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Satélites de comunicações serão parte do Programa Espacial Brasileiro

José Monserrat Filho – AEB


Está decidido nas mais altas esferas: o Brasil deve lançar em 2014 seu primeiro satélite geoestacionário de comunicações, comprado no exterior, mas – e essa é a grande diferença – construído com ativa participação da indústria brasileira.

O segundo tem seu lançamento previsto para 2019, com inserção ainda maior da nossa indústria.

O Brasil já teve, nos anos 80 e 90, satélites geoestacionários – aqueles que voam a 35.786 km da Terra, no plano da Linha do Equador, e que, por se deslocarem com a mesma velocidade do nosso planeta, ficam como que parados, estacionados, sobre um mesmo ponto da superfície terrestre. O que constitui o cerne dos fantásticos avanços das telecomunicações no mundo inteiro.

A primeira geração de satélites brasileiros geoestacionários começou com o satélite Brasilsat A1, orbitado em 1985. Vários outros vieram depois: Brasilsat A2, em 1986; Brasilsat B1, em 1994; Brasilsat B2, em 1995; e Brasilsat B3, em 1998.

Todos eles adquiridos pela Embratel – até então pertencente ao nosso Ministério das Comunicações – de empresas privadas do Canadá e dos EUA, e lançados a partir de Kourou, na Guiana Francesa, pelo foguete europeu Ariane.

Sem nenhuma ligação com o Programa Espacial Brasileiro.

Em 29 de julho de 1998, dentro do programa de abertura neoliberal da economia brasileira, o Governo privatizou a Embratel – apesar de ser reconhecidamente lucrativa e eficiente -, com todos os seus satélites. Todo esse patrimônio foi transferido à empresa Star One, que lançou só mais um satélite, o Brasilsat B4, em 2000.

Cometemos um erro histórico. Poderíamos ter aberto o mercado das comunicações, mantendo uma grande empresa estatal brasileira. Pagamos um preço alto: desde 1998, há 13 anos, o Brasil não dispõe de seus próprios satélites de comunicações e sente muita falta deles para comunicações estratégicas do governo e das Forças Armadas.

Hoje, a Star One conta com cinco dos satélites referidos, localizados nas excelentes longitudes de 75, 70 e 65 graus oeste, vendendo serviços de comunicações domésticas e internacionais, com alta taxa de uso. É deles e de outros satélites de empresas privadas que se servem hoje nossas instituições oficiais civis e militares.

Tal dependência é inaceitável. Por isso, os dois satélites a serem construídos a partir de agora com máxima presteza virão preencher importantíssimas lacunas, inclusive a de levar internet em banda larga às populações das zonas mais remotas do país.

Mas, o mais relevante de tudo é o fato de que os satélites não serão simplesmente comprados em caixas pretas, como se fazia no passado. Essa segunda geração de satélites geoestacionários brasileiros enriquecerá a política nacional de desenvolvimento tecnológico efetivo. Fator essencial do negócio será a maior integração possível de, pelo menos, uma grande empresa brasileira.

A empresa estrangeira contratada para produzir os satélies terá, necessariamente, que atender à exigência de dar acesso à tecnologia utilizada e de preparar especialistas qualificados, capazes amanhã de contribuírem na criação de outros satélites semelhantes.

É o esforço decisivo de valorizar a prata da casa e de priorizar a capacitação nacional em área estratégica, promovido pelos Governos Lula e Dilma Rousseff e conduzido com afinco pelo Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação. Isso é inédito entre nós no campo das telecomunicações.

Significa também que os satélites geoestacionários brasileiros passam a compor um capítulo especial do Programa Espacial Brasileiro, que agora inclui as telecomunicações por satélite, em trabalho conjunto com a Telebrás, do Ministério das Comunicações, e com o Ministério da Defesa. Há, portanto, grandes novidades a comemorar.

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