O Globo
com agências internacionais
SÃO FRANCISCO, EUA — A ofensiva contra imigrantes do presidente americano Donald Trump colocou em alerta as empresas de alta tecnologia dos EUA, que têm entre seus principais quadros profissionais de outros países. Neste fim de semana, executivos de gigantes como Google, Facebook, Apple e Microsoft se manifestaram contra a mais recente medida do republicano, que vetou por 90 dias o acesso de nativos de sete países com maioria muçulmana. Além do posicionamento ideológico, há preocupação econômica, já que o Vale do Silício depende fortemente de profissionais estrangeiros. As empresas dizem que a medida poderia prejudicar a capacidade de aproveitar os talentos que necessitam para permanecer competitivas.
Manifestantes se reúnem no lado de fora do Terminal 4 do aeroporto internacional J.F.Kennedy para protestar contra a medida do presidente Donald Trump que impede a entrada ao país de cidadãos de sete países de maioria muçulmana provocou protestos em todo o país Centenas protestam nos aeroportos dos EUA contra medida de Trump
"Vejam o que está acontecendo em toda a Europa e, na verdade, no mundo — uma bagunça horrível", escreveu Trump no Twitter Trump diz que Europa tem 'bagunça horrível'
Segundo o Silicon Valley Index de 2016, uma espécie de censo anual elaborado pelo Institute for Regional Studies, 74% dos funcionários da região com idade entre 25 e 44 anos empregados nas áreas de computação e matemática são de fora dos EUA. Outro levantamento, do National Foundation for American Policy, uma organização pró-imigrantes, mostra que 51% das empresas avaliadas em pelo menos US$ 1 bilhão tinham nativos de outros países entre seus fundadores.
Na Google, o número de afetados especificamente pela ordem de Trump chega a cem funcionários, segundo o diretor-executivo da companhia, Sundar Pichai. Por isso, a empresa fez um alerta urgente aos seus empregados imigrantes: voltem para os EUA. Isso porque a decisão da Casa Branca chegou a afetar até cidadãos que têm o Green Card.
"É doloroso ver o custo pessoal desta ordem executiva em nossos colegas", escreveu Pichai no memorando.
A companhia deixou claro que continuará pressionando contra as mudanças: “Estamos preocupados com o impacto desta ordem e quaisquer propostas que possam impor restrições aos Googlers (como são chamados os funcionários da empresa) e suas famílias, ou que crie barreiras para trazer ótimos talentos para os EUA. Vamos continuar a tornar conhecida nossa visão sobre o assunto para líderes em Washington e em qualquer lugar”, disse um porta-voz da Google, em comunicado, segundo a Bloomberg News.
A nota de Pichai ecoou declarações semelhantes de colegas de tecnologia expressando preocupações sobre o dano que tais políticas poderiam ter em seus negócios. Os executivos-chefe da Netflix, da Microsoft e de outras companhias também emitiram declarações ou memorandos internos que se opunham à diretriz do presidente.
VISTOS DE TRABALHO NA MIRA DE TRUMP
A preocupação do Vale do Silício é justificada não apenas pela restrição de Trump aos muçulmanos, mas também pela ameaça de que o endurecimento para o acesso a imigrantes seja ainda mais abrangente. De acordo com um rascunho vazado do que pode se tornar uma nova ordem executiva de Trump, ao qual o “New York Times” teve acesso, restrições à importação de trabalhadores também estão na mira de Washington.
O documento cita especificamente o visto H-1B, voltado a trabalhadores mais qualificados. A categoria de permissão é amplamente utilizada por empresas de tecnologia para atrair talentos de fora dos EUA. A proposta à qual o “NYT” teve acesso afirma que é preciso tomar medidas para garantir que a distribuição de H-1B seja “mais eficiente” e que “os beneficiários do programa sejam os melhores e os mais brilhantes”.
