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TELEBRAS – O exemplo de Gen Alencastro

 ETHEVALDO SIQUEIRA


O Brasil perdeu na última terça-feira um de seus mais admirados administradores públicos: o general José Antonio de Alencastro e Silva, criador do Sistema TELEBRÁS e presidente da empresa holding durante 11 anos, em seu período áureo, ou seja, de 1974 a 1985. Dos 93 anos que viveu, mais de 50 foram dedicados às telecomunicações.

Gaúcho de Santana do Livramento, onde nasceu a 14 de abril de 1918, Alencastro formou-se no curso de engenharia de telecomunicações do IME – Instituto Militar de Engenharia, no Rio de Janeiro. Competência profissional e probidade eram suas qualidades principais, reconhecidas, ao longo de sua vida, até por adversários.

Acompanhei sua vida nos últimos 40 anos e não teria o menor constrangimento em afirmar que, em especial por sua contribuição na área de comunicações, o trabalho de Alencastro se equipara ao do marechal Rondon.

Na verdade, raros brasileiros deram contribuição tão significativa quanto ele ao processo de modernização e de institucionalização das telecomunicações do País. Tanto assim que passou a ser chamado de "General das Telecomunicações".

Aposentado em 1995, impôs a si mesmo silêncio total em relação aos temas mais polêmicos da política setorial, recusando- se até a conceder entrevistas sobre o setor que dirigiu. Só nos últimos anos abriu exceção aos amigos mais próximos – privilégio de que usufruí – para confessar seu profundo desencanto com o desempenho do modelo estatal que ele mesmo havia ajudado a criar.

Em caráter totalmente pessoal, desabafou com tristeza, em seus últimos dias: "Tudo que vi ao longo de mais de 50 anos me comprova o doloroso fracasso do Estado como gestor ou operador de telecomunicações. E pior: a máquina pública vai ficando a cada dia mais aparelhada, assaltada e dominada por corruptos e incompetentes. Diante desse quadro, só nos resta privatizar tudo".

Vida simples. Visitei Alencastro algumas vezes em Brasília, na modesta residência em que viveu nos últimos anos. Pude, então, testemunhar a simplicidade em que vivia em seu retiro doméstico, sobrevivendo com a aposentadoria de general de brigada reformado, depois de ter administrado bilhões de reais de investimentos públicos por algumas décadas.

Entre os anos 1950 e 1980, esse brasileiro admirável teve atuação destacada no setor de telecomunicações, primeiro como representante das Forças Armadas junto ao governo federal nessa especialidade. Em seguida, participou da comissão que elaborou, em 1954, o ante projeto do Código Brasileiro de Telecomunicações, que se transformou na Lei 4.117, que acabou com a estagnação do setor.

A vida de Alencastro foi inteiramente dedicada às telecomunicações, com destaque para a implantação e a consolidação do modelo Telebrás. Participou em 1972 do processo de criação da holding das telecomunicações, da qual foi seu segundo presidente, sucedendo ao comandante Euclides Quando de Oliveira. Em sua gestão, foram criadas as Teles ou empresas-polo, uma para cada unidade da Federação.

No início de sua longa carreira, Alencastro foi um dos primeiros especialistas em tecnologia no Brasil, tendo atuado como engenheiro da CHESF – Centrais Hidroelétricas do São Francisco no período de 1954 a 1956, envolvido no projeto e na fabricação de equipamentos de comunicações que, acoplados aos cabos de alta tensão, foram usados no tráfego entre subestações. Conhecido por seu espírito inovador, deu contribuição decisiva para diversos projetos de modernização do setor, na antiga CETEL- Companhia Estadual de Telefones, do Rio de Janeiro, na TELEMIG, em Minas Gerais, e na própria TELEBRÁS.

Os anos na TELEBRÁS. Como presidente da holding das telecomunicações, Alencastro deu início à implantação do Sistema de Planejamento e Controle, ferramenta básica para o sucesso do setor estatal no País.

Para ele, a interiorização das telecomunicações era a grande prioridade social da Telebrás e, em sua gestão, levou a telefonia a todos os municípios brasileiros. A rede brasileira saltou de 2,6 milhões para 10,8 milhões de linhas telefônicas instaladas entre 1972 e 1992.

Apaixonado pelas novas tecnologias, deixou para o País um dos maiores centros especializados dessa área, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) da Telebrás, em Campinas, onde foram desenvolvidas tecnologias de ponta, como fibra óptica, a modulação por código de pulsos (PCM), estação receptora de satélite e a família de centrais Trópico, de comutação telefônica digital.

Visão social. As preocupações sociais de Alencastro talvez tenham nascido em sua infância pobre e cheia de dificuldades. Seu pensamento socialista, no entanto, foi o pretexto para ser vetado nos tempos da ditadura pelo antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), nas duas oportunidades em que foi cogitado para ocupar o Ministério das Comunicações, nos governos Médici e Geisel.

"Desde pequeno, quando tinha sete anos, – contou-me ele – sempre achei a riqueza no mundo mal distribuída. Certos dias, em minha infância, deixava de tomar leite de manhã porque não tinha dinheiro. Minha mãe, viúva de militar, com uma pensão muito baixa, costurava oito túnicas por semana e fazia de dez a doze quilos de doce por dia, para vender."

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