armadas "no mínimo" disseram não poder negar que houve violação dos direitos humanos.
Sem dar detalhes, também disse que, no ministério, muita coisa está sendo feita e ainda não veio a público.
Numa metáfora, afirmou que a "água suja" da ditadura pode ser transformada de duas maneiras: jogando a água fora ou ir colocando água limpa aos poucos até que a água suja vá clareando.
"Todo mundo que me conhece sabe que eu sou pela segunda forma", afirmou.
Em seguida, Wagner, também de maneira genérica, disse que a presidente Dilma Rousseff (PT) não tem "nenhum medo e nenhuma dúvida do que deve ser feito", mas que é preciso ter "cuidado e parcimônia" na condução deste processo.
Em tom conciliador, Wagner ainda saiu em defesa das Forças Armadas e alegou não ser positivo responsabilizar a instituição pelas violações aos direitos humanos: "Não dá para generalizar, é preciso falar em pessoas".
E defendeu que os líderes civis da época que apoiaram e se beneficiaram da ditadura também sejam lembrados.
"É sonegador da verdade a gente não endereçar críticas duras a um elite politica, empresarial e jornalística que foi braço consolidador da ditadura e que se escondia atrás de quem tinha fuzil [os militares]", afirmou.
Wagner disse que quer continuar o trabalho do atual ministro Celso Amorim e priorizar as áreas de cibernética, aeroespacial e nuclear.
"Considero um ministério estratégico. Infelizmente, muita gente, até mesmo alguns aliados, não tem a dimensão exata do que dignifica a Defesa", disse.