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Satélite brasileiro impulsiona indústria aeroespacial do País

André Rossi
e Lucas Hirata

O Brasil depende de empresas estrangeiras para estabelecer canais de comunicação via satélite dentro do próprio território. Dos oito satélites utilizados pelo País para esse fim, nenhum é estatal. Para dar conta dessa demanda, o País aluga os equipamentos ao custo de R$ 66 milhões por ano, equivalente a quase 20% dos investimentos em todo o programa espacial brasileiro de 2011. Para mudar esse quadro, o governo quer impulsionar a indústria aeroespacial doméstica e está investindo na construção de equipamentos próprios.

“Pagamos preços altos quando importamos esses produtos. O setor espacial é dotado de alta intensidade tecnológica, seus produtos têm alto valor agregado”, reconhece o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp. A meta é garantir a autossuficiência no setor, “o que deverá repercutir favoravelmente em toda a cadeia produtiva aeroespacial brasileira”.

O passo inicial será dado em 2014, com o lançamento do primeiro satélite geoestacionário brasileiro, que estabelecerá um canal de comunicação exclusivo para os militares e levará internet rápida e acessível para toda população, através do Plano Nacional de Banda Larga. Orçado em R$ 720 milhões, o projeto é resultado de uma parceria entre o governo federal e a Visiona, empresa de capital misto, joint-venture da Embraer (51%) e Telebrás (49%).

Segundo Artur Coimbra, diretor do Departamento de Banda Larga do Ministério das Comunicações, o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC) será fundamental para conectar áreas mais isoladas do País. “O satélite vai atender principalmente as áreas rurais e periferias, que carecem de infraestrutura”, afirma. Do ponto de vista da defesa nacional, o equipamento será parte de outros sistemas para proteção da Amazônia, do espaço aéreo, marítimo e das fronteiras. “O satélite significará maior autonomia e fortalecimento da soberania”, aponta Himilcon Carvalho, diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da Agência Espacial Brasileira (AEB).

O planejamento do Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae), lançado em 2005, prevê ainda a construção de mais dois geoestacionários, um para meteorologia e outro para comunicação. Ambos também serão desenvolvidos na forma de Parceria Público-Privada com coordenação da AEB e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Os investimentos devem fomentar a criação e pesquisa de novas tecnologias. “A demanda do governo por telecomunicações pode ser o fator motivador para puxar essa cadeia espacial”, acredita Rodrigo Abdalla, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA).

A partir dessa demanda, o governo federal quer consolidar a estratégia de investir em tecnologia para tornar a indústria aeroespacial competitiva no mercado externo. De acordo com a AEB, o Pnae recebeu cerca de R$ 2,3 bilhões em investimentos de 2005 a 2011, sendo R$ 350 milhões só no último ano. “O governo está definindo uma nova política para o setor, que deverá repercutir favoravelmente em toda a cadeia produtiva aeroespacial brasileira”, afirma o ministro Raupp.

Para Leonel Perondi, diretor-geral do INPE (Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais), os investimentos na cadeia aeroespacial ditarão o novo ritmo do setor no País. “Com a demanda por produtos cada vez mais sofisticados, a busca por inovação e tecnologia de ponta agrega valor e capacita a indústria.”

Falta de ritmo

De acordo com estudo recente do IPEA, o maior desafio da indústria aeroespacial é o ritmo irregular do investimento governamental, maior comprador e investidor do segmento no Brasil. “É um setor caro, arriscado e de longo prazo. Não adianta colocar R$ 1 bilhão em um ano e R$ 200 milhões no outro”, disse a autora da pesquisa, Flávia Schmidt.

Nas últimas três décadas, os investimentos governamentais no Programa Espacial Brasileiro atingiram um montante de R$ 6,15 bilhões (em valor corrente até 2011). Ao longo dos anos, no entanto, é possível perceber uma forte variação dos valores liquidados. Durante toda a década de 1990, os investimentos somaram cerca de R$ 1 bilhão, valor três vezes menor do que o orçamento dos últimos seis anos. Para 2012, o programa aprovado está orçado em R$ 443 milhões.

A pesquisadora do IPEA afirma que o capital humano da indústria espacial tem “um excelente potencial para o desenvolvimento de atividades de inovação”. A pesquisa aponta que os profissionais do setor têm em geral 11,6 anos de estudo, R$ 2,5 mil de salário e 38% do pessoal tem formação superior, o que os qualifica bem acima da média nacional. Somado a isso, a concentração de engenheiros, pesquisadores e trabalhadores de natureza científica deve facilitar a criação de novas tecnologias, que também podem ser utilizadas em outros setores de forma horizontal.

O IPEA identificou 177 empresas brasileiras que trabalham com o fornecimento dos componentes – placas e sistemas – para projetos do Programa Espacial Brasileiro e construção de aparelhos. Em grande parte, são empresas de pequeno e médio porte que têm grande envolvimento com comércio exterior: 25% são exportadoras e 49%, importadoras.

País é o 14° em ranking mundial de produção espacial

Apesar do aumento de investimento do governo nos últimos anos, o País está longe de figurar como potência no setor aeroespacial. De acordo com o Índice Futron de Competitividade Espacial 2012, o Brasil ocupa a 14° posição no ranking que mede a participação de cada país na produção mundial, entre os anos de 2002 e 2011. Dos BRICs (Índia, China e Rússia), é o último. Está atrás também de países como Irã e Argentina.

Em setembro de 2008, a China tornou-se o terceiro país – depois da Rússia e dos Estados Unidos – a ter missões tripuladas ao espaço com atividade extraveicular. Além disso, o país tem planos ambiciosos para construir sua própria estação espacial e lançar uma missão à Lua. Já a Índia, líder mundial em sensoriamento remoto, confirmou em agosto uma missão que lançará um satélite na órbita de Marte. Há quatro anos, a sonda lunar indiana Chandrayaan-1 encontrou evidências de água na superfície do único satélite natural da Terra. Até 2014, o país pretende enviar um veículo motorizado à Lua.

“China e Índia começaram o programa espacial por volta dos anos 1960, logo depois do Brasil, na década de 1940, e já têm resultados muito relevantes porque tiveram uma cadência no nível de investimentos e também inseriram a indústria aeroespacial no modelo de desenvolvimento. É um bom caminho para o Brasil”, recomenda Flávia Schimidt, do Ipea.

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