Virgínia Silveira
O programa espacial brasileiro vive uma fase de mudanças estruturais desafiadoras. O primeiro passo foi dado com a criação de uma indústria integradora de satélites, a Visiona Tecnologia Espacial, que tem entre seus objetivos colocar em prática a estratégia do governo federal de elevar a participação industrial no programa espacial e o envolvimento de novos parceiros oriundos das universidades e de empresas internacionais.
Para comandar essa nova empresa, fruto de uma sociedade entre a Embraer, detentora de 51% do capital social da companhia, e a Telebras, que controla os 49% restantes, foi escolhido o engenheiro Nelson Krahenbuhl Salgado. Funcionário da Embraer desde 1987, Salgado traz na bagagem uma vasta experiência na gestão de projetos complexos. Participou, por exemplo, do programa de desenvolvimento da família de jatos Embraer 170/190, que colocou a companhia entre as três maiores fabricantes de aviões do mundo, com mais de mil aeronaves vendidas.
"Temos uma boa base já estabelecida nos centros de pesquisa e também na indústria. Os projetos futuros serão definidos em conjunto com a Agência Espacial Brasileira (AEB)", disse Salgado. A ideia, segundo o executivo, é que seja montado um plano de desenvolvimento tecnológico, no qual serão identificadas as principais lacunas existentes no programa espacial e as tecnologias de interesse para o país.
Salgado disse que análises de mercado feitas pelo governo, considerando a dimensão do território brasileiro e a capacidade de monitoramento via satélite, indicam a necessidade de quatro a cinco novos satélites geoestacionários até 2025, além de 14 satélites de órbita baixa para observação da Terra.
"O foco é atender às necessidades do governo brasileiro. Futuramente, a empresa planeja investir no mercado comercial de satélites", afirmou. Na lista dos futuros projetos da Visiona, Salgado citou a construção de outro satélite geoestacionário para a área de meteorologia e um satélite de órbita baixa com radar de abertura sintética.
O executivo explicou que, no projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro, a Visiona ficará responsável pelo processo de absorção de tecnologias das empresas estrangeiras que forem contratadas para fornecer partes do satélite. "A transferência de tecnologia poderá acontecer, principalmente, na parte de integração e testes de um satélite de grande porte; o Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] tem importantes laboratórios que já fazem isso para satélites de menor porte", disse.
A previsão é que o satélite geoestacionário brasileiro seja lançado em 2014. O investimento total no projeto é da ordem de R$ 720 milhões. Entre as missões do satélite está a de comunicações estratégicas de governo e das Forças Armadas em banda X (faixa de frequência de transmissão dos dados). O projeto contará também com a banda K, para banda larga.
As especificações desse primeiro satélite serão definidas pela Telebras e pelo Ministério da Defesa. O Inpe não terá participação direta no projeto, situação que gerou um certo desconforto entre a comunidade científica do setor espacial.
Para o presidente da Associação Brasileira Aeroespacial, Paulo Moraes, o primeiro satélite, que será comprado fora do país e precisa estar pronto em um prazo curto, a não participação direta do Inpe é compreensível, pois se trata de um negócio. "Os próximos satélites, porém, deverão ser feitos em parceria com o Inpe, porque precisamos absorver tecnologias que ainda não dominamos."
O presidente da Visiona disse que a participação do Inpe nos projetos futuros dependerá do risco de cada programa e do nível de tecnologia a ser desenvolvido, mas que o objetivo da empresa é manter uma convivência harmoniosa com as instituições de pesquisa.
O executivo afirmou que a Visiona também vai liderar o centro de desenvolvimento de tecnologias espaciais no Parque Tecnológico, onde ficará sediada. O centro, diz, deverá atrair empresas do setor para desenvolver em conjunto os projetos do programa espacial.