O rascunho cita ainda um período de 90 dias para que todas as permissões para trabalhar nos EUA sejam revisadas, podendo ser cancelados caso contrariem as leis de imigração ou os interesses nacionais. O teor do documento está alinhado com as promessas de campanha. Na introdução, o texto destaca que “um fator primário para a imigração ilegal nos EUA é a disponibilidade de empregos e benefícios. Eliminar esse ímã de empregos reduzirá o fluxo de entradas ilegais e vistos por mais tempo que o necessário”.
Algumas empresas começaram a alertar os investidores dos possíveis impactos com tais mudanças na imigração. Em uma mensagem enviada a reguladores federais relacionados com os resultados financeiros da companhia, a Microsoft afirmou que as mudanças nas políticas de imigração nos Estados Unidos, que restringem o fluxo de talentos profissionais e técnicos no país, podem inibir a capacidade da empresa de equipar adequadamente seu segmento de pesquisa e desenvolvimento.
O presidente da Microsoft, Brad Smith, disse, por meio de um comunicado, que a empresa acredita em um sistema de imigração altamente qualificado e equilibrado. Smith disse ser a favor de oportunidades em uma escala mais ampla para imigrantes talentosos que respeitam a lei, como os ‘dreamers’ (sonhadores), uma referência aos jovens que vieram ilegalmente para os Estados Unidos enquanto crianças, mas que puderam permanecer no país durante o governo de Barack Obama.
AIRBNB OFERECE HOSPEDAGEM PARA IMIGRANTES
Mark Zuckerberg, criador do Facebook, também demostrou sua preocupação diante das ordens executivas do presidente americano sobre a imigração, e lembrou que o país "é uma nação de imigrantes".
"Meus bisavôs vieram da Alemanha, Áustria e Polônia. Os pais de Priscilla (Chan, sua esposa) eram refugiados provenientes da China e Vietnã. Os Estados Unidos é um país de imigrantes, e devemos ter orgulho disso", escreveu Zuckerberg, em seu perfil oficial na rede social. "Como muitos de vocês, estou preocupado pelo impacto das recentes ordens executivas assinadas pelo presidente Trump", afirmou.
Em sua mensagem, Zuckerberg também fez referência aos “dreamers”, se dizendo esperançoso com as palavras do presidente, para os quais prometeu trabalhar em uma solução para sua situação. E ressaltou que o país deve continuar se beneficiando de estrangeiros "com grande talento". "Há alguns anos, dei uma aula em uma escola secundária e alguns de meus melhores alunos eram imigrantes ilegais. Eles são nosso futuro também", concluiu.
Outra gigante, a Apple entrou também entrou na discussão. O diretor-executivo da empresa, Tim Cook, destacou, em um documento interno obtido pela France Presse a importância de imigrantes para a companhia. Steve Jobs, co-fundador da fabricante, era filho de imigrante sírio. “A Apple não existiria sem a imigração”, ressaltou Cook.
Na mesma linha de Cook e de Zuckerberg, o diretor-executivo da Netflix, Reed Hastings, quebrou seu silêncio para criticar as medidas de Trump: “As medidas afetam os trablahadores da Netflix em todo o mundo. È hora de nos unirmos para proteger os valores americados de liberdade e de oportunidades”, escreveu Hastings em seu perfil do Facebook.
A Airbnb, plataforma de aluguel por temporada, foi além e vai oferecer instalações para pessoas imedidas de entrar nos EUA pela ordem executiva. O diretor-executivo da empresa, Brian Chesky, fez a promessa pelo Twitter: “Airbnb está oferecendo hospedagem grátis a qualquer um impedido de entrar nos EUA. Fiquem ligados para mais, entre em contato comigo em caso de necessidade urgente”, escreveu o executivo na noite de sábado.
Assim como seus colegas, Chesky também criticou a medida do governo, minutos antes de anunciar a oferta de apartamentos: “Não permitir a entrada de refugiados nos EUA não é certo, precisamos nos posicionar a favor dos afetados”.
UBER E TESLA TAMBÉM CRITICAM MEDIDA
A Informing Research Association, organização que representa as principais instituições de pesquisa acadêmica e da indústria de informática dos Estados Unidos, divulgou um comunicado no qual expressa sua preocupação com a ordem executiva de Trump, que impõe uma suspensão de 90 dias aos vistos a cidadãos de sete países.
