Ramona Ordoñez e Bruno Rosa
RIO – Doze anos após sua descoberta, o pré-sal brasileiro se tornou a fronteira petrolífera mais atraente do mundo. A redução de custos proporcionada pelos avanços tecnológicos empreendidos pela indústria no país e os elevados índices de produtividade dos campos fizeram da área nas bacias de Santos e de Campos mais competitiva que os badalados shale gas e tight oil — como são chamados o óleo e gás não convencional dos Estados Unidos —, que chegaram a ser vistos como uma revolução de impacto global.
Segundo especialistas, a produção no pré-sal é economicamente viável mesmo se o preço do petróleo cair a US$ 35. Hoje, a cotação do barril está em torno de US$ 78 no mercado internacional.
Já no caso do petróleo não convencional nos EUA, só vale a pena com o preço do petróleo em US$ 66, segundo a consultoria Ryad Energy. A produção a partir das areias betuminosas do Canadá, outra área considerada uma nova fronteira global do petróleo, só compensa com o barril a partir de US$ 63.
Segundo consultores, o pré-sal vai atrair ainda mais a atenção das petroleiras em todo o mundo. A expectativa é que o leilão do excedente da cessão onerosa (acordo pelo qual a Petrobras adquiriu, em 2010, o direito de explorar 5 bilhões de barris numa área do pré-sal que se revelou com potencial maior), previsto para 2019, seja o maior do mundo, com arrecadação de no mínimo US$ 25 bilhões (cerca de R$ 100 bilhões).
Foi justamente a atratividade crescente do pré-sal que levou a lances bilionários de empresas como Exxon, Shell, Equinor, além da Petrobras, nos últimos leilões. No dia 28, será realizada a 5ª rodada do pré-sal, com quatro blocos à venda.
PRAZO CAI PARA TRÊS MESES
A sete mil metros de profundidade, o pré-sal já responde por 55% da produção total no país, com 1,82 milhão de barris por dia de óleo e gás, diz a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Um poço que fica no campo de Mero, na área de Libra (Bacia de Santos), já é o maior produtor mundial no mar, com a extração de 38,8 mil barris por dia de petróleo. A alta produtividade por poço no pré-sal, cuja média é de cerca de 30 mil barris por dia, supera a de outras áreas de exploração marítima. É quatro vezes maior que no Golfo do México e no Mar do Norte, na Europa.
‘‘Perdemos cinco anos discutindo a nova lei do petróleo, que criou a partilha e criou restrições para participação privada’’
– Edmar Almeida
Economista da UFRJ
Para o economista Edmar Almeida, do Grupo de Economia da Energia do Instituto de Economia da UFRJ, o pré-sal é hoje a mais importante região petrolífera do mundo. A elevada produtividade dos poços e a forte redução de custos que vem sendo obtida nos últimos anos estão tornando sua exploração cada vez mais competitiva:
— O pré-sal vem sendo beneficiado pelo desenvolvimento de vários projetos em sequência, o que otimiza os sistemas. Outro ponto de redução de custos é a padronização dos projetos adotada pela Petrobras, permitindo maiores ganhos.
Segundo Almeida, se o Brasil não tivesse ficado cinco anos (de 2008 a 2013) sem leilões nas áreas do pré-sal, período no qual se discutiu a regulamentação da sua exploração, a produção poderia ser ainda maior agora, gerando mais empregos e arrecadação num momento de crise.
— Perdemos cinco anos discutindo a nova lei do petróleo que introduziu o contrato de partilha e criou restrições para participação privada no pré-sal. Se tivesse ocorrido leilão em 2010, teríamos atraído muitos investimentos, já que o preço do petróleo estava mais alto (a US$ 100 por barril).
Posteriormente, a crise financeira da Petrobras — em meio às denúncias de corrupção reveladas pela Operação Lava-Jato que levaram a empresa a uma baixa contábil bilionária— também atrasou a exploração das primeiras áreas de pré-sal.
Hoje, a inovação tecnológica é um fator que ajuda o país a ganhar mais com a extração de cada barril. Magda Chambriard, consultora da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-diretora-geral da ANP, cita o tempo de perfuração de um poço, que passou de um ano e meio para apenas três meses. É uma forte redução de custos, já que a diária de uma sonda de exploração custa cerca de US$ 350 mil por dia.
