General-de-Exército da Reserva, Carlos Alberto Pinto Silva,
ex-comandante de Operações Terrestres (COTer), do Comando Militar do Sul,
do Comando Militar do Oeste, e Membro da Academia Brasileira de Defesa.
O Brasil desponta como um país que, gradativamente, vem alcançando papel de destaque no concerto das nações, portanto, não poderá se manter alheio à necessidade de, o quanto antes, dar início ao processo gradual que possibilite a transformação do setor de defesa, de modo a ajustá-lo à sua estatura político-estratégica de país potência, daí o imperativo de uma Estratégia Nacional de Defesa que atenda a essa condicionante.
Nada a reparar a respeito do conceito, uma vez que, dentre outras coisas, as Forças Armadas existem, e devem se manter sempre prontas, para assegurar a consecução dos Objetivos Nacionais Permanentes e para respaldar as decisões soberanas da Nação. Assim, a experiência histórica mostra, quanto maior a estatura de um Estado, mais poderoso se apresenta o seu braço armado. Em outras palavras, a “estatura político-estratégica” de uma nação baliza os procedimentos destinados a dotá-la de um poderio bélico adequado.
Ao deparar com um problema antigo, o descompasso do Poder Militar do Brasil em relação à sua Estatura Política e Estratégica, germina o perigo de se ter respondido com uma estratégia que levou muito tempo para ser formulada e deve ser implementada em curto, médio, e longo prazo (horizonte de vinte e cinco a trinta anos), e é apoiada em capacidades inadequadas, por falta de recursos militares (orçamentos, efetivos, material de emprego militar, logística, e etc.).
As principais instituições de Poder do país estão defasadas em relação às mudanças e transformação que acontecem a sua volta. O governo tem uma grande dificuldade de ajustar-se ao compasso e as exigências dos tempos modernos, essa dificuldade cria uma velocidade e ritmo na execução de novas estratégias muito desigual com as necessidades estratégicas do país e com o passo acelerado que uma economia moderna exige.
Muitos no planejamento estratégico são vitimados por sua própria retórica, só se vence a batalha com uma estratégia superior. Vence por pensar de maneira mais inteligente, não por mais tempo, vence quem dissemina suas estratégias no período de tempo mais curto, não em horizontes longínquos.
É, ainda, fundamental ter o conceito da definição da transformação no setor de defesa que é de “antecipar-se a mudanças naturais”, o que implica reconhecer que há mudanças que transcendem a vontade dos homens e que é necessário acompanhá-las.
Trata-se de um processo destinado a possibilitar que o país se antecipe às mudanças naturais em assuntos da esfera militar, de maneira rápida e objetiva.
A atual conjuntura não envolve apenas questões tecnológicas e econômicas, mas, também, profundas mudanças política, social, cultural, e geopolítica.
No Brasil atualmente – com a completa falta de recursos militares – há muito “estrategismo jornalístico” da área de defesa do governo, com muita fumaça semântica sem fogo estratégico, dessa forma, hoje no Brasil, mais do que nunca, “é preciso fazer com que os trens cumpram seu horário”.
Para ser possível defender a nação e cumprir sua missão constitucional, as Forças Armadas devem estar sempre em condições de atuar com eficácia, pois quando a necessidade de emprego surge não há tempo para improvisações nem oportunidade para arrependimentos tardios: é necessário empreender ações decisivas, coordenadas e objetivas de preparo e emprego, criteriosamente planejadas desde o tempo de paz.
O descompasso do Poder Militar do Brasil com sua Estatura Política e Estratégica, ônus imposto à nação, não pode pagar o “tributo do tempo”.
Velhos problemas e novos desafios: risco de generalidades.