"Os Estados Unidos têm se beneficiado muito das contribuições para o nosso campo e para o nosso país de indivíduos de todas as nações, incluindo aqueles incluídas na ordem de hoje (sexta-feira). Esta ordem cria incerteza e potencial dificuldade entre os atuais estudantes e pesquisadores que já estão aqui fazendo importantes contribuições, e põe em perigo o nosso papel de liderança em um campo-chave. A ordem de hoje também pode desencorajar os pesquisadores estrangeiros de trazer seus talentos para os EUA no futuro, o que teria grande impacto à nossa competitividade nacional", diz a nota.
A associação pede que o presidente suspenda a medida no prazo de 90 dias ou até mesmo antes, e não restrinja os estudos e contribuições desses estudantes e pesquisadores:
"Os Estados Unidos gozam do seu papel de liderança na ciência e na tecnologia, em parte porque os melhores e mais brilhantes do mundo trazem seus talentos para fazer parte da da área acadêmica e de inovação dos EUA".
O executivo-geral da Uber, Travis Kalanick, disse que muitos dos motoristas do serviço de transporte de passageiros são imigrantes dos países afetados que freqüentemente visitam suas famílias no exterior e podem ter problemas para voltar a entrar nos EUA.
A companhia está considerando compensar esses motoristas "nos próximos três meses para aliviar algum estresse financeiro e complicações para dar apoio a suas famílias e colocar comida na mesa". Kalanick disse que iria levantar a questão o conselho se reunir para o primeiro encontro do ano, na próxima sexta-feira, em Washington.
Elon Musk, CEO da Tesla Motors e da SpaceX, que se encontrou com Trump semana passada, na Casa Branca, disse no Twitter que uma "proibição geral de entrada de cidadãos de certos países, principalmente muçulmanos, não é a melhor maneira de enfrentar os desafios do país".
"Muitas pessoas afetadas negativamente por esta política são fortes partidários dos EUA", escreveu Musk.
DEPARTAMENTOS JURÍDICOS A POSTOS
A indústria de tecnologia no passado destacou o valor dos imigrantes para a cultura americana e a economia: Steve Jobs era de ascendência síria, enquanto executivos de alto perfil no Twitter, Yahoo, Google e eBay são de ascendência iraniana. As companhias do Vale do Silício se aproveitaram da globalização e empregam um grande número de engenheiros estrangeiros. As posturas radicais de Donald Trump sobre a imigração são uma das principais causas de sua impopularidade na Baía de São Francisco, onde vivem cerca de 250 mil muçulmanos, segundo o Centro de Relações Americanas-Islâmicas.
O novo presidente americano estendeu a mão ao setor em dezembro, quando recebeu em seu quartel general, em Nova York, uma dezena de diretores de empresas do Vale do Silício. No entanto, nenhuma das partes deu declarações após o encontro. Emtretanto, a curto prazo, as companhias de tecnologia tentam se preparar frente a qualquer eventualidade e a maioria já colocou a postos seus departamentos jurídicos e de assistência para ajudar seus trabalhadores no caso de enfrentarem algum problema.
"Estamos avaliando o impacto das medidas em nossos trabalhadores para determinar qual é a melhor maneira de proteger nosso pessoal e suas famílias diante de qualquer efeito adverso", indicou o Facebook à agência de notícias France Presse.
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Nota DefesaNet
As ações midiáticas das empresas de AltaTecnologia do Vale do Silício estão sendo preparadas há mais de 6 meses.
Uma carta, pouco conhecida, com mais de 150 assinaturas abria fogo contra a candidatura Trump, isto em Julho de 2016.
Empresas como Google, Facebook e Amazom (controladora do jornal Washington Post) operaram abertamente contra a candidatura Republicana.
Veja os documento:
Um dos memorandos assinado pelo Presdiente Donald Trump refere-se a criação de empregos: