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O partido da coca e as fronteiras

Editorial

Reportagem do GLOBO no último domingo mostrou o grau crescente de atuação e organização dos plantadores de folhas de coca e dos produtores em países andinos que compartilham oito mil quilômetros de fronteiras com o Brasil. Um dos exemplos disso é o fato de um líder cocalero, Evo Morales, ser o presidente da Bolívia desde 2006, com mandato até 2015.

Outro é a fundação do primeiro partido político cocalero peruano, em agosto, em Lima, promovido por organizações de produtores do Peru e entidades similares de Colômbia e Bolívia. Para o presidente eleito do Peru, Ollanta Humala, os cocaleiros "podem criar um partido político, a lei permite".

O cultivo da folha de coca é uma importante atividade econômica nesses países, onde 97% da produção destinam-se ao narcotráfico. Depois dos investimentos dos EUA no Plano Colômbia para erradicação das plantações, este país está perdendo a liderança na produção mundial de coca e de cocaína para o Peru. Mas o panorama geral é o mesmo: lucros astronômicos no percurso entre a plantação e a venda da cocaína nas ruas das grandes cidades no mundo.

Daí a importância de o Brasil cuidar da vigilância de suas fronteiras, já que o país hospeda hoje algumas das principais rotas de tráfico de cocaína para os EUA e a Europa. Uma parte considerável da droga fica aqui, criando os problemas conhecidos.

A vigilância das fronteiras é imenso desafio. Como disse em recente entrevista ao GLOBO o general Enzo Martins Peri, comandante do Exército, são "16,8 mil quilômetros de fronteira seca com dez países vizinhos. Está entre as maiores do planeta. É o dobro, por exemplo, das fronteiras dos EUA com o Canadá e com o México, que somam 8,8 mil quilômetros".

Para ajudar a força terrestre no imenso trabalho de patrulha e vigilância, o Exército contará com o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), a ser apresentado em setembro, com cronograma de implementação em dez anos a um custo estimado de R$9,6 bilhões. Ele vai incorporar alta tecnologia, como radares de curto e longo alcance, equipamentos de visão noturna, torres de observação e transmissão de sinais, câmeras óticas e termais, imageamento por satélites, sistemas de treinamento e simulação, veículos aéreos não tripulados (vants), blindados para proteção de fronteiras, veículos de apoio, embarcações especiais.

Segundo o general Enzo Peri, o Sisfron "abrange distâncias continentais e vai lidar com deficiências de infraestrutura, afastamento dos grandes centros, diversidades regionais e, principalmente, com a permeabilidade das nossas fronteiras, desafios que já enfrentamos hoje".

É uma luta desigual. Os cartéis de narcotraficantes dispõem de somas imensas para aplicar em novas táticas de despiste e da audácia própria dos criminosos para fazer a droga chegar aos consumidores. Já o governo, e as Forças Armadas em particular, tem recursos limitados para investir. Quando estiver em ação, o Sisfron ajudará a proteger as fronteiras. Mas dez anos é um longo prazo, durante o qual o país precisará de um renovado esforço em homens e equipamentos para reduzir substancialmente o trânsito de drogas por seu território e sua oferta nas cidades.

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