DefesaNet Excelente série de 3 artigos publicados na edição de O Globo, 15JUL12: |
Paulo Thiago de Mello
Estrela do setor exportador brasileiro nos anos 70 e 80, quando alcançou o auge em vendas, faturamento e prestígio, a indústria bélica do país mergulhou, a partir do fim dos anos 80, numa crise que culminou com a total reestruturação do segmento de defesa, que passou por concordatas, falências e privatizações. Empresas como Imbel, Engesa, Avibrás e Embraer tiveram que enfrentar uma guerra que incluiu calotes de clientes, crises econômicas, corrupção e concorrência com gigantes americanos. Nem todas sobreviveram.
No início dos anos 80, a carteira de exportações do setor de defesa brasileiro girava em torno de US$ 1,5 bilhão. Os tanques e veículos blindados da Engesa, como o Cascavel, o Tamoyo e o Urutu; o lança-foguetes Astro II, da Avibrás; os aviões Bandeirante, Xingu e Brasília, da Embraer; e os fuzis, pistolas e explosivos da Imbel estavam presentes nas Forças Armadas de mais de 30 países de América do Sul, Oriente Médio e Ásia. O prestígio era tanto, que executivos dessas empresas tinham praticamente status de ministros e influenciavam a diplomacia do Itamaraty, aproximando o Brasil do Iraque de Saddam Hussein e da Argélia de Muamar Kadafi.
A partir de meados dos anos 80, o calote de Saddam, que não pagou os tanques que comprara, e a perda de um contrato bilionário com a Arábia Saudita abalaram a saúde financeira da Engesa e da Avibrás. Ambas começaram a demitir, e a Engesa, que chegou a empregar 12 mil pessoas, pediu concordata em março de 1990, com US$ 150 milhões em dívidas. A Avibrás fizera pedido semelhante em janeiro do mesmo ano, com rombo avaliado em US$ 200 milhões.
A perda do contrato saudita foi particularmente cruel para a Engesa, que investiu quase todo seu capital para produzir um tanque pesado com tecnologia nacional, confiando nas negociações com o país do Oriente Médio. Para analistas da época, a Engesa subestimou o poder de convencimento e a influência dos americanos, e o contrato acabou fechado com a rival General Dynamics. O processo falimentar da Engesa que se seguiu foi ainda marcado por acusações de corrupção e processos do Ministério Público contra ex-diretores da empresa.
Fundada em 1969 e privatizada em 1994, a Embraer ocupa um importante lugar no setor aeronáutico, competindo com a canadense Bombardier pela liderança dos construtores de aviões regionais, militares e executivos, entre os quais o Super Tucano, de vigilância. Suas estratégias de crescimento incluem parcerias com outros países, como a Itália e a China. Mas a empresa também foi afetada por crises financeiras internas e externas. Em 2006, foi reestruturada.