Virgínia Silveira
Após se firmar como referência mundial no desenvolvimento de foguetes de sondagem suborbital (destinado ao lançamento de experimentos científicos e tecnológicos em ambientes de microgravidade de curta duração), o Brasil enfrenta agora o desafio interno de industrialização do seu produto, o veículo de sondagem VSB-30, utilizado pelas mais importantes agências espaciais da Europa.
"Mais de 85% do foguete já é produzido na indústria brasileira, mas ainda não há uma empresa que faça o papel de gestão e integração de todo o processo", diz o vice-diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), órgão de pesquisa e desenvolvimento do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, coronel aviador Avandelino Santana Junior.
Desde o início do projeto, em 2001, o VSB-30 realizou 14 lançamentos, sendo dez a partir do centro de lançamento de Esrange, localizado a 200 km do Círculo Polar Ártico, próximo à cidade de Kiruna, na Suécia, e três no Brasil, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA).
Em fevereiro de 2012, o VSB-30 lançou ao espaço cinco experimentos da ESA (Agência Espacial Europeia). O foguete conseguiu permanecer seis minutos em ambiente de microgravidade nesta missão, conforme o previsto.
O assunto despertou o interesse de algumas empresas brasileiras, entre elas, a Avibras, Orbital Engenharia, Cenic e Equatorial. Esta última é controlada pela divisão de defesa e espaço do grupo Airbus.
O presidente da Avibras, Sami Hassuani, disse que industrializar o foguete VSB-30 é uma das possibilidades estudadas pela empresa. O foguete, segundo ele, poderia ser feito em conjunto com todos os interessados. Neste caso, o IAE e as demais fornecedoras do foguete.
O diretor-presidente da Equatorial, César Ghizoni, disse que tanto a sua empresa quanto outras duas fornecedoras do foguete, a Orbital Engenharia e a Cenic, também gostariam de retomar a questão da industrialização dos foguetes de sondagem do IAE.
A Agência Espacial Brasileira (AEB) chegou a anunciar, há cerca de um ano, que o governo brasileiro estaria articulando a criação de uma empresa integradora para a área de foguetes.
Esta empresa, segundo informação dada na época pelo presidente da AEB, José Raimundo Braga, seria constituída por meio de uma parceria público-privada, nos moldes da Visiona Tecnologia Espacial, uma associação entre a Embraer e a Telebras, para a construção do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC).
O diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da AEB, Petrônio Noronha de Souza, disse ontem que a entidade fará um estudo de viabilidade econômica para o projeto de industrialização do VSB-30. O estudo, que deve ser iniciado em breve, será elaborado em conjunto com a ABDI (Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial).
Hassuani, da Avibras, ressalta que também gostaria de participar da continuidade do desenvolvimento de outro foguete do programa espacial brasileiro, o VLM (Veículo Lançador de Microssatélites), em conjunto com o IAE.
"A participação da Avibras em ambos os programas, segundo o executivo, facilita a viabilidade econômica dos empreendimentos". Ele diz que os dois programas juntos promoveriam uma grande sinergia e redução de custos.
A Avibras já está em contato com a Agência Espacial Alemã (DLR), que participa do desenvolvimento do VLM e também da empresa alemã Bayern-Chenie, contratada para o projeto da parte estrutural do propelente do foguete.
Mais cautelosa, a Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT), que controla a Mectron, empresa responsável pelo fornecimento dos sistemas da rede elétrica do foguete VLS, informou que desconhece qualquer iniciativa da AEB e do IAE em relação à industrialização do VSB-30 e que não recebeu nenhuma informação sobre a existência de uma demanda nesse sentido.
O diretor da ODT, André Luiz Paraná, disse, no entanto, que a empresa teria muito interesse em participar de uma possível retomada desse processo de industrialização. "Nós queremos fazer parte de tudo que envolve absorção de tecnologia estratégica para o país e que promova o desenvolvimento da base industrial de defesa brasileira", afirmou. A empresa, segundo Paraná, já demonstrou que tem capacidade e estrutura para isso.