Por Chris Bryant | Financial Times/
Colaborou Jamil Anderlini, de Pequim
Eram largos os sorrisos em novembro de 2006 quando, numa cerimônia grandiosa realizada no Grande Salão do Povo, em Pequim, representantes do novo projeto da usina siderúrgica brasileira da ThyssenKrupp e o Citic Group chinês assinaram um contrato de € 270 milhões para a construção de uma unidade de carvão siderúrgico em uma localidade próxima ao Rio de Janeiro.
Para a ThyssenKrupp, a construção de uma nova usina de aço próxima das ricas jazidas brasileiras de minério de ferro era um investimento determinante, de tudo ou nada, pelo qual esperava manter a competitividade num momento de consolidação da siderurgia, que lançava poderosos novos concorrentes como a ArcelorMittal e a Tata Steel.
Para a Citic, o maior conglomerado industrial e financeiro chinês, a oportunidade de ter uma participação num projeto colossal como aquele era uma enorme cartada. Tratava-se, de longe, do maior contrato envolvendo uma unidade de carvão siderúrgico de todos os tempos conquistado por uma empresa chinesa. Para garantir o contrato, a Citic ofereceu um preço mais vantajoso que o da Uhde, construtora de usinas da própria Thyssen, e a diferença estava na casa de meados de dois dígitos de milhões de euros.
Cinco anos mais tarde, os sorrisos de Pequim representam uma distante reminiscência. A ThyssenKrupp está pleiteando indenização da Citic por atraso e supostamente, falhas na obra de construção da usina brasileira. Segundo o conglomerado alemão, esses problemas o teriam onerado com € 500 milhões em custos adicionais.
Passadas apenas algumas semanas depois do 200º aniversário da Krupp, a empresa alemã foi obrigada, em dezembro, a dar baixa contábil de € 2,1 bilhões em sua divisão de aço nas Americas, em grande medida devido aos problemas decorrentes da usina brasileira [Cia. Siderúrgica do Atlântico- CSA ]. O grupo preferiu não fazer novos comentários.
Os altos dirigentes da ThyssenKrupp ignoraram advertências, na época, de alguns membros do conselho supervisor sobre a delegação de uma obra crítica de construção a uma instituição comparativamente pouco conhecida, disse pessoa familiarizada com as discussões do conselho. "Se examinarem os prejuízos causados desde então pelo que [a Citic] construiu, se verá que ele é muitas vezes superior ao desconto oferecido pela Citic", afirmou.
Vários diretores da ThyssenKrupp deixaram a empresa depois de não ter conseguido assumir o controle dos problemas ocorridos no Brasil. Esse processo culminou, no início de dezembro, na decisão de Ekkehard Schulz, o ex-principal executivo de longo mandato que comandou a expansão brasileira, de se afastar do conselho supervisor da empresa no fim de 2011.
O conselho supervisor do grupo informou que, à luz da perda de € 2,1 bilhões, tinha solicitado aos advogados que analisassem se a empresa deveria mover pedidos de indenização contra os membros do conselho de direção, entre os quais Schulz.
A usina de aço da ThyssenKrupp no Brasil, o maior investimento industrial privado dos últimos dez anos no país, foi acossada desde o início por atrasos e estouros de orçamento que fizeram com que o investimento total subisse de € 3 bilhões para € 5,2 bilhões. Embora tenha sido oficialmente inaugurada pelo ex-presidente do país Luiz Inácio Lula da Silva, em junho de 2010, ainda não está operando de forma eficiente ou à plena capacidade devido, em grande medida, aos problemas verificados na coqueria (de carvão), que devia ter sido concluída em 2009 mas será inaugurada apenas em 2012.
O carvão siderúrgico é parte crucial do processo siderúrgico, e os problemas da ThyssenKrupp foram magnificados porque a coqueria é parte essencial do suprimento de energia da usina. Segundo pessoas próximas à ThyssenKrupp, os atrasos e os problemas de qualidade vieram à tona durante a construção e, em dezembro de 2009, a Uhde assumiu a responsabilidade por acabar o projeto e a Citic reduziu sua remuneração em cerca de € 100 milhões. No entanto, quando a ThyssenKrupp começou a operar a unidade, em setembro de 2010, identificou novos problemas graves.
A divisão sul-americana da ThyssenKrupp assumiu desde então mais de € 500 milhões em custos adicionais para a resolução dos problemas observados na coqueria, segundo estimativa interna. Mas considera-se que Heinrich Hiesinger, que tomou posse como principal executivo da empresa em janeiro de 2011, tenha dito aos diretores que o total dos custos decorrentes dos problemas com a unidade pode somar € 1,5 bilhão.
A ThyssenKrupp prevê que sua divisão Steel Americas informará mais um prejuízo para o ano como um todo no ano fiscal 2011-12.
O caso brasileiro é um fator de dispersão indesejado para Hiesinger, que, no início de 2011, lançou reformulação radical na ThyssenKrupp destinada a alienar divisões para baixar o endividamento e financiar o crescimento futuro.
A divisão sul-americana e a Citic realizaram conversações sobre indenização em que a Citic deu indícios de que está, em princípio, preparada para arcar com parte dos custos adicionais, segundo pessoa familiarizada com os assuntos da ThyssenKrupp. A Citic não respondeu às solicitações por seus comentários.
DefesaNet O CASO CSA O empreendimento do complexo siderúrgico alemão ThyssenKrupp na Companhia Siderúrgica do Atlântico tem várias implicações na área de defesa. Um dos argumentos da Alemanha na tentativa de vender submarinos da empresa associada TKMS (ThyssenKrupp Marine Systems) e depois tentar bloquear o acordo do governo brasileiro com a empresa francesa DCNS, eram os investimentos na CSA. Um complexo siderúrgico para a produção de 5 milhões de toneladas de placas de aço com um impacto industrial e estratégico relevantes. Outro ponto é a sua localização. Muito próxima da Base Aérea de Santa Cruz (BASC). Em um prazo maior certamente deverá levar à inviabilização operacional das unidades ali localizadas, a continuarem operando daquela base. Durante a construção da CSA foram ”importados” centenas de trabalhadores chineses. Fato que foi aceito pelo governo Luiz Inácio de forma passiva. Não há informe público, mas é provável, que devido a sua localização junto com os trabalhadores tenham vindo agentes chineses para avaliar o perfil e as operações militares brasileiras na região. Na região também está o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) , Restinga da Marambaia. O Editor |