FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA
Nada de "caveirão" ou tolerância zero para qualquer tipo de crime. O Uruguai optou por combater o aumento da violência urbana com uma série de medidas preventivas e inéditas no país, muito além da legalização do plantio e do comércio da maconha.
Os crimes violentos no Uruguai se transformaram num problema sério. Entre 2005 e 2012, os homicídios aumentaram 40%, e as "rapiñas", termo uruguaio para roubos com ameaça e violência, cresceram 85%. Nos últimos anos, também aumentaram as taxas de crime contra o patrimônio, lesões e delitos sexuais, ainda que bem abaixo das contabilizadas no Brasil.
Com a ajuda de universidades e centros de estudo, entre eles um do Brasil, os uruguaios têm combatido o crime com pulseiras eletrônicas para monitorar agressores, policiamento comunitário, reestruturação da polícia, qualificação policial, além de tecnologia para identificar contraventores e mapear zonas de criminalidade.
O departamento de polícia foi descentralizado e dividido para patrulhar, investigar e cuidar da logística e, assim, tentar dar uma resposta mais ágil às ocorrências.
No campo das políticas públicas, têm sido priorizadas ações para acompanhar e interferir na trajetória de jovens infratores com atividades educacionais, recreativas e esportivas, além de envolver as comunidades nas tomadas de decisão e recuperar áreas degradadas, em especial em Montevidéu.
"O Uruguai tem desenvolvido, pelo menos nos últimos dois períodos de governo, um conjunto de programas sobre a segurança do cidadão. O tempo dirá como e quais são seus efeitos sobre a convivência", afirma Ricardo Fraiman, do Ministério do Interior, coordenador do plano de gestão integrada de segurança.
Apesar de rejeitar o termo "laboratório", Fraiman confirma os testes, afirmando que projetos sem eficácia comprovada são rejeitados.
A opção do presidente José Mujica de combater o crime com menos repressão é ideológica. "O campo das políticas públicas é, agora, predominantemente de esquerda. Por isso, entende-se que os crimes são determinados pela violência estrutural (causas socioeconômicas)", diz Fraiman.
AJUDA BRASILEIRA
Para os programas educacionais, o Uruguai procurou ajuda estrangeira. Foram convidadas mais de 180 instituições. O Crisp, centro da Universidade Federal de Minas Gerais que estuda segurança pública e combate à criminalidade, foi um dos selecionados. O Brasil participa da qualificação e formação de profissionais uruguaios, para implementarem policiamento comunitário e mecanismos de gestão da polícia.
Embora parte das medidas já tenha sido usada em outros países, o Uruguai optou por um pacote completo, na visão do sociólogo e coordenador do Crisp, Cláudio Beato.
"A legalização [da maconha], portanto, não é a 'bala de prata' que vai controlar o crime, mas é parte de um conjunto mais amplo de medidas. Precisamos abandonar a ideia de que apenas um tiro, seja através de UPP, prisões ou atividades assistenciais, vai resolver o problema", afirma Beato.