Edição do dia 11 Abril 2004 do Programa Fantástico
Polêmica atômica!
Edição 11/04/2004
“Essas câmeras são da Agência Internacional de Energia Atômica e da Agência Brasil e Argentina de Contabilidade e Controle. Essas caixas são ficam os gravadores das fitas deles para registrar tudo o que entra ou sai. É tudo blindado. Mandaram botar grades nas janelas mais altas. Essa porta é lacrada, a Agência Internacional de Energia Atômica lacra para garantir que não haverá saída de material por aqui”, explica o almirante Alan Arthou, diretor do Centro Tecnológico da Marinha.
Toda esta vigilância é feita nas instalações da Marinha em Iperó, interior de São Paulo, o principal centro de pesquisas nucleares do Brasil.
As usinas nucleares de Angra dos Reis funcionam, atualmente, com urânio enriquecido no exterior. Mas isso vai passar a ser feito na fábrica em Resende, interior do Rio, com tecnologia desenvolvida em Iperó. Daí a preocupação da Agência Internacional de Energia Atômica e do governo americano: quem faz combustível pode, em tese, fabricar uma bomba atômica.
Tapumes escondem o segredo mais importante do programa nuclear brasileiro: ali estão instaladas as ultracentrífugas, máquinas capazes de enriquecer urânio. Equipamentos como esses estão sendo instalados em Resende. É este segredo que os inspetores internacionais querem conhecer – e o governo brasileiro não quer revelar.
O diretor do Centro Tecnológico da Marinha destaca que a constituição brasileira só permite o uso da energia nuclear para atividades pacíficas. E afirma que o controle internacional, que inclui inspeções de surpresa, é mais do que suficiente:
“Não há como fraudar este controle”, garante o almirante.
Para ser enriquecido, o urânio, em estado gasoso, é colocado em cilindros.
“Sai nos tubos, vai para aquelas outras centrífugas. Quando volta, volta em duas partes, uma enriquecida, outra empobrecida”, mostra o diretor do Centro Tecnológico da Marinha.
Um processo controlado pelos fiscais estrangeiros:
“O quanto entrou menos o quanto restou naquele lá tem que ser igual à soma desses cilindros aqui”, observa Alan Arthou.
Inspetores internacionais podem conferir isso?
“Eles têm acesso a isso, têm acesso a esses números também. Eles sabem o quanto foi processado, e que grau de enriquecimento está”, garante o Almirante Arthou.
Os fiscais têm ainda um carrinho-espião: uma máquina que serve para encontrar algum depósito clandestino de urânio.
“Exatamente, se nós estamos escondendo um cilindro de urânio aí dentro”, exemplifica Williams Roberto Baldo, engenheiro químico.
Para alguns especialistas, como o físico José Goldemberg, essa tecnologia não tem nada de exclusiva. Mas o almirante Alan discorda.
“O único país que desenvolveu ultracentrífugas por levitação magnética, conseqüentemente, diferente das outras centrífugas, fomos nós, brasileiros”, garante Alan.
Para o militar, as pressões externas podem esconder interesses comerciais: “Existe bastante segredo tecnológico a ser preservado”, revela ele.
Segredos 11/04/2004 Na reserva desde 1994, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva coordenou o chamado Projeto Nuclear Paralelo, que permitiu ao Brasil dominar a tecnologia nuclear. Em uma entrevista, ele conta segredos do programa, que começou em 1979, ainda durante o regime militar, e ficou em sigilo durante muitos anos. O principal objetivo era a construção de um submarino nuclear, projeto que continua no Centro de Aramar, em Iperó. “Como dificilmente conseguiríamos comprar no mercado internacional combustível para a propulsão de submarino nuclear, a única opção que sobrava para a Marinha era tentar desenvolver no país, em associação com outros órgãos de pesquisa, todas as etapas do ciclo nuclear”, lembra o almirante Othon. “Era fundamental que, na fase inicial do projeto, até que ele se consolidasse, fosse feito de forma discreta”, complementa. O almirante faz uma confissão: na Áustria, no início dos Anos 80, ele mentiu para conseguir comprar uma liga metálica usada na fabricação da centrífuga. “Eu consegui comprar na Áustria um pouco daquele aço dando a desculpa que era para um míssil. Eu não declarei que era para centrífuga. Se declarasse, ele não vinha”, acredita Othon Luiz Pinheiro da Silva. Fabricação da centrífuga “O primeiro cilindro eu fabriquei no arsenal de Marinha. Tinha um mestre que o apelido dele era Pedro Cachaça, que foi fundamental na solução técnica do problema. Não sei o porquê do apelido, era um virtuose como mestre”, elogia. O enriquecimento de urânio “Em 1982, começamos a fazer experimentação e, em setembro de 82, conseguimos a primeira experiência de enriquecimento com sucesso”, comemora Othon. Para garantir o desenvolvimento das pesquisas, o anúncio do enriquecimento só seria feito pelo então presidente José Sarney em 1987, cinco anos depois. Pressões internacionais Para despistar, o almirante Othon mandou recuperar três centrífugas alemãs, trazidas para o Brasil na década de 50. “Na época houve uma visita do Kennedy, embaixador plenipotenciário norte-americano na agência internacional. Ele perguntou se a gente estava desenvolvendo… Eu disse que sim. E mostramos para ele todo o nosso desenvolvimento, aquelas centrífugas antigas. E ele saiu tranqüilo… Nós não mentimos, demos uma verdade parcial”, defende-se o almirante. “Houve pedidos de inspeção, os pedidos foram negados. Tinha um ‘adido científico’ do consulado americano aqui em São Paulo, que vivia pedindo”. Buraco de cachimbo Na década de 80, os jornais noticiaram a descoberta de um buraco de 320 metros numa base da Aeronáutica na Serra do Cachimbo, no Pará. O buraco era compatível para um teste de bomba atômica. O almirante Othon desconversa. “Uma vez, uma cientista na USP me disse: o seu programa está lindo, o senhor explica tudo, mas o que o senhor tem a dizer sobre o buraco de Cachimbo? Minha senhora, a única coisa que posso acrescentar é que tenho certeza de que aquele buraco é virgem… Só isso”, brinca Othon. |