— Isso é resultado do uso de tecnologias novas e da curva de aprendizado. Fizemos avanços tecnológicos em diversas áreas, da sísmica à engenharia numa plataforma. As áreas são ainda maiores do que se pensava. Na cessão onerosa, havia e xpectativa de 7,5 bilhões de barris. Hoje, é o dobro — diz Magda.
GANHO DE ESCALA
Como forma de elevar a produtividade e os ganhos, a Petrobras, que sofre com alto endividamento, iniciou uma série de mudanças em sua política de contratações, como a renegociação de contratos com fornecedores, padronização de projetos e encomendas em séries para ganhar na escala.
— Fábricas que recebiam uma encomenda por ano estão com pedidos de 100 compressores e 40 turbinas. Isso permite ganho em escala e o desenvolvimento no Brasil. Há no país uma fábrica que é referência mundial em compressores de gás e turbinas de geração de energia — diz Claudio Makarovsky, presidente da Abespetro, que reúne empresas prestadores de serviço.
Makarovsky observa que o custo para extrair o petróleo do pré-sal do fundo do mar está em torno de US$ 7 por barril, menor que a média mundial, entre US$ 10,8 e US$ 11 por barril. Ele destaca o peso da digitalização nos sistemas de produção para o pré-sal passar a ser considerado um produto de “baixo custo” pela indústria petrolífera global.
— A palavra-chave é tecnologia. A indústria foi convocada a usar a criatividade. O custo para perfurar um poço caiu de US$ 100 milhões para US$ 40 milhões, ou 60% — diz.
Outra frente de aumento de produtividade foi o desenvolvimento de diferentes cursos de especialização para aprimorar o capital humano. Só o Senai formou nos últimos cinco anos cerca de 18 mil pessoas em diversas atividades do setor de petróleo.
— Há cursos, por exemplo, de tecnologias submarinas. Uma empresa mundial está desenvolvendo soluções no Brasil para aplicar em todo o mundo. Temos 26 institutos de inovação e pesquisa no país — destaca Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai.
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Entenda o porquê de o pré-sal ser tão cobiçado pelas petrolíferas
Potencial de recuperação de petróleo e preço elevado do barril explicam interesse
Matéria publicada em 07/06/2018
RIO – As previsões para um bom resultado da 4ª rodada de leilões que a Agência Nacional do Petróleo (ANP), que está sendo realizada na manhã desta quinta-feira no Rio, se explicam pela avaliação de geólogos e especialistas de que o pré-sal é uma das áreas mais cobiçadas por petrolíferas no mundo atualmente. A expectativa é de que as áreas leiloadas tenham, pelo menos, cinco bilhões de barris de óleo recuperável.
Carlos Maurício Ribeiro, do Vieira Rezende Advogados, destaca que as gigantes petrolíferas enxergam o pré-sal como sendo a área de exploração marítima mais atrativa no mundo. Além disso, a geopolítica internacional indica que os preços do petróleo deverão continuar acima de US$ 70 o barril.
Alexandre Calmon, da Tauil & Chequer Advogados, completa que quem vem investir no Brasil na exploração e produção de petróleo não está olhando o curto prazo nem se preocupa coma a questão dos preços dos combustíveis:
— A percepção que se tem do Brasil para investimentos é que o país é muito atrativo para exploração e produção de petróleo. Não há outra área no mundo tão atrativa quanto o pré-sal brasileiro.
Por ser um leilão em regime de partilha, a disputa para arrematar os blocos é decidida por quem oferecer à União o maior percentual de óleo/lucro, que é a parcela do lucro após a amortização de todos os investimentos e custos do projeto.
Segundo o geólogo Pedro Zalán, da ZG Consulting in Petroleum Exploration, dos quatro blocos oferecidos, o mais cobiçado é o Uirapur.
Este bloco, segundo Zalán, tem um potencial de petróleo recuperável que varia entre dois bilhões a três bilhões de barris, considerando um fator de recuperação – quanto que é possível retirar do petróleo existente no subsolo com as tecnologias disponíveis — da ordem de 30%:
— As quatro estruturas são excelentes, com perspectivas ótimas de conter volumes de óleo recuperável muito bons. É o caso do bloco de Uirapuru, que está a norte do Carcará, no qual a Statoil está apostando todas as fichas.